Gilberto Chateaubriand, filho do polêmico Assis Chateaubriand, o Chatô dos Diários Associados,
é o maior colecionador de arte brasileira do País. Seu acervo começou em 1953, com a compra de um óleo de Pancetti. Hoje são mais de seis mil peças, conjunto estimado pelo mercado em R$ 100 milhões. Reputada, a celebrada coleção foi cedida, em regime de comodato, ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Engana-se, porém, quem imagina o tesouro como obra acabada, feita de peças antigas, de mero olhar ao passado, como costuma acontecer com museus envelhecidos. Aos 80 anos, Chateaubriand quer saber da juventude. Sua diversão é descobrir novos artistas. São nomes ainda pouco conhecidos e jovens, alguns com pouco mais de 20 anos de idade. Essa turma está reunida na mostra ?É Hoje?, no Santander Cultural, em Porto Alegre, que permanecerá aberta ao público até 28 de maio. São 120 trabalhos de 80 artistas brasileiros produzidos nos últimos 15 anos. ?É um recorte radicalmente contemporâneo da coleção?, diz Liliana Magalhães, superintendente do Santander Cultural. É rara oportunidade para descobrir o que há de novo na arte brasileira, e também excelente chance para conhecer nomes que, em pouco tempo, produzirão lucros.

A busca pelo contemporâneo sempre foi o segredo de Chateaubriand, década depois de década. Nos anos 1970 e 1980 ele caçou os trabalhos de Hélio Oiticica. Nos 1990, redescobriu Iberê Camargo e Manabu Mabe, sem nunca abandonar, é verdade, a aposta segura que representavam Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e Volpi. É difícil atribuir ao grupo novato, esse que desponta em Porto Alegre, o nome de alguma escola artística. Os ?ismos? já não são adequados, diante da vastidão de recursos, que vão da tela tradicional ao vídeo. ?Colecionadores devem arriscar e cometer loucuras?, diz Chateaubriand. ?O importante é analisar a obra e não o seu valor?. O grupo é diversificado. A paraense Denise Gadelha e os mineiros Bernardo Pinheiro e Thiago Rocha Pitta mal entraram na casa dos vinte. Mais experientes, em torno dos 40 e poucos, mas ainda fazendo parte do elenco promissor, estão Jarbas Lopes e Beatriz Milhazes, do Rio de Janeiro (esta já faz sucesso internacional), e Oriana Duarte, da Paraíba (acompanhe nas ilustrações ao lado e abaixo exemplos de boas obras da coleção). A mensagem de Chateaubriand é quase ingênua, por simples. ?É preciso ter um dom para identificar as oportunidades?, diz Chateaubriand. ?Há chances de se ficar milionário, desde que a escolha seja acertada?.

Ele aposta em artistas anônimos, ou ainda na infância da celebridade, desde que tenham talento. Pelos primeiros trabalhos comprados da fotógrafa Brígida Baltar, por exemplo, pagou pouco mais de R$ 500. Atualmente, a artista brasileira que traça uma trajetória internacional respeitável, tem seus trabalhos avaliados em R$ 10 mil. É a história que se refaz. Um dos quadros mais respeitados da coleção de Chateaubriand, o Vendedor de frutas, de Tarsila do Amaral, vale hoje cera de R$ 2 milhões, muito mais do que custou. São os segredos de um homem que sabe misturar o prazer estético com o faro financeiro.