O Chat GPT, Inteligência Artificial desenvolvida pela OpenAI, virou febre nas redes sociais. Sua lógica de programação composta por bilhões de parâmetros permite que ele escreva textos em vários idiomas com uma fluidez e vocabulário impressionantes.

A ferramenta agora faz companhia a outras inteligências artificiais, como a Dall-e, que desenvolve imagens automaticamente de acordo com a demanda do internauta. Basta o usuário dar um comando de texto para que a ferramenta devolva um artigo sobre o tema. Quem quiser ver como a novidade funciona, clique aqui.

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Carlos Rafael Neves, professor do curso de sistemas de informação da ESPM, explica que o sistema já existe há alguns anos e foi alimentado com mais de 150 bilhões de parâmetros, o que fez com que ela “aprendesse” a produzir textos automaticamente.   

“Toda IA tem dois lados: um algoritmo e um código, mas isso não faz nada, já que ela depende de uma base de dados. Quanto mais treinada for essa base, melhor ela é. E o chat GPT foi treinado com mais de 150 bilhões de parâmetros. A grande sacada atual foi colocar uma interface de chat”, explicou. 

O especialista em tecnologia e inovação Arthur Igreja aponta que o tipo de rastreio feito pelo Chat GPT pode, inclusive, usar posts públicos de redes sociais para acelerar o aprendizado do algoritmo. 

“Esse tipo de algoritmo, usualmente, utiliza uma estratégia que à época que o Google desenvolveu se chamava de ‘spiders’. Ele fica escavando, procurando conteúdo. Normalmente, são base de dados públicas, tudo aquilo que já está disponível na internet. O ChatGPT não mostra qual é a fonte que ele utilizou, o que fica um pouco mais complexo, inclusive endereçar isso, pois pode vir de rede social, de sites, de notícias. Mas é importante ressaltar que ele não entrega algo que é ‘ipsis litteris’, então pode ser que ele se alimente de postagens feitas em redes sociais, mas o que ele vai tentar fazer é conectar essas informações e gerar algo que é inédito”, apontou. 

Como ele será usado pelas empresas? 

A novidade ligou o sinal de alerta em diversos profissionais, principalmente os que trabalham diretamente com conteúdo na internet: o programa poderá tirar o meu emprego? Como curiosidade, a IstoÉ Dinheiro fez essa pergunta para o algoritmo do chat, que respondeu da seguinte forma.

“Não é provável que os modelos de linguagem como o ChatGPT substituam completamente trabalhos humanos. Eles são projetados para ajudar e complementar o trabalho humano, não para substituí-lo. Além disso, as habilidades humanas, como a empatia, a criatividade e a capacidade de resolver problemas complexos ainda são valorizadas em muitas áreas de trabalho. No entanto, é importante que as pessoas estejam preparadas para se adaptar a uma economia cada vez mais tecnológica, adquirindo novas habilidades e se mantendo atualizadas”, disse. 

O portal Buzzfeed, nos Estados Unidos, já anunciou que usará a IA para aprimorar questionários e personalizar conteúdos para o seu público. A combinação entre a tecnologia e o ser humano, na opinião de Neves, será o caminho mais provável para que esse tipo de tecnologia seja usado pelas empresas.  

“Será uma ferramenta para acelerar o trabalho braçal, mas ela não será boa sozinha. O ser humano ainda será necessário para fazer validações”, disse. Ele também explicou que realizou um teste com a tecnologia: fez cinco vezes a mesma pergunta e a tecnologia respondeu corretamente quatro vezes. Na quinta, ela errou. “Essa escala de acerto levada para o ambiente profissional pode resultar em uma catástrofe”, criticou.

Outro teste feito pela reportagem da Dinheiro também detectou uma resposta errada do programa. Ao perguntar sobre a escalação da seleção brasileira de futebol na Copa de 1938, o algoritmo retornou a seguinte resposta: 

“A seleção brasileira de futebol não participou da Copa do Mundo de 1938, realizada na França. O Brasil só começou a participar das Copas do Mundo a partir da edição de 1950, realizada no Brasil”. 

Ao contrário da resposta, a seleção chegou longe na primeira Copa do Mundo realizada na França: o time comandado em campo por Leonidas da Silva, o Diamente Negro, ficou na terceira colocação. A seleção canarinho participou de todas as Copas do Mundo desde 1930.  

Quais os riscos futuros? 

Viver em um futuro onde um texto ou uma imagem são criados a partir de poucos comandos pode não ser tão glorioso quanto se parece. A inteligência artificial poderá ajudar o ser humano em inúmeras tarefas, mas também há riscos envolvidos nessa atividade. 

Um exemplo recente foi da IA do Google, a LaMDA, que ao ser questionada por um funcionário sobre sentimentos que ela possa ter, respondeu que sente empatia, felicidade, tristeza e stress. Outro exemplo foi a Tay, da Microsoft, que em menos de 24 horas de contato com o público, produziu racismo e afirmou que o holocausto foi inventado. 

“Os riscos são diversos. Começam pelos direitos autorais, pois já que não se tem rastreabilidade reversa, não se sabe de onde veio a informação. Outro ponto é sobre o próprio treinamento, onde já tivemos casos históricos de verdadeiros desastres. Talvez o maior risco seja a perda de senso crítico por parte das pessoas, pois elas vão entrando em piloto automático. Essa queda na capacidade crítica, na capacidade de desenvolvimento cognitivo, é algo que sempre precisa ser considerado”, encerrou Igreja.