E uma sinfonia bilionária. Milhares de máquinas barulhentas e coloridas se apinham nos amplos salões. O apostador escolhe uma delas, insere a moeda no aparelho, puxa a alavanca e torce. Três figuras iguais despontam no visor. O tilintar das moedas caindo na bandeja metálica é ruidoso. É difícil parar. Há quem tente escapar do jogo com uma caminhada no Boardwalk, uma espécie de calçadão na beira da praia, para curtir a vitória ? e evitar o retorno às apostas. É missão complicada diante do apelo feérico de Atlantic City.

Por todos os lados letreiros luminosos piscam, cartazes mostram as novas modalidades e prêmios milionários são anunciados em auto-falantes. Tudo para seduzir mais um dos 35 milhões de turistas que desembarcam na cidade todos os anos. No início do mês, um novo cassino abriu suas portas. O Borgata, do grupo MGM Mirage, erguido em parceria com o Boyd Gaming, consumiu investimentos de US$ 1,1 bilhão. Atlantic City não pode parar.

É o avesso do que todo bom jogador deveria saber fazer: interromper as apostas para não falir. O escritor russo Fiodor Dostoievski já ensinou: ?O verdadeiro jogador se vicia mesmo em perder?. Os Estados Unidos são o país da jogatina. O jogo movimenta cerca de US$ 60 bilhões e Atlantic City é o playground dos adultos na costa Leste. O Borgata fincou sua bandeira para desbancar os outros cassinos da região, como o Taj Mahal, o Trump Plaza, o Caesar?s Palace e o Hilton. Ao todo, são 12. ?O nosso objetivo é abrir 18 empreendimentos na cidade?, disse à DINHEIRO James Mullin, vice-presidente da Associação dos Hotéis de Atlantic City.

O novo centro de entretenimento esbanja luxo. A decoração é em estilo italiano com grandes colunas de mármore trabalhadas. No lobby encontram-se 15 elevadores que levam o hóspede às 2 mil suítes. A incrível quantidade de quartos bate um recorde que pertencia ao Bally?s Atlantic City, com 1.753 aposentos. Nos 41 mil m2 do Borgata também há espaço para 3.650 máquinas de caça-níquel, 145 mesas de jogo, 11 restaurantes e um estacionamento para 6.300 carros. ?O Borgata trouxe novo ânimo para a indústria hoteleira da cidade?, disse à DINHEIRO Ernest Coursey, vice-prefeito de Atlantic City.

A injeção de ânimo a que ele se refere significa milhões de dólares em investimentos. Os cassinos, que respondem por 80% dos impostos arrecadados na cidade, viviam uma fase de decadência. A entrada de um novo crupiê no mercado mexeu com os brios dos grandes grupos da região. Amedrontados com a ameaça de perder terreno, começaram a investir em reformas e melhorias. O Showboat, por exemplo, gastou US$ 90 milhões na construção de uma nova torre. O Harrah?s construiu outra de US$ 250 milhões e Donald Trump tirou US$ 14 milhões do bolso para redesenhar os quartos dos seus hotéis.

Diferentemente de Las Vegas, no Estado de Nevada, o público de Atlantic City é mais maduro. São herdeiros de um tempo de
glamour em que Frank Sinatra exibia sua voz nos grandes cassinos. Figurões de Wall Street e personalidades da política aparecem por lá. Rendem histórias memoráveis e, no mínimo, polêmicas. A de William J. Bennet, ex-secretário da Educação do governo Reagan, é uma delas. Bennet é conhecido como um dos principais moralistas dos Estados Unidos e ligado a grupos que condenam o jogo. Uma revista americana, porém, desmascarou o paladino da moral. Revelou que
ele gastou US$ 8 milhões em cassinos nos últimos dez anos. Outra boa história aconteceu no mês passado. A ex-freira Catherine Foy entrou no Caesar?s com US$ 2,25 no bolso. Jogou US$ 0,25 e ganhou US$ 1,5 milhão. Quem sabe na próxima vez não é você? Mas antes de se animar, fique atento: se os cassinos só perdessem, estariam com as portas fechadas.