13/04/2012 - 21:00
Nunca se viu antes uma ofensiva tão firme e decisiva de um governo contra a inexpugnável muralha de juros dos bancos que há décadas barra a competitividade da economia. Protestos de autoridades e da sociedade civil ao longo de décadas foram muitos. Mas medidas contra taxas escorchantes – decantadas como as mais altas do mundo – ficaram por terra. Não passaram de promessas ou ameaças protocolares. A presidenta Dilma e sua equipe estão dispostas a mudar esse estado de coisas e receberam amplo apoio quando determinaram a redução dos juros nos empréstimos da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, simultaneamente a uma política de redução da Selic, hoje abaixo de um dígito.
Todos sabem, não há nada mais eficaz do que a concorrência para frear a exploração predatória. Com tabelas comparativas das taxas qualquer cliente pode verificar o fosso que se abriu entre o “spread” praticado na rede pública e o cobrado na malha privada. A opção está mais fácil. E certamente o movimento vai forçar a uma revisão do “modus operandi” das instituições na busca por eficiência (leia-se: custos mais baixos e taxas mais civilizadas ao tomador). Ao cair o manto de mistério que cobria a composição do “spread” bancário, brasileiros perceberam indignados que a margem líquida do setor, o chamado lucro puro, gira em torno de inacreditáveis 34,15%. Qual negócio no Brasil dá tamanho retorno? O spread médio em outros países não ultrapassa os 3%. Na vizinha Argentina é de 1,4%.
Na Holanda, negativo. Bancos brasileiros se acostumaram a alegar que cobravam alto devido a riscos de toda ordem, inadimplência, impostos, compulsório, custos administrativos, fatores em geral fora do seu controle. O risco caiu, a economia melhorou e a margem deles segue inalterada de maneira inercial. Para alcançar um patamar de relações comerciais sadias, em sintonia com o que há de melhor em várias praças, o Brasil precisa de um sistema financeiro estimulador do desenvolvimento e não o contrário. A surrada tática de jogar a culpa de spreads elevados no colo do Estado não cola mais, e o governo, ao pressionar por uma queda através de instrumentos monetários disponíveis, fez história, indo ao encontro dos anseios da imensa maioria dos brasileiros. Nesse ambiente, a era dos juros altos chegou ao seu limite.