A queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro  trimestre em relação ao segundo trimestre deste ano (-0,8%) foi a sétima  seguida nessa base de comparação, informou nesta quarta-feira, 30, o  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação  com o terceiro trimestre de 2015, o PIB encolheu 2,9%, a décima seguida  nesse tipo de comparação.

O PIB de serviços acompanhou o  movimento. A queda de 0,6% no terceiro trimestre ante o segundo também  foi a sétima seguida. A sequência de quedas na comparação de um  trimestre com igual período do ano anterior é a mesma: sete trimestres.  No terceiro trimestre, o PIB de serviços encolheu 2,2% ante igual  período de 2015.

Os investimentos também completaram dez  trimestres de queda, na comparação de um trimestre com igual trimestre  do ano anterior. O recuo da formação bruta de capital fixo (FBCF) foi de  8,4% no terceiro trimestre ante igual período de 2015.

Já a  queda do PIB da agropecuária no 3º trimestre ante o terceiro trimestre  do ano passado (-6,0%) foi a terceira seguida. A última vez que o PIB da  agropecuária registrou uma sequência de três quedas nessa base de  comparação foi em 2009, entre o primeiro e o terceiro trimestres.

Desde  o início da série das Contas Nacionais do IBGE, em 1996, essas são as  únicas duas sequências de três quedas no PIB agropecuário.

Consumo das famílias

O  consumo das famílias no PIB também registrou a sétima queda seguida na  comparação de um trimestre com igual período do ano anterior, ao  encolher 3,4% no período de julho a setembro deste ano contra 2015.

Ainda  assim, há uma evolução para quedas menores na série do Instituto  Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No segundo trimestre, o  consumo das famílias havia caído 4,8% e, no primeiro, recuou 5,8%. “Ele  continua caindo, mas a taxa tem uma tendência de melhorar um pouco”,  disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Segundo  a pesquisadora, o arrefecimento da queda no consumo das famílias está  relacionado com a desaceleração da inflação e com o mercado de trabalho,  cujos dados do terceiro trimestre mostraram também um arrefecimento na  queda da renda.

“A desocupação aumentou, mas a renda de quem está empregado não está caindo tanto”, completou Rebeca.

Ainda  assim, a sequência de quedas no consumo das famílias nessa ótica de  comparação é a maior desde o período entre o quarto trimestre de 1997 e o  quarto de 1999. Naquela ocasião, foram oito trimestres sem crescimento  no consumo das famílias, mas a sequência inclui o registro de variação  nula, no terceiro trimestre de 1998.

Na comparação entre o  terceiro trimestre deste ano e igual período do ano passado, houve  deterioração de emprego e renda e piora no mercado de crédito. “As  operações de crédito, que estavam crescendo muito, estão com crescimento  nominal bem baixo. Se a gente deflacionar, vai dar número negativo”,  disse Rebeca. Segundo o IBGE, a Selic média do terceiro trimestre de  2015 foi de 14,0%, contra 14,3% no terceiro trimestre deste ano.

No acumulado de janeiro a setembro, o PIB encolheu 4,0%. É a maior queda para o período na série iniciada em 1996.

PIB da Agropecuária

O  PIB da Agropecuária em 2015 foi revisto de um avanço de 1,8% para alta  de 3,6%, devido à entrada de novas informações no cálculo das Contas  Nacionais Trimestrais, divulgada pelo IBGE. A melhora, no entanto, foi  insuficiente para mudar o PIB do ano passado, que permaneceu com queda  de 3,8%.

“A Agropecuária pesa 5% do PIB. Se isso tivesse  acontecido na indústria ou nos serviços teria tido impacto imenso sobre o  PIB”, lembrou Rebeca.

No ano de 2016, o PIB da  Agropecuária também sofreu revisões, mas dessa vez para resultados ainda  mais negativos: a taxa do primeiro trimestre ante o mesmo trimestre do  ano anterior passou de -3,7% para -8,3%; enquanto o resultado do segundo  trimestre saiu de -3,1% para -6,1%.

“A gente usa o  Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, que nos dá estimativas da  produção anual da agricultura brasileira. Quando começou o ano, não  existia uma expectativa tão grande de quebra de safra como acabou  ocorrendo no período”, explicou Rebeca.

O milho foi o destaque nas perdas, mas revisões nas estimativas da safra de soja também tiveram impacto no resultado.

“Maior parte das revisões foi para baixo, por conta das condições climáticas”, lembrou a pesquisadora do IBGE.

Serviços

O  recuo menor no PIB dos Serviços no segundo trimestre do ano atenuou a  queda no PIB brasileiro no período. O PIB dos serviços no segundo  trimestre ante o mesmo trimestre do ano anterior passou de -3,3% para  -2,7%. Como consequência, o PIB do País saiu de -3,8% para -3,6% no  período.

Houve revisão para cima nos resultados dos  Serviços da administração pública, como saúde e educação, e da atividade  de Outros Serviços, que inclui alojamento, alimentação, saúde e  educação privados, serviços prestados a empresas, e serviços prestados  às famílias.

“Juntos eles são metade dos serviços e  explicam essa revisão”, disse Rebeca Palis. “Pela ótica da demanda, o  resultado rebateu mais nas despesas do consumo do governo, já que a  revisão foi mais nos serviços da administração pública”, acrescentou.

O  Consumo do Governo no segundo trimestre de 2016 ante o segundo  trimestre de 2015 passou de queda de 2,2% para recuo de 0,5%, após a  revisão.

Térmicas

O desligamento das  usinas térmicas este ano explica o avanço de 4,3% na produção e  distribuição de eletricidade, gás, água e esgoto no terceiro trimestre  ante o mesmo trimestre de 2015.

“A gente teve vários  desligamentos das térmicas. Quando a gente compara com o mesmo trimestre  do ano passado, quando quase todas estavam ligadas, tem crescimento”,  explicou Rebeca Palis.

A atividade foi a única a registrar  crescimento na indústria. No caso da perda de 1,3% na extrativa mineral  no terceiro trimestre ante o mesmo período de 2015, houve impacto, mais  uma vez da redução na extração de minério de ferro, como reflexo do  acidente com a barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais.

“A  extração de minério de ferro vem caindo desde o acidente de Mariana. O  acidente foi no quarto trimestre do ano passado. Desde lá, a extrativa  está apresentando taxas negativas. Antes disso, estava crescendo  bastante e a gente ate comentava que estava ajudando na economia”, disse  Rebeca.

Na indústria de transformação, o recuo de 3,5% no  terceiro trimestre teve impacto da menor fabricação de bens de capital,  como máquinas e equipamentos e veículos, além da contribuição das perdas  em produtos de metal, móveis e vestuário.

“Na transformação, a queda está muito relacionada com investimentos”, afirmou a coordenadora do IBGE.

Segundo  Rebeca, a paralisação de unidades da montadora Volkswagen por conta de  uma disputa com o fornecedor de autopeças também afetou o desempenho da  indústria automotiva e da transformação como um todo no trimestre. “O  problema na Volkswagen também prejudicou”, concluiu.