O mundo não está preparado para uma erupção vulcânica massiva, que pode causar efeitos globais, inclusive no clima e na produção de alimentos, de acordo com pesquisadores do Centro para Estudo de Risco Existencial (CSER) da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, em artigo científico publicado em 17 de agosto na revista Nature.

De acordo com os especialistas, é errado pensar que são baixos os riscos de grandes erupções vulcânicas e alertam para a falta de investimento governamental no monitoramento e resposta a possíveis desastres causados por supervulcões.

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No entanto, os cientistas argumentam que medidas podem ser tomadas para proteger contra uma possível devastação: desde a vigilância aprimorada até manipulação de magma.

“Dados coletados de núcleos de gelo sobre a frequência de erupções ao longo do tempo sugerem que há uma chance em seis de uma explosão de magnitude sete nos próximos 100 anos. Isso é como jogar um dado. Tais erupções gigantescas causaram mudanças climáticas abruptas e colapso de civilizações no passado distante”, comenta a especialista em risco global Lara Mani, uma das autoras do artigo, citada pelo site da Universidade de Cambridge.

Ela compara o risco de uma erupção gigante ao de um asteroide de um quilômetro de largura colidir com a Terra. Esses eventos teriam consequências climáticas semelhantes, mas a probabilidade de uma catástrofe vulcânica é centenas de vezes maior do que as chances combinadas de uma colisão de asteroide ou cometa.

“Centenas de milhões de dólares são injetados em ameaças de asteroides todos os anos, mas há uma grave falta de financiamento e coordenação global para a preparação contra vulcões. Isso precisa mudar rapidamente. Estamos subestimando completamente o risco que os supervulcões representam para nossas sociedades”, comenta a especialista.

Os especialistas do Centro para Estudo de Risco Existencial citam pesquisas recentes que revelaram a regularidade de grandes erupções por meio de traços de picos de enxofre em amostras antigas de gelo. Uma erupção 10 a 100 vezes maior que a de Tonga, na Oceania, ocorrida em janeiro deste ano, costuma ser registrada na Terra uma vez a cada 625 anos – duas vezes mais frequente do que se pensava anteriormente.

“A última erupção de magnitude sete foi em 1815 na Indonésia. Estima-se que 100.000 pessoas morreram localmente e as temperaturas globais caíram um grau em média, causando perdas em massa de safras, que levaram à fome, revoltas violentas e epidemias no que ficou conhecido como o ‘ano sem verão’. Agora vivemos em um mundo com oito vezes a população e mais de 40 vezes o nível de comércio. Nossas redes globais complexas podem nos tornar ainda mais vulneráveis ​​aos choques de uma grande erupção vulcânica”, alerta o especialista em vulcões Mike Cassidy, do CSER, outro autor do artigo recém-publicado, também citado pelo site da Universidade de Cambridge.

As perdas financeiras decorrentes da erupção de um supervulcão seriam de vários trilhões de dólares, em uma escala comparável à da pandemia de covid-19, afirmam os cientistas no texto da Nature.

Um problema, segundo eles, é entender melhor os riscos. Conhecemos apenas a localização de um punhado das 97 erupções classificadas como de grande magnitude nos últimos 60.000 anos. Isso significa que pode haver dezenas de vulcões perigosos espalhados pelo mundo com potencial de destruição extrema, sobre os quais a humanidade não tem conhecimento.

Apenas 27% das erupções desde 1950 tiveram um sismômetro (medidor de terremotos) próximo a elas, e apenas um terço desses dados foram inseridos no banco global de dados relacionado à “agitação vulcânica”.