Por Eduardo Simões e Laís Morais

SÃO SEBASTIÃO/SÃO PAULO (Reuters) – Subiu para 40 o número de mortos pelas fortes chuvas que atingiram o litoral norte do Estado de São Paulo no fim de semana, informou o governo do Estado no início da noite desta segunda-feira, enquanto o trabalho de resgate de vítimas e pessoas ilhadas ocorria simultaneamente aos esforços de desobstrução de vias e rodovias.

Os corpos de mais quatro pessoas foram resgatados em São Sebastião, cidade mais duramente atingida pelos temporais, levando o total de mortos no município para 39. Uma pessoa também morreu vítima das chuvas em Ubatuba.

Equipes do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e das Forças Armadas trabalhavam no resgate das vítimas das chuvas que caíram na região que atrai grande quantidade de turistas para suas praias no feriado do Carnaval.

Há expectativa de que o número de mortos aumente, pois ainda há mais de 30 desaparecidos. A tragédia também deixou mais de 1.700 pessoas desalojadas e mais de 760 desabrigadas.

“Foi deprimente, foi uma avalanche. Estava chovendo no nosso prédio desde às 4h da sexta-feira. A gente teve que sair correndo. O carro da minha mãe deu perda total porque estava com terra até em cima. A gente graças a Deus sobreviveu”, disse Ligia Carla Samia, que estava na área do heliponto da Marinha em São Sebastião, onde helicópteros que participavam das buscas decolavam e pousavam.

As chuvas, que de acordo com o governo de São Paulo foram a de maior volume de que se tem registro na história do Brasil -682 milímetros em 24 horas–, também danificaram estradas e acessos a algumas regiões, deixando várias pessoas ilhadas.

As rodovias Mogi-Bertioga e Rio-Santos tinham trechos com bloqueios totais e parciais e as equipes também trabalhavam para liberar os acessos e permitir a saída das pessoas que foram passar o Carnaval na região, o trânsito das equipes de resgate e a chegada de ajuda humanitária.

Em pronunciamento à imprensa mais cedo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que transferiu o gabinete do governo paulista temporariamente para São Sebastião, disse que a recuperação da Rio-Santos levará tempo, pois ainda não foi possível dimensionar os danos. Há possibilidade de um trecho da rodovia ter sido arrastada pelas chuvas.

“Em alguns pontos a gente não sabe o que sobrou da rodovia”, disse. “A gente até levanta a hipótese da rodovia ter sido arrastada, da rodovia não existir mais”, acrescentou.

CALAMIDADE PÚBLICA

Tarcísio decretou estado de calamidade pública por 180 dias nas cidades de Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga e decretou luto de três dias no Estado.

Mais cedo, o governador e o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), se reuniram no Teatro Municipal da cidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que interrompeu o período de descanso do Carnaval na Bahia para inspecionar os danos causados pelo temporal.

Também em fala à imprensa, Lula prometeu parceria do governo federal com as gestões estadual e dos municípios atingidos, deixando de lado diferenças políticas, para reconstruir as áreas atingidas e construir moradias em locais seguros para os sobreviventes que perderam suas casas.

“Queria mostrar para vocês uma cena que vocês não viam há muito tempo no Brasil, um presidente, um governador e um prefeito sentados numa mesa ou na frente de um microfone em função de uma coisa que interessa a todos nós”, disse Lula aos jornalistas após a reunião.

“O bem comum do povo é muito mais importante do que qualquer diferença ideológica que a gente possa ter”, acrescentou Lula.

Antecessor de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro, padrinho político de Tarcísio, foi muitas vezes cobrado por não comparecer pessoalmente a locais afetados por tragédias ou por demorar a ir pessoalmente inspecionar os danos causados por tempestades durante seu governo. Também era criticado por confrontos com governadores e prefeitos que tinham linha política diferente da sua.

De acordo com o governo paulista, a previsão de tempo na região é de sol entre nuvens com chuvas típicas de verão.

A tragédia no litoral norte de São Paulo é a mais recente a atingir cidades brasileiras, onde construções precárias, muitas vezes feitas em encostas e áreas de risco, são palcos de desastres durante a temporada de chuvas no país.

Em fevereiro do ano passado, mais de 200 pessoas morreram após enchentes e deslizamentos de terra atingirem Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Bahia e Santa Catarina também sofreram recentemente com desastres naturais.

(Reportagem adicional de Amanda Perobelli, em São Sebastião, e Gabriel Araujo, em São Paulo)

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