Está perto o aniversario de primeiro semestre no poder de Michel Temer. E a data se aproxima com a virada de ano. “Ano novo, vida nova!”, prega a sabedoria popular. Todos aguardam esperançosos por uma guinada o quanto antes também no quadro de retração que castiga empresas e empregos. Muitos imaginavam e torciam por uma transformação mais rápida. O papel indutor do Estado tem relevância ainda mais acentuada nessas situações. Para além dos ajustes de caixa, da arrumação na casa, do limite nos gastos públicos, a sinalização positiva com medidas de estímulo ao crescimento precisa entrar na ordem do dia.

Não há como negar a importância do ajuste fiscal e da austeridade na máquina. Inexistem dúvidas a esse respeito. Mas tais fundamentos precisam vir acompanhados de movimentos concretos rumo à retomada. O programa de concessões, por exemplo, que almeja reunir aportes de bilhões de reais (pelo menos R$ 20 bilhões no setor portuário até 2018), ainda patina. O governo costura lentamente os apoios no Congresso para destravar o projeto. Acelerar as decisões nesse campo – que é tido e havido como pedra de toque da economia – seria um passo decisivo e revigorante do ânimo geral.

Nos EUA, logo que venceu as eleições, o temido Donald Trump angariou rapidamente otimismo (e o retorno de dólares que estavam fora) com as suas promessas no campo da infraestrutura. Há quem diga que ventos de progresso vão soprar com mais força por lá. Enquanto isso no Brasil, o efeito Trump balançou para baixo as expectativas. Teme-se entre outras coisas uma desaceleração na redução dos juros que mal havia começado por aqui. A mexida nos instrumentos monetários nesse momento precisa ser muito cuidadosa, mas também deve levar em consideração seu papel para vitaminar os investimentos.

Juros baixos promovem o giro do credito e ajudam a mover o ciclo positivo do mercado. As previsões de um PIB na casa de 1% em 2017 ainda estão mantidas. Será um desempenho tímido, porém fundamental na demonstração de que a roda do desenvolvimento voltou a se movimentar. O Fundo Monetário emitiu na semana passada mais uma avaliação sobre o Brasil, prevendo que a saída do quadro recessivo se dará de forma lenta e gradual.

Apontou que o País tem condições de lidar com o que chama de “volatilidade Trump”. Claro que muito da aposta depende da ação e dos planos do presidente Temer e de sua equipe. Caberá a eles encontrar o caminho do equilíbrio entre o necessário freio nas despesas do Estado e o vital incentivo à livre iniciativa. Por enquanto as mexidas prevalecem no campo do corte. É chegada a hora de contrabalancear a equação.

(Nota publicada na Edição 994 da Revista Dinheiro)