28/10/2009 - 8:00

“Com as sementes fazemos essências exportadas para 26 países e vendidas para 300 empresas no Brasil”Ulisses Sabará, da Beraca
A beleza natural do município de Salvaterra, na Ilha de Marajó (PA), reúne uma vegetação intacta, criações de búfalos e praias desertas de água salobra. Ali, cerca de 17 mil habitantes vivem praticamente da pesca e da venda de artesanato. O trabalho só para nos meses de cheia, entre janeiro e junho, quando ocorre a migração dos peixes para outras praias. A mesma chuva torrencial dessa época do ano faz com que sementes diversas caiam das árvores em abundância e sejam levadas pelos igarapés até o litoral. A quantidade de sementes é tanta que, nas épocas de estiagem, a solução era a queimada. Pois o que era um problema ambiental tornouse um fator de crescimento profissional para os moradores e um negócio promissor para uma empresa. A virada ocorreu a partir de um projeto desenvolvido na região pela Beraca, maior fornecedora de matéria-prima orgânica para a indústria cosmética do País. A partir de 2001, a empresa ajudou os moradores a organizar uma cooperativa para coletar sementes de ucuuba, pracaxi e andiroba. “Com as sementes fazemos essências que são exportadas para 26 países e vendidas para 300 empresas no Brasil, entre elas Natura, L’Occitane, Avon e Boticário”, conta Ulisses Sabará, um dos sócios-diretores da companhia.

A finalidade era gerar renda extra para as famílias e obter os produtos de maneira sustentável para vendê-los depois. Atualmente, cada uma das 30 famílias cooperadas recebe R$ 750 por mês pela coleta. “Treinamos todos para que eles pudessem fornecer a semente para nós e, ao mesmo tempo, ajudamos no desenvolvimento da região”, diz Sabará. A iniciativa rendeu à Beraca este ano o prêmio SEED Awards de Empreendedorismo em Desenvolvimento Sustentável, conferido pela ONU.
Junto com o irmão, Marco Antonio, Ulisses comanda a empresa que espera faturar R$ 111 milhões este ano, com as outras três divisões: alimentação, produtos químicos e ração animal. Por enquanto, apenas 12% do faturamento vem da venda de essências. “Essa divisão ainda não se sustenta sozinha, esperamos que isso aconteça no ano que vem”, conta Ulisses. A empreitada dos irmãos na Amazônia começou em 2001, com a compra de parte da Brasmazon, indústria formada por professores da Universidade do Pará. Após comprar 100% da fábrica, em 2003, os Sabará investiram R$ 10 milhões no desenvolvimento de essências a partir de sementes e raízes encontradas na floresta. “Testamos os atributos das matérias usadas há anos pelos nativos da Amazônia para que elas pudessem ser produzidas em escala industrial”, diz o diretor.
