Uma indisfarçável desconfiança toma conta do mundo: a de que o euro como moeda única do mercado comum europeu está com os dias contados. A constatação veio depois da derrocada da Grécia. Com a sua dívida impagável, a insatisfação social crescente e o arrocho econômico além do suportável, ela só encontra saída retornando à antiga moeda, o dracma. Terá de abdicar assim de sua condição de integrante do clube dos ricos do Velho Continente. Com uma moeda mais fraca, propiciando produtos e serviços mais baratos, ela entrega algum fôlego ao seu mercado consumidor e atrai, por tabela, maior interesse turístico – motor do PIB interno. Com esse diagnóstico, concordam dez entre dez analistas. 

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O problema é que o desembarque grego da zona do euro precipitaria uma revisão absoluta da união monetária em vigor na região, com reflexos em todo o mundo. Há um evidente descompasso entre os países participantes do bloco. De um lado, aqueles que carregam o desenvolvimento local, caso da Alemanha, estão cada vez menos empenhados – e interessados – em trocas comerciais e sociais que traduzem a chamada integração. Do outro, as nações atoladas em déficits e incapazes de gerar receita suficiente para cobrir os compromissos. Tecnicamente quebradas, não conseguem mais estabelecer uma relação de interesses em bases iguais. Os líderes do continente já tratam da reforma em conversas reservadas. A alternativa à exclusão de alguns membros é tratá-los como sócios de segunda categoria. Seria o pior dos mundos! Levaria inevitavelmente à ruptura dessa união. 

 

Principalmente dadas as chances de ocorrer uma migração acelerada, de capitais e mão de obra, para os mercados mais saudáveis. A Europa corre contra o tempo na cruzada para salvar o euro. Os títulos soberanos da dívida estão vencendo em cascata, sem pagamento. Na última cúpula do ano, em 9 de dezembro, os chefes dessas nações voltam a se reunir para um derradeiro acórdão. Tentam manter a coalizão em torno de medidas impopulares. Alguns esperam pelo milagre de uma ajuda que viria de fora do bloco. Mas, a esta altura do campeonato, quase nenhum país parceiro está disposto a enterrar suas economias na draga europeia. Preferem cuidar do próprio quintal.