Vários governantes, incluindo o primeiro-ministro tcheco, o rei da Jordânia e os presidentes do Quênia e Equador, ocultaram ativos em empresas offshore, inclusive com fins de evasão fiscal, afirma uma investigação jornalística internacional divulgada neste domingo (3).

O trabalho do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) sobre os chamados “Pandora Papers” – que envolveu quase 600 repórteres de dezenas de meios de comunicação, incluindo os jornais The Washington Post e The Guardian – se baseia no vazamento de 11,9 milhões de documentos de 14 empresas de serviços financeiros de todo o mundo.

Ministros dizem que empresas no exterior foram declaradas

De acordo com esses documentos, o rei Abdullah II da Jordânia criou pelo menos trinta empresas offshore em países ou territórios com facilidades tributárias, por meio das quais comprou 14 propriedades de luxo nos Estados Unidos e no Reino Unido, por mais de 106 milhões de dólares.

Os advogados do rei Abdullah II disseram à BBC que todas as propriedades foram compradas com sua fortuna pessoal. Eles argumentaram que é comum entre personalidades importantes comprar propriedades por meio de companhias offshore por motivos de privacidade e segurança.

Enquanto isso, o presidente equatoriano, Guillermo Lasso, depositou dinheiro em dois fundos fiduciários com sede em Dakota do Sul, nos Estados Unidos.

O primeiro-ministro da Tchéquia, Andrej Babis, por sua vez, colocou 22 milhões de dólares em empresas fantasmas que foram usadas para financiar a compra do Château Bigaud, uma grande propriedade localizada em Mougins, no sul da França.

Ao todo, o ICIJ descobriu ligações entre ativos offshore e 336 altos executivos e políticos, que criaram cerca de 1.000 empresas, mais de dois terços das quais estão nas Ilhas Virgens Britânicas.

Entre as personalidades expostas estão a cantora colombiana Shakira, a modelo alemã Claudia Schiffer e a lenda indiana do críquete Sachin Tendulkar.

Na maioria dos países, esses fatos não são passíveis de julgamento. Mas, no caso dos governantes, o ICIJ compara o discurso anticorrupção de alguns deles com seus investimentos em paraísos fiscais.

Outras revelações da investigação do ICIJ:

– Parentes e sócios do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, secretamente participaram de negócios imobiliários no Reino Unido na casa das centenas de milhões.

– O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, e seis membros de sua família são supostamente proprietários de uma rede de empresas em paraísos fiscais.

– Pessoas do círculo íntimo do primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, incluindo ministros e seus familiares, são supostamente proprietários secretos de empresas e fundos fiduciários com milhões de dólares.

– O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não aparece diretamente nos documentos, mas está relacionado a ativos secretos em Mônaco por meio de associados.

Criado em 1997 pelo Centro de Integridade Pública, o ICIJ se tornou uma entidade independente em 2017. Sua rede inclui 280 jornalistas investigativos em mais de 100 países e territórios, assim como cerca de 100 veículos de comunicação parceiros.

O ICIJ ficou conhecido no início de abril de 2016 com a publicação dos “Panama Papers”, uma investigação baseada em cerca de 11,5 milhões de documentos de um escritório de advocacia panamenho.