04/02/2004 - 8:00
As grandes revoluções tecnológicas nos meios de pagamento ocorreram a passos lentos. Inovações como o caixa eletrônico e o cartão inteligente dotado de microchip nasceram desacreditadas. Com o tempo, mostraram sua força. Pode parecer improvável, depois da explosão da internet, que novidades nesse campo possam ainda produzir impacto. Mas há, sim, criações com força para mudar o curso dos negócios. Um projeto da Associação Brasileira das Empresas de Informação, Verificação e Garantia de Cheques, a Abracheque, pretende criar o cheque virtual, eliminando o papel no processo de compensação. É uma forma de turbinar as tradicionais folhinhas timbradas, que lutam para sobreviver diante do avanço dos cartões de crédito e débito. A idéia é tornar o cheque eletrônico mais competitivo ao reduzir a inadimplência e as fraudes. A novidade trará ainda outra vantagem: eliminar a logística necessária para a movimentação de grandes volumes de talões entre as instituições financeiras. Hoje, essa atividade representa gastos da ordem de R$ 200 milhões anuais.
O funcionamento anunciado é simples: o cheque emitido pelo correntista será interpretado, no ponto-de-venda, numa leitora óptica homologada pela Abracheque. As informações contidas no código de barras serão enviadas automaticamente para a câmara de compensação. Ali, passarão pela certificação digital. Em seguida, haverá a conferência com o banco do emitente e a verificação nas empresas de garantia de crédito. ?Um cheque fraudado será descoberto na hora?, diz Carlos Pastor, presidente da Abracheque. O papel ficará em poder do varejista, que, depois de 90 dias da transação, poderá destruí-lo. ?Nenhum cheque irá para o banco, que economizará com o fim das filas e malotes?, diz Pastor. O projeto prevê a criação de uma câmara de compensação e liquidação na qual a autenticidade dos cheques será averiguada no ato da compra e o crédito descontado em segundos.
A proposta ainda depende da aprovação do Banco Central, mas, caso seja autorizada, deverá entrar em funcionamento já no final de 2004. O principal objetivo é desonerar os lojistas, que costumam reclamar dos custos do cartão de crédito. Aprovado, o projeto de conversão eletrônica poderá ainda incentivar o varejista a receber cheques pré-datados com menos exigências, beneficiando o consumidor. Aos bancos que participarem da câmara, a Abracheque se compromete a reduzir o custo de compensação em até 50%. Atualmente, o Banco do Brasil cobra R$ 3,80 para compensar o lote de mil folhas. Segundo Pastor, a entidade não quer lucrar com a câmara e sim garantir a longevidade do cheque como meio de pagamento do futuro.