19/12/2007 - 8:00
Não há, hoje, desafio maior para as empresas brasileiras do que a internacionalização. Respeitar as diferenças culturais, estimular a identificação com os valores da matriz e conseguir o melhor equilíbrio entre a implementação de metodologias de gestão corporativas e o reconhecimento das diversidades culturais, com a adoção de práticas locais, são pontos fundamentais para garantir uma trajetória bem-sucedida na conquista de mercados no Exterior.
Por exemplo, aproveitar o conhecimento e a experiência dos profissionais das empresas adquiridas no Exterior pode ser um diferencial competitivo num cenário de escassez de mão-de-obra qualificada e necessidade de retenção de talentos com expertise internacional. À medida que níveis internacionais de custo e eficiência tornarem-se obrigatórios, as organizações precisarão cada vez mais de profissionais diferenciados, com capacidade de entender a cultura específica de cada uma das localidades em que a empresa atua.
Além das diferenças culturais, ainda existem entraves burocráticos a serem enfrentados em alguns países, como protecionismo e carga tributaria elevada, instabilidade institucional e política, baixos níveis de educação e ineficiência da estrutura logística.
Apesar das dificuldades, cada vez mais companhias brasileiras têm-se lançado nesta empreitada. Segundo a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), em 2006, as companhias investiram US$ 28,2 bilhões no Exterior, contra US$ 2,5 bilhões em 2005 e US$ 650 milhões, em 1995. Apesar desse expressivo crescimento, empresas brasileiras com investimentos diretos no Exterior representam uma pequena parcela do total das empresas nacionais, conforme recentemente publicado, o que demonstra que ainda há muito espaço para futuras expansões internacionais. A internacionalização cria condições competitivas para que as empresas brasileiras possam ampliar seu mercado de atuação quando a escala de produção no mercado interno alcança a estabilidade.
Entretanto, por sua extrema complexidade, o fenômeno da globalização ainda não é plenamente percebido pelas lideranças políticas, acadêmicas, sindicais e empresariais de nosso país. Há ainda um certo preconceito quando se fala em investimentos brasileiros no Exterior, pois muitos acreditam que essas inversões deveriam ser feitas no próprio país. É importante lembrar que a internacionalização das empresas brasileiras é benéfica à economia, pois rende divisas e fortalece as companhias nacionais, que expandem seus mercados, aprimoram sua eficiência, aprendem a competir melhor e obtêm recursos financeiros a taxas mais competitivas.
Esta reduzida compreensão da realidade empresarial também acarreta a continuidade de expressivos entraves estruturais. A elevada carga tributária, as altas taxas de juros, a falta de clareza nas regras do jogo, entre outros, fazem com que as organizações brasileiras percam competitividade perante a concorrência global. Além disso, reduzem a atratividade do ambiente brasileiro de negócios para o capital privado, fundamental para gerar mais empregos e reduzir a desigualdade social. Para 2008, o grande desafio será avaliar nossas práticas e definir o Brasil que queremos para os próximos 10-20 anos, o que impactará diretamente nos futuros níveis de eficiência das empresas brasileiras. O Brasil apenas começou a sentir as vantagens de sua inserção no mercado global. Não podemos perder a oportunidade de perpetuar esse ciclo de crescimento.