22/01/2021 - 14:05
Um busto de César Chávez no Salão Oval, o retorno do espanhol ao site da Casa Branca e Jennifer Lopez brilhando na cerimônia de inauguração: a presidência de Joe Biden anuncia uma nova era para os latinos nos Estados Unidos.
Desde o primeiro dia, o presidente democrata não poupou sinais de reconhecimento e ações que afetam a primeira minoria do país.
Uma das estrelas na posse de Biden na quarta-feira no Capitólio, a diva nova-iorquina de origem porto-riquenha J.Lose dirigiu ao público em espanhol: “Uma nação sob Deus, indivisível, com unidade e justiça para todos!”.
Não foi a única surpresa do dia.
Biden posteriormente assinou uma série de decretos, incluindo a suspensão da construção do muro com o México com o qual seu antecessor, Donald Trump, procurava impedir a chegada de imigrantes ilegais, a maioria latino-americanos.
Enquanto ele assinava os documentos em seu novo escritório, um busto atrás dele não passou despercebido. Entre as fotos de família atrás da mesa presidencial estava César Chávez, o falecido ativista camponês de origem mexicana, um ícone do movimento pelos direitos civis dos anos 1960.
Várias ordens aprovadas naquela tarde foram o pontapé inicial da ambiciosa reforma da imigração promovida por Biden, que inclui a regularização de 11 milhões de estrangeiros sem documentos residentes nos Estados Unidos, dos quais cerca de cinco milhões são mexicanos e outros dois milhões, centro-americanos.
Nesse mesmo dia, o site da Casa Branca trazia uma novidade: a reativação da seção em espanhol.
Estabelecido pelo republicano George W. Bush e mantido pelo democrata Barack Obama, o site da Casa Branca não tinha sido atualizado nos quatro anos de Trump. O republicano argumentou que “nos Estados Unidos se fala inglês”, apesar de o país não ter uma língua oficial.
Os hispânicos são a primeira minoria nos Estados Unidos: eles chegam a 60 milhões e representam mais de 18% da população total. De acordo com o Census Bureau, cerca de 41 milhões falam espanhol em casa.
“Os gestos do presidente Biden sinalizam uma nova abertura da Casa Branca para envolver a comunidade latina nos Estados Unidos”, disse à AFP Arturo Vargas, diretor executivo da Associação Nacional de Funcionários Latinos Eleitos e Nomeados (NALEO).
Dos estimados 20 milhões de latinos que votaram na eleição presidencial de 3 de novembro, 70% apoiaram Biden
Clarissa Martínez, vice-presidente da UnidosUS, associação que desde 1968 defende os direitos dos latinos nos Estados Unidos, destacou a “contundência” do apoio eleitoral a Biden. Mas disse que independentemente de em quem votaram, os hispânicos concordam nas questões que consideram prioritárias.
A pandemia de coronavírus, a economia e os cuidados de saúde eram as principais preocupações deste grupo, de acordo com uma pesquisa pré-eleitoral da NALEO e da consultoria Latino Decisions.
“Nos vemos como parte de um todo”, enfatizou Martínez. “E isso é particularmente importante porque esta comunidade experimentou muita demonização nos últimos quatro anos.”
– “Campeão” –
“Colocar um busto de meu pai no Salão Oval simboliza o novo dia esperançoso que está amanhecendo para nossa nação”, disse Paul F. Chávez, filho de Chávez e presidente da Fundação Cesar Chávez.
A obra de bronze, criada há 25 anos pelo artista Paul Suárez e exibida até agora no centro em homenagem ao líder fazendeiro da Califórnia, foi enviada para Washington a pedido da equipe de Biden, informou a fundação.
O democrata que lidera a bancada hispânica na Câmara dos Deputados, Joaquín Castro, comemorou a chegada de um “campeão” à Casa Branca.
Biden já acrescentou Julie Chávez Rodríguez, neta do ativista, à sua equipe de colaboradores. Além disso, se confirmado pelo Senado, o novo gabinete terá três latinos, um recorde.
Biden escolheu Xavier Becerra como Secretário de Saúde; Alejandro Mayorkas, que nasceu em Cuba, para o Departamento de Segurança Interna (DHS); e Miguel Cardona, natural de Porto Rico, para chefiar a pasta de Educação.