Aprovada na Câmara, proposta de Emenda à Constituição visava ampliar a proteção de parlamentares contra processos na Justiça.A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado rejeitou por unanimidade nesta quarta-feira (24/09) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visava ampliar a proteção de parlamentares de processos na Justiça. A decisão acabou por enterrar o projeto, apelidado de “PEC da blindagem”.

A PEC aprovada pela Câmara dos Deputados na semana passada gerou uma onda de indignação e provocou manifestações populares em todo o país. Havia também uma forte pressão contra o avanço da proposta dentro do próprio Senado.

A repercussão negativa da aprovação da PEC na Câmara levou o presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), a acelerar a análise na comissão e levar a proposta à votação apenas uma semana depois de a CCJ receber o texto.

relator, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), declarou a proposta inconstitucional e recomendou sua rejeição.

A decisão unânime enterrou regimentalmente a PEC no Congresso, uma vez que, segundo as regras do Senado, apenas a rejeição por unanimidade dos membros da CCJ poderia impedir que a PEC fosse discutida em plenário.

O que dizia o texto da PEC da blindagem?

De acordo com o texto aprovado na Câmara, a abertura de qualquer processo criminal contra deputados ou senadores teria de ser submetida ao aval do Congresso, em votação secreta.

Assim, caberia à Câmara e ao Senado decidir, por maioria absoluta, se a ação contra um deputado ou senador poderá ter início.

O texto também visava ampliar o foro privilegiado para que presidentes nacionais de partidos fossem julgados criminalmente pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Desde 2001, o Congresso pode deliberar em plenário, por votação aberta, apenas sobre a suspensão de processos já em andamento, caso considere que tenham motivação política.

Quem apoiou a PEC da blindagem

A prerrogativa de deputados e senadores elegerem quais processos poderiam ser abertos contra seus pares estava prevista na Constituição de 1988, mas foi derrubada pelo próprio Congresso em 2001 devido à pressão popular contra a impunidade.

Segundo um levantamento do porta de notícias G1, entre 1988 e 2001, dos 253 pedidos enviados pelo STF para processar parlamentares, apenas um foi aprovado. Acusados de crimes graves, como tentativa de assassinato e homicídio, também foram beneficiados com esse antigo entendimento.

O texto teve forte apoio do chamado centrão – grupo de partidos de direita e de centro que hoje compõe a maioria no Congresso –, mas também contou com votos de uma minoria do PT, uma vez que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva liberou a bancada do partido para a votação.

A maior parte das investigações no STF contra congressistas, e que seriam o alvo principal da PEC, envolve a suspeita de disseminação de notícias falsas, envolvimento nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e desvio ou uso irregular de verbas das emendas parlamentares – só em 2024, foram mais de R$ 44 bilhões em emendas.

Como surgiu a proposta?

A PEC foi apresentada originalmente em 2021, após a prisão em flagrante do ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira por ordem do STF, que divulgou vídeo com ofensas e ameaças contra ministros da corte e apologia ao AI-5, o ato institucional assinado em 1968 que endureceu a repressão do regime militar, fechando o Congresso, cassando mandatos e perseguindo deputados e senadores de oposição.

A proposta voltou à pauta na Câmara no início de agosto deste ano, na esteira da decisão do ministro Alexandre de Moraes de decretar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Após tentativa frustrada de votar o texto no fim de agosto, diante de toda a repercussão negativa, a PEC ganhou uma versão mais branda. Foi excluída, por exemplo, a proposta que autorizava a suspensão de ações judiciais em andamento e a exigência de aval do Congresso para abertura de investigações criminais contra parlamentares.

Segundo o texto aprovado, o STF pode autorizar inquéritos contra parlamentares sem o aval do Congresso. No entanto, a abertura de processos criminais contra congressistas dependerá de autorização do Congresso.

Defensores da medida dizem que a proposta é uma reação ao que chamam de abuso de poder do STF e que as medidas restabelecem prerrogativas originais previstas na Constituição de 1988, elaborada logo após o fim da ditadura militar (1964-1985).

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