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COM A CASA ARROMBADA, O XERIFE entrou em cena. Eis o que aconteceu nos Estados Unidos na segunda-feira 31, quando o secretário do Tesouro, Hank Paulson, anunciou aquela que seria a maior reforma no sistema financeiro desde a crise de 1929. Com as mudanças, tanto o Federal Reserve quanto a Securities Exchange Comission, órgãos que seriam similares ao Banco Central e à CVM no Brasil, ganharam poderes para investigar instituições financeiras, corretoras, bancos de investimento e até mesmo companhias hipotecárias. ?Nossa estrutura regulatória não foi feita para lidar com um sistema financeiro moderno?, disse Paulson, que é do ramo. Embora seja neófito no governo, ele comandou durante vários anos a Goldman Sachs, uma das principais casas de Wall Street.

Seu pacote, no entanto, foi alvo de críticas. O economista Paul Krugman o definiu como a ?estratégia Dilbert?, referindo-se ao personagem em quadrinhos do mundo corporativo que, quando não sabe o que fazer, muda o organograma da empresa.

Seja como for, o plano de Paulson representa um adeus à era de laissez-faire absoluto nos mercados financeiros. Mas também não deixa de ser previsível. Nos anos 30, depois da Grande Depressão, os Estados Unidos criaram uma estrutura regulatória. Na década de 70, quando o regime de padrão-ouro que mantinha fixas as taxas de câmbio ruiu, Richard Nixon não se envergonhou ao abandonar o discurso liberal. ?Agora somos todos keynesianos?, disse ele, numa frase famosa. No Brasil, a fiscalização sobre o sistema financeiro também avançou em momentos de crise. Foi em 1999, depois dos escândalos Marka e Fonte Cindam, que o Banco Central passou a fiscalizar as posições das instituições financeiras nos mercados futuros. Há quem diga até que o Brasil tem hoje um sistema de controle de risco mais conservador do que o dos Estados Unidos. É o caso de Gustavo Loyola, ex-presidente da autarquia. ?As medidas do Paulson vão na direção correta e trazem lições para aqueles que querem tirar do BC o poder de regulação?, disse ele à DINHEIRO. Sobre a reforma feita depois da porta arrombada, Loyola foi fatalista. ?No fundo, é sempre assim que acontece.?