Segundo o CEO da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho, uma eventual privatização da companhia a transformaria em uma corporação – ou seja, com controle acionário diluído – e não envolveria venda de ações por parte do governo de Minas Gerais.

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Isso, dado que a proposta desenhada prevê apenas uma conversão das ações da Cemig nas mãos do governo de Minas Gerais, que são ordinárias, em ações preferenciais – assim como as listadas em bolsa, sob o ticker CMIG4.

Ao Dinheiro Entrevista, o CEO da Cemig comenta que a Assembleia de MG está discutindo tanto a privatização da companhia quanto a da Copasa, estatal de saneamento – e dentre as duas, a segunda possui menos obstáculos para ser aprovada.

O projeto de privatização da Cemig foi enviado ao parlamento junto com o da Copasa e, atualmente, o assunto se cruza com a renegociação da dívida do governo de Minas para com a União no âmbito do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).

O Estado de Minas Gerais possui um débito de mais de R$ 165 bilhões com o governo federal, e a estatal elétrica poderia ser eventualmente federalizada para quitar parte dessas.

“Hoje o com a aprovação do Propag tem ativos que o governo de Minas deve entregar para diminuir a sua dívida e a sua taxa de . O Propag é um programa em que os juros diminuem quanto mais ativos você aporta, e diminui a dívida em consequência disso. O que é a proposta do governo de Minas Gerais é a transformação da Cemig em uma corporação antes de qualquer outro movimento”, explica.

“É um processo basicamente societário. Como você sabe, hoje a empresa possui ações ordinárias e ações preferenciais. É um terço de ações ordinárias e dois terços de ações preferenciais. O estado de Minas tem 51% das ações, mas ele não tem nenhuma ação preferencial”, explica.

Assim, a proposta em discussão pelos deputados de MG prevê conversão das ações preferenciais em ações ordinárias e a migração do segmento de listagem, saindo do atual Nível II para o Novo Mercado.

“O Estado passaria a ter 17% do capital total. Então, aqui ninguém está falando de alienação, de venda das ações”, detalha Reynaldo Passanezi Filho.

Segundo o executivo, existem obstáculos inclusive legislativos que tornam a privatização da Cemig complexa, assim como a da Copasa.

“Se discute primeiro a alteração na Constituição de Minas, porque a Constituição de Minas exige um referendo para qualquer alteração na estrutura societária da Cemig, da Copasa, da Gasmig”, detalha.

Cemig já possui ‘gestão com mentalidade privada’

Guilherme Faria, então CEO da Copasa, um dos primeiros executivos a participarem do Dinheiro Entrevista, declarou que a estatal de saneamento opera com uma gestão que se assemelha à companhias privadas.

Questionado se a Cemig segue o mesmo caminho, Passanezi filho indica que sim, e que a elétrica cortou custos que considerava privilégios nos últimos anos e priorizou eficiência nos custos e disciplina financeira.

O executivo relata que a companhia promoveu mudanças culturais e financeiras relevantes nos últimos anos para atender a esse objetivo, contemplando inclusive venda de ativos vistos como supérfluos e excessivamente extravagantes.

“Tínhamos aeronaves próprias de uso exclusivo da presidência. Nós vendemos todas essas aeronaves, saímos do hangar que era alugado para essas aeronaves. A última aeronave que nós vendemos foi R$ 15 milhões. O custo do hangar era R$ 3 milhões ao ano. Isso era um privilégio da presidência. Hoje a presidência só anda de avião comercial e, quando tem alguma necessidade, pode usar um convênio com a Polícia Militar.”

Além disso, a empresa otimizou recursos ao reduzir os andares ocupados pela sede da empresa. Anteriormente eram ‘dois prédios muito grandes’. Com a nova gestão, um dos prédios foi devolvido e o outro, que possui 21 andares, teve cinco deles devolvidos ao locatário.

“Isso significa que hoje a gente usa um espaço para a sede da Cemig que é cerca de um terço do que era anteriormente”, diz o CEO.

Em mudanças na sua administração, a empresa também derrubou uma regra que previa que todos os cargos de gerência sejam ocupados por concursados – prevendo agora uma fatia de até 40% de gerentes e cargos análogos vindo do mercado de trabalho, com experiência em outras empresas.

O percentual máximo ainda está longe de ser utilizado e a Cemig opera em um patamar de cerca de 15%, considerado por Passanezi como ideal para ‘oxigenar’ a gestão da companhia e promover a diversidade de ideias.