08/09/2010 - 21:00
Depois de começar a campanha com a liderança nas pesquisas de intenção de voto e em clima de paz e amor com o governo atual, o candidato do PSDB José Serra mudou de estratégia ao ver seu nome despencar para o segundo lugar e correr o risco de ser derrotado já no primeiro turno. Nos últimos dias, pediu mais empenho dos caciques e militantes do partido e mudou o slogan da campanha para “É hora da virada”, numa tentativa de reverter o forte crescimento de Dilma Rousseff. No horário eleitoral, tirou o foco da saúde e passou a falar mais de propostas de governo em diversas áreas da economia. Nesta entrevista, na qual responde a perguntas enviadas por CEOs de grandes empresas e entidades setoriais, a pedido de DINHEIRO, Serra critica diretamente o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O PAC não vai parar. minha proposta é ampliar drasticamente
o gasto em infraestrutura, que ainda é pífio no país”
“O que o governo Lula permitiu que ocorresse com os derivativos tóxicos que quebraram empresas brasileiras sólidas, em meio a uma jogatina desenfreada, não ocorrerá no meu governo”, afirmou. Questionado sobre a manutenção do câmbio flutuante, citou o ex-presidente tucano, que andava sumido da campanha. “O câmbio continuará flutuante e este foi um dos grandes ganhos do governo Fernando Henrique Cardoso”, afirmou. Serra também defendeu a redução da carga tributária e da taxa de juros. “A indústria não resistirá a esta taxa indefinidamente”, afirmou. O candidato tucano prometeu manter programas do atual governo, como o PAC, e diz que vai ampliar os investimentos em infraestrutura, com vistas à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. A entrevista a seguir é a terceira da série publicada pela DINHEIRO, que em edições anteriores já fez o mesmo com as candidatas Marina Silva, do PV, e Dilma Rousseff, do PT.
Roberto Lima, presidente da Vivo
Em pouco mais de dez anos de privatização, a telefonia móvel chegou a 180 milhões de acessos, mas o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo no setor. Quais são suas propostas para acelerar a universalização do acesso à internet em banda larga?
A telefonia só logrou este avanço por conta do ambiente regulatório criado ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. A carga tributária do setor, assim como de vários outros da economia, é certamente excessiva. No caso da banda larga, a universalização é um objetivo que será perseguido. No entanto, é fundamental estudar a questão muito mais amplamente, ao contrário do que ocorreu no PNBL, recentemente tornado público. Ressuscitar a Telebrás não é razoável.
Marcos S. de Oliveira, presidente da Ford Brasil e Mercosul
Em sua opinião, quais as três palavras que descrevem o Brasil hoje e quais são as três palavras que o sr. gostaria que descrevessem o Brasil daqui a 20 anos?
Hoje: juro excessivo; fardo tributário; investimento público medíocre. Amanhã: indústria forte; serviços públicos de qualidade; pessoas satisfeitas.
Julio Serson, presidente do Hotel Vila Rica
Caso o sr. seja eleito, que tratamento dará às obras em andamento do PAC? Elas serão paralisadas ou continuarão em andamento normal?
A maioria das obras do PAC não sofrerá problemas de continuidade. Ao contrário, o ritmo de trabalho será acelerado. Serão paralisadas ou alteradas apenas as que tiverem problemas de superfaturamento ou questões ambientais não resolvidas. A proposta é ampliar drasticamente o investimento em infraestrutura, que ainda é pífio e está impedindo o desenvolvimento do Brasil.
Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza
Caso eleito, quais serão os investimentos para melhorar a logística no País, e qual o incentivo para o microempresário do setor de transportes renovar sua frota?
Infraestrutu-ra é uma das prioridades. Em particular, a infraestrutura de transportes, destinada a eliminar gargalos logísticos que hoje restringem a competitividade da produção e comercialização brasileiras, tema sobre o qual muito pouco se avançou nos últimos oito anos. Há ainda aspectos institucionais, legais, organizacionais, tributários, alfandegários, sanitários, que também contribuem para o aumento do tempo de deslocamento e das perdas e reduzem a previsibilidade de entregas e aumento de custos. No caso das pequenas empresas, a implantação de centros de distribuição e plataformas logísticas desempenhará papel importante para a redução da circulação ociosa dos veículos e, com isso, também dos custos.
Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira
da Indústria de Máquinas e Equipamentos
O que o sr. fará para elevar a poupança pública e como será possível elevar os gastos de infraestrutura em ritmo mais forte que os gastos correntes?
A taxa de investimento precisa subir pelo menos 5% do PIB para que a economia supere esse permanente stop-and-go que vivemos nos últimos anos. Precisamos de transporte de massa, de logística para transporte de carga, de aeroportos, de portos, de construção civil, de transformação urbana. É preciso usar as receitas que estão em expansão para ampliar o investimento federal. O nível de desperdício no gasto corrente é muito alto, hoje, no governo federal. Os gastos sociais serão preservados, como o Bolsa Família, mas reduzindo-se o gasto fisiológico, redirecionando esses recursos para o investimento imediatamente. É necessário também aumentar o investimento privado em infraestrutura. Uma nova forma de relacionamento entre o Estado e o setor privado, baseada na transparência e no respeito ao meio ambiente, terá que ser construída. Todos os equívocos técnicos, econômicos e de relação entre o público e o privado que caracterizaram Belo Monte podem dizer o que não fazer.
Conrado Engel, presidente do HSBC Bank Brasil
O Brasil, apesar dos grandes avanços, ainda possui uma das maiores taxas de juros do mundo e uma carga tributária que penaliza o investimento. Qual será a política adotada por seu governo em relação aos juros e ao custo Brasil?
A crítica à taxa de juros sideral praticada no Brasil faz parte da história recente. Tenho dito o óbvio: a indústria não resistirá a esta taxa indefinida-mente. O mesmo pode-se dizer hoje da carga tributária, que é excessiva sob qualquer ótica. No caso do custo Brasil, ele é derivado de uma postura governamental de usar a expansão das receitas para ampliar o gasto corrente ao mesmo tempo que mantém um investimento público pífio e não deixa o setor privado assumir papéis na infraestrutura. A política econômica não deve se limitar à manipulação das taxas de juros. É preciso ainda uma racionalização da carga tributária para desonerar o investimento e as exportações, ampliação drástica do investimento em infraestrutura, para reduzir os custos da indústria e uma política para preços de combustíveis e energia, que hoje inexiste.
Rubens Menin Teixeira de Souza, presidente
da MRV Engenharia e Participações
Gostaria de saber qual o seu programa de governo para a construção civil residencial, considerando a existência do programa Minha Casa Minha Vida.
Não há dúvida de que o País precisa reduzir drasticamente o déficit habitacional. A proposta é ir além do Minha Casa Minha Vida, atacando os aspectos que não estão bem equacionados. O primeiro é o custo do terreno em situações metropolitanas, que está remetendo obras para locais muito distantes. Também é preciso melhorar a qualidade da construção, as condições urbanísticas e de saneamento e o sistema de transportes. É preciso ainda viabilizar a moradia para pessoas com renda abaixo de três salários mínimos, com mais recursos subsidiados pelo Tesouro Nacional.
Luiz Eduardo Baptista da Rocha, presidente da Sky
Caso eleito, o sr. irá alterar o regime de câmbio livre?
De jeito algum, o câmbio continuará flutuante e este foi um dos grandes ganhos do governo FHC. Os mercados estarão protegidos dos processos especulativos que levam a nossa moeda a situações claramente irreais. Alguns não entendem que viver numa economia global e com grande liberdade para os fluxos de capital exige uma vigilância redobrada da política econômica para garantir movimentos de capital que não sejam traídos pela especulação. O que o governo Lula permitiu que ocorresse com os derivativos tóxicos que quebraram empresas brasileiras sólidas, em meio a uma jogatina desenfreada, não ocorrerá no meu governo.
Horácio Lafer Piva, sócio da Klabin
No tema dos investimentos, devemos incorporar a tese de um Estado indutor, portanto mais intervencionista, ou um Estado facilitador?
O termo “Estado Ativo” é ideal porque sintetiza o papel do Estado nas condições atuais da economia brasileira. A primeira opção é articular os investimentos com a participação do setor privado, retirando amarras, equacionando questões ambientais, compondo soluções e estabelecendo cronogramas que viabilizem taxa de retorno favorável para a ação privada. No caso do investimento, a melhor saída é buscar a participação privada, pela eficiência que ela propicia. Em alguns casos, o Estado pode iniciar o processo, tentando viabilizar, em algum momento, a participação do setor privado no empreendimento. Nos termos das PPP (parcerias público-privadas), o Estado terá que assumir uma parte dos riscos de implantação, especialmente quando esses forem imponderáveis.