O VENDEDOR ANUNCIA as características: ?São três suítes ? uma delas com closet ?, ampla sala de estar com home theater, cozinha equipada, varanda e vista para o mar?. Logo ao lado, outro representante comercial avisa que está vendendo um produto que tem, além das tradicionais disposições, um teto retrátil no meio da sala. Há também um modelo com dois quartos e outro exemplar com apenas uma suíte, ideal para quem é solteiro. Em tempos de economia aquecida, parece mais um desses salões imobiliários que agitam a cidade de São Paulo. Lego engano. Os produtos à venda não são feitos de cimento e tijolo. São, na verdade, os barcos mais sofisticados que existem no Brasil. A maioria deles foi apresentada no São Paulo Boat Show, o maior salão náutico indoor da América Latina, realizado na capital paulista, entre os dias 26 de setembro e 1º de outubro, no espaço Transamérica Expo Center. No evento, que, de acordo com os organizadores, movimentou uma cifra estimada em R$ 160 milhões, ficou evidente uma transformação da indústria náutica: cada vez mais os barcos estão se convertendo em casas flutuantes. ?Hoje, os clientes exigem muito mais conforto do que exigiam anteriormente?, diz Allyson Yamamoto, gerente de marketing da fabricante de barcos de luxo Intermarine. ?A tendência é que as pessoas não se sintam dentro de um barco, mas sim em casa.?

Para que isso se torne realidade, os principais estaleiros estão investindo no desenvolvimento de novos projetos. A brasileira Schaefer Yachts, por exemplo, vai construir um centro de design para criar barcos com soluções e decoração 100% nacionais. ?As outras empresas trazem tudo pronto do Exterior. Fazemos o oposto?, afirma Márcio Schaefer, dono do estaleiro. ?Os barcos produzidos pelos europeus privilegiam o espaço interno, são barcos fechados, escuros, feitos para o frio. Nós fazemos barcos para os brasileiros, damos ênfase à vista externa, aos espaços de convivência, mais adequados ao nosso clima?, explica Schaefer. Como exemplo, ele apresenta o Phanton 500 Fly, barco de 50 pés, o equivalente a 15 metros. Ao custo de R$ 2,65 milhões, o comprador terá a seu dispor três cabines, sala, cozinha e solário no flybridge (parte superior externa da embarcação). ?Com o aumento da renda, os consumidores brasileiros estão ficando mais refinados e mais exigentes?, diz Marcos Dottori, um dos organizadores do evento.

De olho nisso, a Intermarine fechou um acordo com a iHouse, empresa que faz automação de casas inteligentes, para transportar a tecnologia para os barcos. O modelo 680 Full foi o escolhido da marca para receber o projeto. O chuveiro, por exemplo, desliga automaticamente se a água doce estiver acabando, e o motor do barco pode ser visualizado por meio do celular. ?Para agradar ao consumidor, o barco de hoje tem que ser bonito, prático, andar bem e ter segurança, por isso o maior desafio é fazer um uso racional dos espaços, sempre se aproveitando da tecnologia?, explica Allyson Yamamoto, da Intermarine, que também apresentou os modelos 430 Full e 68S, cujo teto da sala de estar é retrátil. As novidades tecnológicas e as soluções arquitetônicas são cruciais para quem pretende vencer nesse mercado tão competitivo. Afinal, são vendidos quatro mil barcos por ano no Brasil. ?Já estamos sofrendo com falta de produto?, diz Márcio Christiansen, CEO da Ferreti no Brasil. Detalhe: barcos da empresa como o Pershing 64 e o Pershing 80 custam entre 2 milhões de euros e 4 milhões de euros. Quer um? Os clientes que pretendem comprar um barco têm de esperar até um ano para receber o produto.