30/01/2021 - 10:55
A pandemia de covid-19 mostra uma tendência nítida nos Estados Unidos nas últimas duas semanas: novos casos e hospitalizações por coronavírus caem, embora as infecções diárias ainda sejam mais elevadas do que no verão boreal.
Segundo especialistas, as razões para essa melhora são os gestos de prevenção (uso de máscara, distanciamento físico) e o fato de o efeito das festas de fim de ano estar passando.
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Além disso, pelo menos em algumas áreas do país, o vírus já contaminou grande parte da população.
Os cientistas lembram, porém, que a situação é frágil e alertam que um relaxamento muito rápido das restrições pode causar um novo pico na epidemia que matou mais de 430 mil pessoas nos Estados Unidos.
Depois de uma queda nos casos durante o verão boreal, as infecções aumentaram no outono quando, com a queda das temperaturas, as pessoas começaram a se reunir em espaços fechados onde baixavam a guarda.
Depois vieram as festas de Ação de Graças, Natal e Reveillon e os encontros entre familiares ou amigos, que provocaram uma nova onda da epidemia.
Em meados de janeiro, os Estados Unidos registravam uma média de mais de 250.000 casos e mais de 130.000 hospitalizações por dia, de acordo com dados da plataforma colaborativa Covid Tracking Project.
Mais de 3.000 pessoas ainda morrem por covid-19 todos os dias, mas a curva de contágio está no caminho certo.
“O período de viagens de que o vírus se aproveitou está quase no fim”, explicou à AFP Amesh Adalja, do centro Johns Hopkins para Segurança Sanitária.
– Prudência –
A propagação de epidemias está ligada ao comportamento humano. Natalie Dean, especialista em doenças infecciosas da Universidade da Flórida, diz que constatou que a população “entra em ação quando o número” de infecções aumenta em sua região.
E cita os exemplos da Flórida, Texas e Arizona, três estados que são muito frouxos com medidas de prevenção, onde as infecções foram interrompidas graças a “medidas políticas ou pequenas mudanças de atitude”.
Brandon Brown, especialista em saúde pública da Universidade da Califórnia, aponta outro motivo: “a diminuição da desinformação” sobre a pandemia, já que “é difícil negar a realidade das mais de 400 mil mortes” no país.
Mas, embora a população esteja mais cautelosa com o aumento de casos, o contrário acontece quando as infecções diminuem, alertam os especialistas.
Os Estados Unidos registraram cerca de 25 milhões de casos confirmados de coronavírus, mas as infecções reais podem ser muito maiores: entre 100 e 125 milhões de pessoas, de acordo com Jay Bhattacharya, professor de medicina em Stanford.
A campanha de vacinação em lares de idosos provavelmente contribuiu para a queda nas hospitalizações e mortes por covid-19, diz o Dr. Adalja.
E está comprovado que as pessoas infectadas apresentam alto grau de imunidade por um certo tempo. Cerca de 21 milhões de pessoas também garantiram uma imunização parcial após terem recebido pelo menos uma dose da vacina.
No total, isso poderia representar quase 40% dos 330 milhões de habitantes, mas o país ainda está longe da meta de 85% para alcançar a verdadeira imunidade de rebanho.
Alguns estados de baixa densidade populacional, entretanto, chegam perto dessa imunidade.
Jeffrey Shaman, epidemiologista da Universidade de Columbia, fez um modelo sobre o impacto do coronavírus e considera que “entre 50 e 70% da população de Dakota do Norte foi infectada”.
Um caso extremo, mas o Dr. Shaman explica que, entre o aumento da imunidade da população e o atual respeito às medidas sanitárias, a epidemia “deveria agora ser contida”.
Como o Dr. Bhattacharya, Shaman teme que as medidas preventivas caiam na primavera, quando o deslocamento da população aumentar novamente.
Também deve-se levar em consideração as mutações do vírus. As variantes britânica, brasileira e sul-africana, que são mais contagiosas, podem aumentar o limite necessário para garantir a imunidade do rebanho. E, no caso da África do Sul, causa uma ameaça mais séria de reinfecção.