06/10/2023 - 17:01
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou nesta sexta-feira, 6, que a investigação sobre o assassinato de três médicos na Barra da Tijuca, na madrugada de quinta-feira, 5, vai continuar, embora um grupo de suspeitos tenha sido morto supostamente por seus próprios comparsas e superiores hierárquicos, como castigo por terem se enganado ao identificar a vítima.
O governador classificou as facções criminosas e milícias que agem no Estado do Rio como “máfia”: “Estamos falando de uma verdadeira máfia, que tem entrado nas instituições, nos poderes, nos comércios, nos serviços e no sistema financeiro nacional. (Ela) tem seus próprios tribunais e vem atuando nas mais diversas esferas”, afirmou, ressaltando que o problema não é exclusivo do Rio, mas nacional.
Castro se referia ao suposto julgamento e morte dos supostos autores da morte dos três médicos. Os corpos de quatro homens foram encontrados pela polícia na noite de quinta-feira, menos de 24 horas depois do suposto engano cometido por eles. A investigação, no entanto, vai continuar, disse o governador.
“Nós estávamos preparados para prender esses criminosos quando fomos surpreendidos por esse pseudo tribunal do tráfico. Mas ainda assim as investigações continuam. Se eles acharam que iam punir os próprios (comparsas) e (a investigação) ia acabar, não é isso que vai acontecer”, disse.
“As investigações continuam inclusive para que elas cheguem nessa guerra do tráfico com a milícia. Se a motivação foi essa, mais ainda a gente vai ter que investigar e combater. Da parte das forças de segurança estaduais não há alteração alguma do planejamento. Nós agimos rapidamente na elucidação desse crime bárbaro e vamos continuar o trabalho, não retrocederemos em nada. Todo o planejamento está mantido”, afirmou Castro.
Sobre a suposta participação de integrantes do Comando Vermelho presos no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, no “julgamento” que determinou a morte dos comparsas que teriam se enganado ao matar os médicos, o governador afirmou que foram apreendidos celulares na penitenciária e haverá investigação.
“O que nos parece é que até eles se indignaram com a ação dos seus próprios (comparsas) e eles fizeram essa punição interna. Temos que achar, inclusive, quem cometeu esse segundo assassinato. É óbvio que eles já sabiam quem tinha sido (o autor das mortes supostamente por engano), foram à frente e puniram eles. Tem que ver se foram todos, se tinha mais gente envolvida, a investigação não muda em nada”, disse.
O governador fez essas afirmações durante entrevista coletiva concedida após reunião com o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, no Rio. Capelli já planejava ir ao Rio antes da morte dos médicos, por conta do acordo para enviar agentes da Força Nacional para o Estado, para atuar principalmente no complexo de favelas da Maré. Mas o crime praticado na quinta-feira acabou sendo o tema principal da reunião e da entrevista.
“Viemos para o Rio por determinação do presidente Lula para apoiar o governo do Rio no enfrentamento desse crime inaceitável que ameaça a vida, destrói a economia e afronta o estado democrático de direito. Vamos seguir apoiando com a Polícia Federal, com a Polícia Rodoviária Federal, com nosso grupo de inteligência. Nós apenas adiamos o envio da força nacional pelos questionamentos do Ministério Público Federal. Estamos em busca de efetividade. O adversário está do outro lado: o crime organizado que tenta tomar todo o país”, afirmou Capelli.
Traficantes queriam vingar morte de colega e acabaram mortos por decisão da facção, aponta polícia
A Polícia Civil concluiu que os médicos foram mortos por engano porque um deles foi confundido com o alvo dos criminosos. Segundo a investigação, em 16 de setembro, uma milícia que atua na zona oeste do Rio matou o traficante Paulo Aragão Furtado, conhecido como Vin Diesel. Esse assassinato, praticado no bairro Gardênia Azul, na zona oeste, teria sido cometido sob as ordens de Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, filho de Dalmir Pereira Barbosa, o líder dessa milícia.
Furtado era aliado de Philip Motta Pereira, o Lesk, que era miliciano e aderiu à facção criminosa Comando Vermelho. Lesk passou a planejar a morte de Taillon, como vingança. Esse alvo havia sido preso em dezembro de 2020 e de março a setembro deste ano cumpriu prisão domiciliar em sua casa na Avenida Lucio Costa, na Barra da Tijuca. Desde 29 de setembro, quando ganhou liberdade condicional, passou a ser procurado pelo grupo adversário, segundo suspeitas da polícia.
Na noite de quarta-feira, 4, um criminoso viu o médico Perseu Ribeiro Almeida com três amigos em um quiosque na Avenida Lucio Costa e o confundiu com Taillon – eles são parecidos fisicamente, e o médico estava muito próximo da casa de Taillon. Lesk então acionou seus comparsas e quatro homens foram até o quiosque e mataram Almeida e dois de seus três colegas – o quarto médico sobreviveu e está internado em um hospital do Rio.
Diante do engano e da repercussão do crime, líderes do Comando Vermelho, a quem Lesk era subordinado, teriam feito uma reunião horas depois do crime para “julgar” Lesk e os demais criminosos que mataram os médicos.
Líderes da facção criminosa presos na penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, conhecida como Bangu 3, no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu (zona oeste), teriam participado por videoconferência, usando telefones celulares. O grupo decidiu matar os executores dos médicos.
Na noite de quinta-feira, a Polícia Civil encontrou quatro pessoas mortas – pelo menos duas delas suspeitas pelo crime – em dois carros abandonados na zona oeste. Seriam justamente os autores dos assassinatos dos médicos, punidos pelos próprios comparsas.
Até a tarde desta sexta-feira, a polícia havia divulgado o nome de dois dos quatro mortos: Lesk, que estava no porta-malas de um Toyota Yaris abandonado na Gardênia Azul, e Ryan Soares de Almeida, que estava com outros dois corpos em um Honda HR-V abandonado no bairro Camorim.