15/03/2018 - 17:07
O sequestro, em 16 de março de 1978, do líder da Democracia Cristã Aldo Moro por um comando das Brigadas Vermelhas e seu assassinato em 9 de maio atormentam a memória coletiva dos italianos e, 40 anos depois, muitos dos mistérios que cercam o caso ainda não foram resolvidos.
“Foi o ’11 de setembro’ da Itália. Os 55 dias que o sequestro de Moro durou mudaram o rumo que a República italiana estava para tomar”, escreveu Ezio Mauro, diretor do jornal La Repubblica, ao apresentar a série de artigos dedicados à trágica morte do político.
Em 16 de março, pouco depois das nove da manhã, Aldo Moro, de 62 anos, defensor do “compromisso histórico” entre as duas principais forças políticas, a DC e o Partido Comunista Italiano (PCI), foi sequestrado em Roma por um comando das Brigadas Vermelhas, organização de extrema esquerda que abateu o motorista e os membros de sua escolta.
Em 9 de maio, 55 dias depois, o cadáver do cinco vezes chefe de governo foi encontrado crivado de balas no porta-malas de um Renault 4 vermelho abandonado em uma ruela emblemática da capital, na metade do caminho entre as sedes centrais da DC e do Partido Comunista.
O crime sacudiu a opinião pública italiana e abriu um período de crise institucional.
Moro foi sequestrado quando se dirigia à Câmara de Deputados para votar a moção de confiança de um novo governo depois de ter pactado o “compromisso histórico”, ou seja, o apoio dos comunistas liderados por Enrico Berlinguer a um governo de coalizão que enfrentasse a situação econômica e lutasse contra o terrorismo.
Em sua “prisão popular”, Moro escreveu cem cartas à sua família, aos dirigentes demo-cristãos, como Giulio Andreotti, e até ao papa Paulo VI.
Implorava negociações com os sequestradores, que por sua vez pediam a libertação de vários detidos.
– Sacrificar Moro –
“A partir de 1975, as Brigadas Vermelhas optaram por uma estratégia de luta frontal contra o Estado italiano. As negociações nunca começaram e depois de 55 dias, decidiram executar Moro, após ele ter sido julgado por um ‘tribunal popular’ composto por eles mesmos”, explicou o historiador Philippe Foro, autor de “L’Affaire Moro” (Ed Vendemiaire).
“Moro tinha muitos inimigos, estre eles os que não aprovavam sua política de diálogo, contrários ao ‘compromisso histórico’ com os comunistas, também dentro da Otan e nos serviços secretos italianos”, explicou o acadêmico.
Muitos historiadores e testemunhas dessa época acreditam que não foi feito todo o possível para libertar Aldo Moro, que o Estado italiano tomou a fria decisão de “sacrificar” o político.
Algumas teorias asseguram que as Brigadas Vermelhas na realidade eram uma formação fascista disfarçada de esquerda, outros falam de lojas maçônicas, de espionagem, de um ato em meio à Guerra Fria entre a União Soviética e os Estados Unidos.
“Para os Estados Unidos, o peso do Partido Comunista em um dos países mais importantes do Mediterrâneo era inaceitável e para os soviéticos o modelo de ‘compromisso histórico’ era uma ameaça”, resumiu à AFP em uma entrevista de 2014 Ferdinando Imposimato, o juiz que instruiu o caso Aldo Moro, que morreu em janeiro passado.
Os membros do comando sequestrador tiveram vários destinos. Alguns foram detidos e condenados à prisão perpétua, mas muitos de seus anos de reclusão foram perdoados em virtude de uma lei aprovada em 1982. Alguns fugiram para o exterior e outros escreveram livros e ensaios.
A viúva Eleonora faleceu em 2010 sem nunca ter perdoado os líderes da Democracia Cristã, que acusou de violarem os valores cristãos que defendiam, ao se negarem a salvar a vida em nome da razão de Estado.
Em uma carta datada em 8 de abril de 1978 dirigida a sua esposa, Moro escreveu: “Meu sangue cairá sobre eles”.
Quatro décadas depois, as forças políticas da Itália estão buscando de novo uma saída ao bloqueio após as legislativas de 4 de março.
O ministro da Cultura, Dario Franceschini, prestou homenagem a Aldo Moro e lembrou “que tinha conseguido convencer os dois ganhadores das eleições, que tanto na época como hoje não tinham obtido a maioria no parlamento para governar. O de antes vale para o hoje”, apontou.