06/10/2004 - 7:00
DINHEIRO ? Qual será a sua primeira medida na Fiesp?
PAULO SKAF ? A prioridade é o lado interno, é arrumar a casa. Mas já vamos começar a planejar idas semanais a Brasília. Quero estar presente no Congresso Nacional, de forma constante. Existem demandas enormes em todos os setores da indústria, da área tributária ao preço do crédito. O que não falta é problema.
DINHEIRO ? Existem coisas mais prioritárias que outras?
SKAF ? Em alguns setores há problemas de comércio exterior que são fundamentais para a sobrevivência. Em outros, os problemas mais graves estão na área ambiental ou na área tributária. Alguns estão em uma guerra fiscal que quase inviabiliza a atividade. Vai ser difícil priorizar um único problema. Vamos ter de trabalhar em uma série de frentes, mas sempre visando a obtenção de resultados.
DINHEIRO ? O sr. fala em ?autoridade produtiva?. Que idéia é essa?
SKAF ? No Brasil só se fala de autoridade monetária. O Banco Central do Brasil se preocupa apenas com moeda, enquanto nos EUA, por exemplo, ele também se preocupa com o emprego. Nosso modelo é europeu, voltado exclusivamente para a moeda. Só que existem outros interesses no País também. E esses outros interesses precisam ser defendidos. Eu entendo que há necessidade de se criar uma autoridade produtiva, que defenderia os interesses de quem trabalha e de quem produz. A produção passaria a ter voz para valer.
DINHEIRO ? Como se faria isso?
SKAF ? Num movimento no qual a Fiesp, em parceria com a CNI e os setores do comércio e de serviços, junto com a agricultura e com os trabalhadores, ajudaria a montar uma articulação no Congresso Nacional, lutando por uma cadeira no Conselho Monetário Nacional para trabalhadores e para a indústria. Tudo se constituiria na figura da autoridade produtiva. Ela é importante para que a gente participe da formulação das políticas econômicas e não fique sempre recebendo pratos prontos e pagando o custo das decisões das quais não participamos.
DINHEIRO ? Muitos dizem que a Fiesp acabou se tornando um crítico irrelevante do governo.
SKAF ? O importante é termos uma Fiesp voltada para fora. Logo que eleito, antes mesmo de assumir, eu estive em Brasília e conversei no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Fiz o mesmo aqui em São Paulo, inclusive buscando contatos com o comércio, a agricultura e os trabalhadores. A mensagem que eu tenho levado é a de uma Fiesp do diálogo, da parceria, preocupada com o País, buscando aproximação com todos os atores importantes que compõem o Brasil. Não vamos ficar sentados criticando. Vamos a campo. Quero estar metade do tempo fora do prédio da Paulista.
DINHEIRO ? O sr. não vai bater, vai só conversar?
SKAF ? Na minha vida tenho tido experiências de que na parceria e na união se conseguem bons resultados. Mas também tive momentos em que foram necessárias atitudes fortes, de enfrentamento, e não pensei duas vezes. Me lembro quando tivemos um surto de importação de camisas a meio dólar e precisávamos de uma sobretaxa. Tomamos uma medida de força para chamar a atenção das autoridades. Fechamos a rodovia Anhangüera. Foi um momento em que houve necessidade de enfrentamento, e fomos para ele. Posso me lembrar de um ou dois momentos como esse, mas há dezenas ou até centenas de outros que foram na conversa que a gente conseguiu resultados.
DINHEIRO ? Como o sr. pretende trabalhar com o governo, mais na parceria ou no confronto?
SKAF ? Não tem regra. Se for necessário a parceria, fazemos. Se for preciso confronto, vamos ter confronto.
DINHEIRO ? Ficou da eleição a imagem de que Paulo Skaf é o homem do governo na Fiesp. Corresponde?
SKAF ? No período eleitoral sempre se tem aquelas emoções próprias da disputa. Na época, os nossos opositores, como não podiam negar que todo mundo queria que o presidente da Fiesp tivesse um perfil político de articulador, e como as pessoas me vêm dessa forma, houve a tentativa de colocar essa relação com as autoridades como alguma espécie de dependência em relação a governos ou partidos. Isso é a maior bobagem, até porque a minha relação é com todos os partidos políticos. Eu nunca tive filiação partidária na minha vida. Essa confusão, se existe, o tempo rapidamente vai apagar ? pelas atitudes, pelo trabalho e pela independência que a Fiesp terá em defender aquilo que for melhor para a indústria e o País.
“A guerra fiscal existe e Alckmin está certo em tentar proteger São Paulo”
DINHEIRO ? A quantas altas do juro o sr. acha que a sua boa relação com o ministro Palocci vai resistir?
SKAF ? Sugeri que as reuniões do Copom passassem a ser bimestrais para evitar essa perda de tempo mensal. Pelo menos se ?intervalava? um pouco essa conversa sobre juros e a gente poderia trabalhar em outros temas que são mais importantes. Mais do que ficar na expectativa do aumento de juros, entendo que devemos deixar a autoridade monetária decidindo pela moeda enquanto nós corremos atrás da autoridade produtiva. Assim, teremos voz ativa para permitir que as coisas aconteçam visando também os interesses do emprego e do investimento.
DINHEIRO ? Como o sr. reagiu à decisão do governo de elevar o superávit primário?
SKAF ? O superávit já estava acima do previsto. Foi uma medida baseada no que já estava acontecendo. Desde que se trabalhe na ponta da despesa, para redução do tamanho do Estado, tudo bem.
DINHEIRO ? E a ?primavera tributária? do governo paulista, que foi interpretada como guerra fiscal?
SKAF ? Estou feliz com a redução de impostos, mas não estou realizado. Acho que todos os setores da indústria paulista que estão com 18% devem ser reduzidos para 12%. Semanas atrás, quando estive conversando com o governador, soube que os setores que já tiveram redução de ICMS registraram aumento de arrecadação. Ora, se a redução de imposto inibe a informalidade e a migração de investimentos para fora do Estado, se ela aumenta a arrecadação do Estado e aumenta a competitividade dos setores produtivos, por que não estendê-la a todos os setores?
“Minhas relações com Claudio Vaz estão ótimas. O confronto já acabou”
DINHEIRO ? E a guerra fiscal?
SKAF ? Ela não é nova. Tínhamos de ter pensado nela lá atrás. O máximo que se pode fazer agora é minimizar as diferenças entre os Estados com uma redução como essa que foi feita em São Paulo.
DINHEIRO ? O sr. tem a sensação de que mudou a atmosfera e há agora um diálogo mais intenso entre a indústria e o governo?
SKAF ? Acho que se o diálogo é ruim e se não somos ouvidos a culpa é nossa. Quem tem de tomar uma atitude é a classe empresarial. Se a Febraban defende com efi-
ciência os seus interesses, cabe à Fiesp fazer o mesmo em nome do setor produtivo.
DINHEIRO ? O sr. não teme criar expectativa exagerada em torno da sua gestão?
SKAF ? Sempre fiz assim na minha vida. No setor têxtil as expectativas foram superadas. Não é promessa, é a vontade de perseguir até conseguir. Acredito que o Brasil precisa que essas coisas aconteçam. Precisa de trabalho e precisa de crescimento. Depois de 20 anos sem crescimento, não há mais fôlego ou paciência para administrar crises. Então temos que acreditar e correr atrás.
DINHEIRO ? Qual é o clima entre os empresários com o crescimento da economia. Está todo mundo feliz?
SKAF ? Varia. Os exportadores e o agronegócio estão animados. Há outros setores que estão a pleno, mas sentem que seus preços não dão bons resultados.
Em outros, voltados para o mercado interno, há dificuldades, apesar da melhora recente. Está bem variado, mas há um astral mais para o lado positivo
do que negativo. Temos que aproveitar esse clima
e fazer com que as coisas aconteçam.
DINHEIRO ? Começaram as greves de novo e já
houve uma demonstração aqui na porta da Fiesp.
Como o sr. vê isso?
SKAF ? Sempre fui empresário, desde os 18 anos, e sempre negociei com funcionários. Ao longo desses anos também fui presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis, que negociava todos os anos com os sindicatos. Temos que encarar essas coisas com naturalidade. O entendimento sempre ocorre. O que todos querem é que o Brasil retome o crescimento, que haja emprego, renda e investimentos.
DINHEIRO ? Existe uma grande preocupação em torno da capacidade e da disposição das empresas em investir…
SKAF ? Investimento está ligado a confiança, regras claras. É importante que se tenha um ambiente favorável. Quando se discute o aumento de juros, por menor que ele seja, emitem-se sinais negativos, que inibem investimentos. Temos que dar sinais positivos e reduzir a carga tributária.
DINHEIRO ? Já está claro como será a divisão de trabalho entre o senhor e Claudio Vaz, vencedor do Ciesp?
SKAF ? Ainda não. As responsabilidades da Fiesp são claras e bem definidas, mas, em relação a algumas ações comuns entre as duas entidades, foram criados comitês que vão decidir como proceder nesses casos. Em alguns casos vai se continuar com a atividade comum, a parceria, e em outros vamos separar as coisas. Vamos tratar isso com a maior naturalidade.
DINHEIRO ? O relacionamento vai ser na base do confronto ou da cooperação?
SKAF ? Não tem mais confronto. Isso acabou.
É cooperação. O que está em jogo é o interesse
maior da indústria.
DINHEIRO ? As suas relações pessoais com o Claudio Vaz…
SKAF ? São ótimas. Estão ótimas.
DINHEIRO ? Quem ficou com a sala da presidência da Fiesp, no 14º andar?
SKAF ? Aquela vai ser uma sala institucional, para ser usada em ocasiões especiais. Vou montar uma sala de trabalho no 3º e outra no 6º andar. A sala não faz o presidente da Fiesp. É o presidente da Fiesp que faz a sala.
DINHEIRO ? A que horas o sr. vai começar o expediente?
SKAF ? Esses dias eu tenho chegado aqui antes das 8 horas e saído tarde, mas
estou sentindo falta de nadar pela manhã. Antes da campanha eu fazia três mil metros entre as 6h30 e 7h30. Vou me esforçar para recomeçar. Quando não
estiver nadando vou chegar aqui entre 7 e 7h30 da manhã, e ficar até a hora que
for preciso. Mas eu pretendo passar pelo menos um dia da semana em Brasília, circulando e defendendo a indústria.