A cautela em relação ao aumento das incertezas fiscais no Brasil, o recuo dos índices de ações norte-americanos e o declínio do minério de ferro jogam o Ibovespa para baixo. Desta forma, o principal indicador já cai para a marca dos 118 mil pontos, depois de abrir aos 119.663,06 pontos, com variação zero, em semana de decisão de juros pelo Banco Central brasileiro.

“Enquanto persistirem as pressões políticas e a dicotomia dentro do governo, a chance de recuperação é muito fraca”, estima em comentário o economista Alvaro Bandeira, coordenador de Economia da Apimec Brasil.

Por isso, fica no foco o encontro do presidente Lula com Fernando Haddad (Fazenda) e os ministros que compõem a Junta de Execução Orçamentária. Espera-se que seja anunciada alguma revisão de gastos, em meio ao aumento das dúvidas no mercado quanto ao cumprimento fiscal.

Além da reunião de Lula com Haddad e outros ministros hoje, o mercado ainda espera a apresentação pelo Senado de medidas de compensação à prorrogação da desoneração da folha de pagamentos de empresas e municípios.

“Tem muita coisa para acontecer nesta semana”, pontua Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. Do ponto de vista macroeconômico, diz que as preocupações fiscais cresceram e ganharam mais repercussão, em meio a sinais de pouca perspectiva de execução do arcabouço fiscal.

Na visão de Spiess, o governo se vê numa encruzilhada. “Ou corta gastos, ou caminha para um governo nos moldes de Dilma 2, com pressão política e ficando refém do Congresso, um governo fraco”, completa.

Neste cenário de preocupações, o hoje o boletim Focus trouxe nova rodada para cima nas projeções de inflação, Selic e dólar, na semana de decisão do Copom. A expectativa majoritária é de manutenção da Selic em 10,50% ao ano na quarta e uma decisão unânime do colegiado.

“Mais importante do que a decisão em si, será se será unanimidade e como virão dos discursos do Banco Central, depois de todo o ruído em torno do último Copom”, avalia o analista da Empiricus, completando que qualquer anúncio de corte de gastos pelo governo pode estimular uma nível “mais saudável” aos ativos brasileiros, em linha com o exterior.

Nos Estados Unidos, hoje saíram novos indicadores de atividade que reforçaram que a economia do país ainda está aquecida, o que pode atrasar mais as expectativas de corte dos juros. Assim, os rendimentos dos Treasuries ganharam força após a divulgação do índice Empire State.

Nem mesmo a alta do petróleo é capaz de animar o Ibovespa, tampouco as ações da Petrobras. As ações ficam no foco depois que a presidente da empresa, Magda Chambriard, indicou três nomes para compor a diretoria executiva.

Além disso, o investidor digere a decisão da Justiça Federal do Amazonas, que suspendeu a homologação de quatro blocos exploratórios de petróleo na Bacia Sedimentar do Amazonas e da Área de Acumulação Marginal do Campo de Japiim.

Na sexta-feira, o Índice Bovespa subiu 0,08%, mas fechou no nível dos 119 mil pontos (119.662,38 pontos). Ainda assim, amargou a quarta queda semanal consecutiva, em meio a crescentes temores fiscais e de isolamento do ministro Fernando Haddad no governo.

Às 11h08, o Ibovespa caía 0,72%, aos 118.805,40 pontos, na mínima, após máxima aos 119.663,06 pontos, com variação zero.

As principais ações ligadas a commodities operavam com recuo considerável: Petrobrás ON perdia 0,96% e PN caía 0,52%. Vale ON cedia 0,86%, após dados fracos da atividade chinesa e em meio ao declínio de 1,63% do minério em Dalian.

“Em geral, os dados apontam para um enfraquecimento da atividade econômica no segundo trimestre comparativamente ao início do ano”, avalia o Bradesco em relatório. Agora, fica a expectativa da decisão, na quarta à noite, sobre a principal taxa de juros da China, de um a 5 anos.

Já os papéis de alguns bancos subiam, em meio a expectativas de anúncio de corte de gastos pelo governo. Itaú Unibanco tinha a maior elevação, de 1,19%, após o Morgan Stanley eleva a recomendação das ações do banco negociadas na Bolsa de Nova York de equal-weight (equivalente a neutra) para overweight (equivalente a compra).