10/10/2012 - 21:00
Não existe nada mais aborrecido e tedioso na disputa eleitoral brasileira do que os debates na televisão – independentemente da esfera (municipal, estadual ou federal) do pleito. Para justificar sua existência, parte-se do pressuposto de que, enquanto a propaganda gratuita deveria ter a função de informar os eleitores dos planos e propostas dos candidatos, os debates serviriam para o confronto de ideias entre eles. No entanto, seja por carência do que dizer, seja pelo engessamento das regras, o que se vê é um arrazoado de frases feitas e uma dislexia nas respostas dos candidatos.
As lembranças na mente dos eleitores desses confrontos devem-se mais aos fatos folclóricos ocorridos no passado – como o protagonizado pelo senador Eduardo Matarazzo Suplicy, do PT paulista, que levou uma tartaruga e um coelho de pelúcia para ilustrar sua tese de que “devagar se vai longe”, na disputa pela prefeitura paulistana, em 1985 – do que a discussões de fundo que permitissem diferenciar os programas dos candidatos. Em outros casos, é muito comum ver os mediadores-jornalistas se esfalfando para aparecer mais dos que os postulantes ao cargo e formulando pegadinhas que tampouco contribuem para o esclarecimento do distinto público.
Na mesma eleição a que concorria Suplicy, coube ao mediador, o jornalista e hoje apresentador de tevê Boris Casoy, perguntar ao então candidato Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus – uma questão decididamente nada relevante para quem teria a responsabilidade de resolver os problemas das enchentes no rio Tietê ou de construir mais escolas e hospitais na metrópole paulistana. Não sou contra os debates políticos como pode sugerir o título deste artigo. Mas, parafraseando o nobre deputado federal Tiririca, do PR paulista: “Do jeito que está, não dá para ficar.” Nesse sentido, recorro ao confronto entre o democrata Barack Obama, que concorre à reeleição a Presidência nos Estados Unidos, e o seu adversário republicano, Mitt Romney, ocorrido na quarta-feira 3, como algo que deveria servir de exemplo para os próximos encontros entre os candidatos na televisão brasileira.
O jornalista Tim Leher, da emissora estatal PBS, que mediou o debate, foi exemplar na condução do embate: não apareceu mais do que os candidatos e deixou a conversa fluir. Sua intermediação ajudou a determinar e enfatizar a diferença de propostas dos dois candidatos, que puderam debater livremente sobre a forma como pretendem governar os Estados Unidos. É claro que, em tempo tão exíguo, é impossível detalhar propostas. Mas, ao final dos 90 minutos, os eleitores tinham informações que mostravam a diferença de estilos de gestão dos dois candidatos. É fato que as regras menos engessadas do debate americano contribuíram para isso.
Os microfones não eram cortados quando o tempo estourava e Obama e Romney puderam responder às provocações mútuas sem se preocupar com o relógio. No Brasil, há alguns limitantes para esse formato mais solto. A quantidade de postulantes aos cargos executivos é enorme. A legislação eleitoral também não ajuda muito, pois, a princípio, garante a participação de um concorrente cujo partido possui um único representante na Câmara dos Deputados. Mas o modelo americano poderia ser aproveitado em um eventual segundo turno. Nem tudo o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. Mas nesse caso deveríamos seguir o exemplo da terra de Tio Sam.