28/01/2016 - 0:00
Filho do empresário Oscar Jorge Berggren, controlador da Ober, empresa têxtil de Nova Odessa, município da região de Campinas, dona de um faturamento de R$ 360 milhões por ano, o advogado Lucas Berggren herdou do pai e do avô, também chamado Oscar, o culto a uma boa cerveja. “Nossa família é de participar de eventos como a Oktoberfest, não só em Blumenau, como na própria Alemanha”, diz Lucas. Aos 33 anos de idade, cabe a ele tocar um novo negócio da família, fruto dessa opção preferencial pela loira gelada: a microcervejaria Berggren, que começou a operar em dezembro do ano passado. “Nossa experiência como consumidores nos fez acreditar que poderíamos ganhar dinheiro com um produto premium, de alta qualidade”, diz Lucas, diretor geral da Berggren.
Instalada numa área construída de 27 mil metros quadrados, também em Nova Odessa, com capacidade inicial para a produção de 120 mil litros mensais de cerveja, a fábrica recebeu investimentos de R$ 32 milhões, computado as instalações e os equipamentos, em sua maior parte importados da Alemanha.
“Trata-se de uma fábrica totalmente automatizada, com reduzida interferência humana”, afirma Lucas, que espera chegar a uma produção de 200 mil litros mensais até o final deste ano. “Na verdade, com pequenos ajustes, como a aquisição de novos tanques, nossa produção mensal pode chegar a 1,2 milhão de litros, dependendo da demanda dos consumidores.”
As cervejas produzidas pela Berggren serão vendidas a preços que variam entre R$ 12 e R$ 15 nos pontos de venda. Inicialmente, a distribuição direta feita pela empresa terá como alvo mercados localizados num raio de 100 quilômetros da fábrica, incluindo as cidades de Sorocaba, Itú, Piracicaba, Campinas e Jundiaí, em São Paulo.
“O abastecimento de localidades como São Paulo e Brasília e de regiões como o Mato Grosso do Sul e o Triângulo Mineiro, será feito através de distribuidores, até que montemos nossas equipes de venda”, diz Lucas. Segundo ele, o faturamento da Berggren deve chegar a R$ 4 milhões por mês, no primeiro ano de operações. Está prevista, também, a exportação de parte da produção, principalmente para a China e para os Estados Unidos, onde é crescente a demanda pelas cervejas ditas artesanais.
Até tomar (sem trocadilho) a decisão de investir na cervejaria, proposta defendida por Oscar,o pai de Lucas, foi preciso vencer resistências na própria família, inicialmente contrária à diversificação dos negócios. Mais tarde, obtido o consenso interno, a crise do setor têxtil, provocada pela concorrência desigual praticada pelos competidores chineses e pelo real sobrevalorizado, acabou retardando o projeto, que começara a ganhar corpo em 2010.
“Ficamos sem recursos para bancar o investimento”, diz Lucas. Enquanto aguardavam um melhor momento, os Berggren dedicaram-se a montar uma fábrica piloto, que serviu como uma espécie de laboratório para a cervejaria. “ Foi um período em que aproveitamos para testar os produtos, obter as licenças e registros para a produção, além de encomendar os equipamentos no exterior”, diz Lucas.
Para garantir a excelência da produção, ele contratou um mestre cervejeiro aposentado, formado na Alemanha, e que havia trabalhado na Antártica e na Baden Baden, de Campos do Jordão, uma das mais badaladas microcervejarias do País, hoje controlada pela japonesa Kirin.
Com a melhora da saúde financeira da empresa têxtil, em 2014 a família retomou a capacidade de investimento, iniciando o processo de montagem da fábrica, inaugurada no fim do ano passado. Contraído em euro, o financiamento com os fornecedores praticamente duplicou de valor nos últimos dois anos, com a variação cambial. Embora acabe pesando no desempenho da cervejaria, isso não chega a assustar o diretor geral da Berggren. Para ele, a desvalorização do real, por outro lado, acaba recolocando a indústria têxtil no jogo, ao encarecer os produtos importados. “Com isso, o grupo pode absorver o sobrecusto nas importações dos equipamentos da Berggren”, afirma.