Em um panorama com um mercado internacional mais rígido acerca de controle de qualidade e sustentabilidade dos produtos do agronegócio, o CEO da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, defende que demanda faz sentido mas que a posição dos países da Europa muitas vezes tem ‘viés político’ e não é justa com o Brasil.

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Ao Dinheiro Entrevista, o executivo da SLC Agrícola relata que o tema da sustentabilidade ‘deve ser tratado com a profundidade que merece’ e que atualmente os produtos do agronegócio brasileiro estão em linha com padrões de qualidade rigorosos e que as companhia do ramo tem investido em ESG e práticas sustentáveis.

“Temos uma Europa que é uma líder mundial em ditar tendências. Assim como ela dita tendência da moda, ela dita tendência do consumo. Obviamente tem um racional por trás, e obviamente o racional predomina no longo prazo, mas tem algumas ações que são desconectadas com o racional: ‘A discriminação da importação de soja do Brasil porque está sendo produzida em uma região que tem desmatamento’. Qual a magnitude desse desmatamento? O Brasil hoje não precisa mais desmatar para produzir soja”, diz Pavinato.

Nesse sentido, questiona: ‘Quão sustentável é a produção europeia versus a produção brasileira?’.

A tese é de que nos próximos aos poucos o mercado se adaptará a uma descompressão do tema de sustentabilidade. Pavinato avalia, entretanto, que ainda demorará um certo tempo para que o senso comum do europeu seja de que o Brasil tem uma produção sustentável.

O CEO da SLC Agrícola destaca que o Brasil está exercendo um papel estratégico de alimentar o mundo, sendo onde a produção mais vai expandir nos próximos anos e basicamente para atender a demanda da Ásia e talvez da África.

“Tudo isso ao longo desse processo de aprendizagem, tem as lideranças europeias que tentam ditar algumas tendências e acabam em alguns momentos tendo o viés político por trás e predominando sobre a ciência. No fundo o que vai predominar vai ser a ciência.”

O executivo ainda acrescenta que o tema da sustentabilidade é relativamente ‘jovem no mundo’, dado que o conceito foi desenvolvido em 1987.

“Por isso não existe esse consenso sobre isso. A COP tenta juntar os países e definir um projeto estratégico de consenso, mas não tem conseguido evoluir na velocidade que deveria”, analisa.

Essa disparidade e o tema de uma forma geral ganhou mais força no fim do ano de 2024, quando o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, declarou que a empresa estava ‘decidida a não comprar mais carne no Mercosul’. A decisão iniciou um grande imbróglio com o agronegócio brasileiro e uma parte do setor pecuarista ficou irritada – especialmente grandes produtores e exportadores, que acusaram a varejista de adotar critérios excessivamente duros e de não dialogar com o setor antes de aplicar os bloqueios.

Os produtores alegaram que o sistema de rastreabilidade da cadeia da carne no Brasil ainda enfrenta gargalos, principalmente na chamada origem indireta, e que o Carrefour estaria exigindo um grau de controle que nem mesmo o governo consegue garantir de forma plena.

O movimento foi lido por alguns como uma tentativa do varejo de se descolar de pressões internacionais, jogando o peso do problema nas costas do produtor.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) considerou a decisão ‘protecionista e sem base técnica’. Entidades do setor (ABIEC, ABPA, FIESP, dentre outras) publicaram uma carta aberta afirmando que a decisão era infundada e economicamente incoerente.

A decisão foi revertida após negociações com fornecedores e a adoção de novos critérios de sustentabilidade e o abastecimento foi retomado.

‘Não desmatamos mais’

Pavinato atesta que a companhia, desde meados de agosto de 2021, não expande mais a sua operação para áreas desmatadas. Além disso, destaca outras iniciativas em ESG que considera relevantes.

“Na parte das fazendas, implantamos  a reciclagem, economia circular. Atualmente em 11 fazendas reciclamos todos os resíduos. O resíduo sólido é reciclado, esgoto tratado, e o orgânico é feito fertilizante, compostagem”, frisa.

Por fim, destaca que a companhia tem investido em educação.

“Temos EJA [escola para jovens e adultos] dentro das fazendas das fazendas, desde 2017, já formamos mais de 420 pessoas no fundamental e médio, temos mais de 500 estudando. Quando começamos o projeto tínhamos muitos analfabetos, mas atualmente não temos nenhum analfabeto.”

A companhia tem como meta se tornar neutra em emissões de carbono até o ano de 2030 nos escopos 1 e 2 – referentes à operação e às fontes de energia, respectivamente. O escopo 3 diz respeito à cadeia de suprimentos.

Cadeia do algodão é rastreável

Em linha com grandes exigências dos consumidores, a empresa – junto com outros pares que produzem algodão – tem adotado uma prática na qual o Brasil é pioneiro, de rastreabilidade de toda a cadeia de produção de produtos de algodão.

O protocolo foi desenvolvido junto à Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) – o qual a SLC Agrícola integra. Com isso, mostra detalhes de como e onde foram feitas as fases de produção de produtos à base de algodão.

“É possível rastrear a roupa de algodão que chega na loja, da Renner, da Reserva, de várias redes. É possível verificar onde aquela roupa foi produzida. Onde foi produzido o fio, onde foi produzido o algodão, então é uma rastreabilidade da cadeia completa que está sendo desenvolvida no Brasil e sendo exemplo para o mundo”, diz Aurélio Pavinato.

Qual o tamanho da SLC Agrícola

Atualmente a SLC Agrícola figura como uma das maiores produtoras de grãos e fibras do mundo, sendo listada na bolsa de valores desde meados de 2007 sob o ticker SLCE3.

A empresa soma 830 mil hectares plantados, distribuídos em 26 fazendas localizadas em oito estados do Brasil.

A receita líquida da companhia no acumulado do ano de 2024 foi de R$ 6,91 bilhões. Segundo dados atualizados do Status Invest, o valor de mercado da SLC Agrícola é de R$ 8,09 bilhões.