Com mais da metade dos municípios em situação de emergência por causa da cheia dos rios, o Amazonas também contabiliza prejuízos na agricultura. De acordo com estimativa do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do estado (Idam), as perdas no setor já somam R$ 128 milhões. As culturas mais afetadas são as das hortaliças, como couve, repolho e cheiro-verde, além da produção de tomate, banana, mamão e maracujá. De acordo com o chefe do Departamento de Assistência Rural do Idam, Alfredo Pinheiro, as plantações mais atingidas pela cheia estão localizadas em áreas de várzea, sujeitas a alagamentos todo os anos.

“Nos municípios da região metropolitana de Manaus que contribuem para o abastecimento das feiras e mercados com hortaliças, a maior parte dos produtores trabalha em área de várzea. Eles já têm um certo hábito de conviver com essa questão da várzea. Em algumas comunidades dos municípios de Iranduba, Manaquiri, Manacapuru e Careiro da Várzea, quando a cheia não é muito acentuada, eles sabem que vão ter que suspender a produção deles por três ou quatro meses do ano. Quando a cheia vai um pouco além do normal, como está acontecendo esse ano, não dá tempo de colher, principalmente, a cultura de hortaliças”, explicou Pinheiro.

Só com a cultura da malva, utilizada para produção de fibras, os prejuízos chegam a R$ 5 milhões, porque toda a plantação é feita na várzea. Alguns produtores ainda insistem em cultivar nessas áreas porque é mais barato.

“A orientação do Idam é que o produtor saia definitivamente da várzea. Coisa que é difícil, porque o trabalho na várzea é mais econômico e prático. Preparar área da várzea sai mais em conta, usa menos insumos, não se investe muito dinheiro em fertilizantes, o ciclo de algumas culturas é bem mais rápido do que em terra firme, então ele tem algumas vantagens e por isso resiste em sair da várzea”, ressaltou Pinheiro.

Carestia

O Idam descarta a possibilidade de desabastecimento, mas os produtos podem ficar mais caros e escassos. O consumidor já está sentindo esses efeitos. Lorena Cabral trabalha em um restaurante e conta que está com dificuldades de adquirir algumas hortaliças nas feiras e supermercados de Manaus.

“No momento, o que está mais difícil e caro é o tomate. Para a mesa do brasileiro, para o nosso dia a dia, está muito caro. Fora as hortaliças, alface, couve, cheiro-verde, pimenta-de-cheiro, tudo se tornou muito escasso. São coisas que a gente comprava com muita facilidade e hoje estão escassas no mercado”, afirmou Lorena.

Cerca de 6 mil famílias notificaram o Idam, até o momento, sobre as perdas na agricultura, mas esse número pode ser maior. O instituto pede que os produtores informem os prejuízos com a safra, principalmente, aqueles que pegaram crédito rural. Só assim será possível conseguir um laudo técnico para apresentar aos bancos na hora de renegociar as dívidas.

Trinta e cinco municípios amazonenses estão em situação de emergência por causa da cheia dos rios. O último a entrar na lista foi Nhamundá, na calha do Baixo Amazonas. A subida dos rios afeta mais de 62 mil famílias no estado. Outros 11 municípios estão em situação de alerta, entre eles, Manaus.