10/05/2000 - 7:00
Alertas sobre a bolha já viraram lugar comum em jornais e revistas de todo o mundo. Mas, nas últimas semanas, um importante grupo de figuras de Wall Street pegou em armas para uma cruzada contra a exuberância irracional.
São os arautos do Armagedon, preocupados em avisar que o tempo de se esbaldar em lucros obscenos está chegando ao fim. Curiosamente, três deles são justamente investidores da velha guarda que, em pouco tempo, levaram grandes tombos no estouro da manada tecnológica. E o quarto é justamente o criador do termo ?exuberância irracional?, o economista Robert Shiller, da Universidade de Yale.
Os gritos mais recentes vieram de George Soros, o investidor húngaro que durante três décadas viu seu fundo Quantum render 30% ao ano. Ele bem que tentou embarcar na nova economia, mas não teve agilidade para vender no tempo certo, despencou 20% em três meses e viu seus cinco fundos encolherem US$ 8 bilhões. Na semana passada, admitiu que parte de seus investidores pode sacar outros US$ 3 bilhões. Decidiu então afastar seus dois principais assessores, Stanley Druckenmiller e Nicholas Roditi, e saiu praguejando. ?Pode ser que eu não entenda mais os mercados. Mas pode ser também que a música tenha acabado, e as pessoas continuem dançando mesmo assim?, disparou, com ar de quem tenta secar a festa alheia. ?Os mercados se tornaram extremamente instáveis?, acrescentou. É a mesma acusação feita há três semanas por Julian Robertson, outro mito dos pregões, que tentou ficar de fora da nova economia e acabou anunciando o fechamento de seu fundo Tiger, um gigante com US$ 6 bilhões em ativos. ?Estamos em um mercado onde a razão não prevalece mais?, concluiu.
Outro que investe contra a nova economia é Warren Buffett, que durante muitos anos foi o homem mais rico do mundo, mas, no ano passado, teve de se desculpar com os investidores por conta do mau desempenho de sua companhia, a Berkshire Hathaway. Buffett pragueja contra a tecnologia dizendo que não investe num negócio que não consegue compreender ? dando a entender, assim, que se ele não entende, quem poderia? Entre os cavaleiros, o que tem chamado mais atenção ? até porque suas críticas são mais racionais ? é Shiller. Ele acha que a Internet é muito visível, as pessoas interagem com ela, e por isso ela é superavaliada na mente das pessoas. Argumenta também que muito da pesquisa feita pelos analistas de bancos hoje é ultraotimista, e serve apenas para promover altas artificiais de mercado. ?Há uma bolha, ela terminará em algum momento?, anuncia. ?É pouco provável que tenhamos uma recessão como a dos anos trinta. Mas uma grande queda no mercado de ações e uma recessão seguinte são bastante prováveis?. Resta olhar para o céu e esperar.