03/06/2020 - 15:11
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, se distanciou da opinião de Trump e declarou nesta quarta-feira (3) que não concorda com o envio de militares para frear os protestos contra o racismo e a brutalidade policial que ocorrem no país.
Em meio aos protestos pela morte de George Floyd, um cidadão negro que foi sufocado por um policial branco em Minneapolis, na última segunda Trump ameaçou mobilizar militares para “resolver rapidamente a situação”, provocando uma onda de críticas.
Nesta quarta, o chefe do Pentágono marcou uma distância em relação a essa opinião, afirmando ser contra o uso de forças militares para conter a onda de protestos.
“Eu não apoio o uso da Lei da Insurreição”, disse Esper, que acredita que as tropas “devem ser usadas apenas como último recurso, e apenas nas situações mais urgentes e sérias”.
“Sempre acreditei e continuo acreditando que a Guarda Nacional é mais adequada para fornecer apoio interno às autoridades civis nessas situações”, afirmou o secretário de Defesa durante entrevista coletiva.
Esper também fez referência à polêmica ocorrida depois que Trump reprimiu uma manifestação pacífica em frente à Casa Branca na última segunda para evacuar a área e posar com uma Bíblia em frente a uma igreja que foi danificada após uma manifestação no fim de semana.
O chefe do Pentágono admitiu que foi um erro posar ao lado de Trump.
“Faço o possível para permanecer apolítico e evitar situações que possam parecer políticas”, afirmou.
“Às vezes consigo fazer isso e às vezes não”.
– 9.000 prisões –
Quase dez dias após a morte de George Floyd, os protestos continuam em grandes cidades como Washington, Nova York, Houston e Los Angeles, apesar do toque de recolher decretado após os tumultos do fim de semana.
Trump, que busca ser reeleito em novembro, manteve seu discurso nesta quarta e, apesar das críticas, repetiu no Twitter sua mensagem de “Lei e ordem!”.
As manifestações atingiram uma dimensão nunca vista desde a década de 1960, quando ocorreram os protestos pelos direitos civis. Em meio a isso, os Estados Unidos são o país com mais mortes pela pandemia do novo coronavírus, com mais de 106.000 mortes.
Em Washington, os manifestantes desafiaram o toque de recolher, mas não houve tumultos.
Em Nova York – onde as autoridades prorrogaram as restrições de tráfego noturno até 7 de junho – a situação era mais calma do que na última terça, quando ocorreram roubos na Quinta Avenida. Centenas de pessoas desafiaram o toque de recolher gritando “Sem justiça, sem paz” e cantando o nome de George Floyd.
“Nossos ancestrais lutaram por anos para impedir coisas assim, e isso continua acontecendo e estamos cansados. É frustrante que um policial possa matar, assassinar um homem na frente de uma câmera, na frente de todo o mundo”, disse à AFP Joy McClean, uma funcionária de uma ONG que vive no Bronx, em Nova York.
A polícia registrou até agora quase 9.000 prisões em todo o país, segundo estimativa da imprensa americana, por causa das violações do toque de recolher, atos de violência e desordem.
Em Minneapolis, o epicentro dos protestos, a situação aos poucos volta a se acalmar após os protestos no fim de semana.
O cantor AJ Channer, do grupo Fire from the Gods, explicou seu desconforto à AFP.
“Minha guerra não é contra a polícia, minha guerra é contra o sistema que permite isso”, disse ele. “Nunca falamos sobre racismo institucionalizado que é sistêmico, nunca falamos sobre as desigualdades”.
O policial que prendeu George Floyd e o conteve pressionando o joelho sob seu pescoço por nove minutos foi acusado de homicídio culposo, quando não se teria a intenção de matar.
Três outros oficiais presentes no ocorrido foram presos, mas nenhuma acusação foi apresentada contra eles.