MURILLO CONSTANTINO/ag. istoé

Ribenboim (à esq.) e Izay em fotomontagem: executivos vão comandar a versão mais aberta do Yahoo! na América Latina e no Brasil. Ao abrir seu portal para concorrentes, a empresa quer elevar seu próprio tráfego – e sua receita

Há 65 milhões de anos, um asteroide colidiu com a Terra e eliminou os dinossauros. Os enormes animais não foram capazes de se ajustar às novas condições do clima e, em pouco tempo, desapareceram. Hoje, a história pode estar se repetindo no universo corporativo. O Yahoo!, um dos pioneiros da era da internet, está a perigo. Anestesiada pelos gigantescos ganhos com seu negócio de venda de anúncios, a companhia perdeu o ímpeto inovador e, de quebra, mercado e prestígio para o Google. Agora, o Yahoo! se reinventa e essa nova fase está prestes a desembarcar no Brasil. Em uma das mais radicais mudanças em seu modelo de negócios, o portal cederá espaço em suas páginas para outras empresas do mundo digital, inclusive concorrentes, importando a estratégia lançada recentemente no Exterior. A intenção é replicar a parceria recentemente anunciada com a Microsoft – mesmo com arquirrivais, como o Google. Basta, para isso, que essa outra empresa ofereça uma tecnologia melhor do que a utilizada pelo próprio Yahoo!. Para a Microsoft, por exemplo, foi vendida toda a tecnologia de busca. Esse mecanismo é fundamental para a distribuição de links patrocinados, uma das atividades mais lucrativas na internet. “Parcerias assim liberam recursos dentro do Yahoo! que podem ser direcionados para o que fazemos de melhor”, explica Guilherme Ribenboim, presidente do Yahoo! para a América Latina. Para o professor de sistemas de informação da Faculdade de Economia e Administração da USP, Antonio Vidal, o Yahoo! não tinha outra saída senão adotar medidas tão radicais para tentar sobreviver. “A questão é de vida ou morte para o Yahoo!. Se essa reformulação não der certo, a empresa pode desaparecer”, diz Vidal. “Mas as mudanças, por melhores e mais bem-sucedidas que sejam, podem ter vindo tarde demais.”

A filial brasileira tem papel importante para evitar que isso aconteça. Uma de suas contribuições é o desenvolvimento de um novo produto, uma espécie de Twitter turbinado. Batizado provisoriamente de “Meme”, o serviço é, segundo André Izay, presidente da companhia no Brasil, um microblog com funções que vão além da simples postagem de texto. Ele também permitirá a publicação de fotos, vídeos e músicas. Usuários convidados pela empresa no País já estão utilizando o Meme numa fase preliminar de testes. “É uma tecnologia desenvolvida localmente, mas que, se realmente for aprovada, será lançada como um serviço mundial”, explica Izay.

            Martin Sundberg

i138818.jpg

Seleção Natural: Carol (abaixo) substituiu o fundador Yang à frente do Yahoo!, em janeiro. Desde então, ela descontinuou serviços, selou o casamento com a Microsoft e abriu caminho para novas parcerias


O investimento nesse tipo de “produto caseiro” convive com o chamado a parceiros externos. Isso significa abrir mão de espaço nobre no filé de sua operação. Apenas em junho deste ano, o portal Yahoo! foi visitado por mais de 94 milhões de pessoas diferentes, segundo a consultoria Nielsen. “Não podíamos mais simplesmente fingir que não há outras empresas na internet e negar que nossos usuários usam serviços desses concorrentes”, explica Ribenboim. Segundo a empresa de análise de tráfego de internet Alexa.com, 5,4% dos usuários que acessam o portal do Yahoo! nos EUA acessam na sequência o Google. Em segundo lugar nessa lista, aparece o Facebook. Segundo Ribenboim, ao abrir sua plataforma, o Yahoo! tenta criar receita a partir do nada, seduzindo os usuários pela praticidade de ter tudo o que precisa – mesmo serviços de concorrentes – em apenas um portal. “E, criando e oferecendo produtos interessantes, esses usuários cada vez mais vão usar nossos serviços também”, diz.

24% foi, aproximadamente, a valorização das ações do Yahoo! na bolsa eletrônica Nasdaq, desde a chegada de Carol à empresa

Para o analista Ray Valdes, vice-presidente de buscas da consultoria Gartner, essa é uma estratégia correta, mas que implica riscos.
“O Yahoo! precisa se adequar ao novo momento da internet e isso exige parcerias com outros portais”, diz ele. “Mas trata-se de uma manobra arriscada.” Explica-se: com esse modelo o Yahoo! pode gerar mais tráfego para os concorrentes do que para si próprio. Os executivos da companhia discordam. “Dependemos de parceiros desde o início de nossas operações. É algo que funciona, que sempre funcionou. Certamente não é algo novo e, portanto, não vemos como um ponto fraco em nossa estratégia”, diz Tapan Bhat, um dos vicepresidentes do Yahoo!, em entrevista à DINHEIRO. “Queremos ser o centro da vida online das pessoas. Por isso vamos continuar atrás de oportunidades de aquisições e parcerias para atingir essa meta.”

A sequência de parcerias tem a marca da executiva Carol Bartz, que, em janeiro deste ano, substituiu o lendário fundador do Yahoo!, Jerry Yang, no comando da companhia. “Ela chegou à empresa para reavaliar os negócios do Yahoo! e foi o que fez. Foi dela a decisão de descontinuar serviços como o GeoCities (de hospedagem gratuita de sites), insistindo que é preciso ter foco”, diz Ribenboim. A reação à estratégia desenhada por Carol apresenta sinais contraditórios. Desde sua posse, o tráfego no portal caiu quase pela metade, segundo o Alexa.com. Em janeiro, a fatia da empresa no total de visitas (pageviews) no mundo era de cerca de 4,5%. Na semana passada, essa participação estava na casa dos 2,4%. Já as ações, negociadas na Nasdaq, subiram cerca de 24% no mesmo período. Segundo a analista sênior de softwares e aplicativos da consultoria IDC, Mariana Zamoszczyk, o mais importante para o Yahoo! é apresentar inovação.

“Essa estratégia de parcerias e abertura é sua última cartada. A empresa tem que fazer algo que garanta seu futuro. É a hora de ser agressivo”, diz. Para ela, o Yahoo! tem a vantagem do tamanho, graças à sua grande base de usuários. O que resta ao Yahoo! é torcer para que tenha escolhido o caminho certo. Afinal, o “asteroide” Google já caiu na internet. A dúvida é se o último dinossauro da internet conseguirá se adaptar e competir no novo ambiente de mercado criado pelo Google.