Fabiano Cerchiari/ag. istoé

Planos ambiciosos:
comandada no Brasil por Luís Curi (ao lado), a Chery pretende vender quatro mil unidades de seus carros ainda este ano. O primeiro modelo lançado no País será o Tiggo (acima)

Entre os diversos números estratosféricos apresentados pela China um dos que mais salta aos olhos dos ocidentais é o do setor automotivo. O país ocupou, em 2008, o segundo lugar no ranking mundial de produção de veículos leves e automóveis (veja quadro ao lado). Há décadas conhecido como o país das bicicletas, a China está obstinada a se tornar o maior produtor de automóveis do mundo. E não mede esforços para isso.

O mercado chinês conta hoje com mais de 100 montadoras de automóveis. Todas com nomes desconhecidos e difíceis de pronunciar. Aqui no Brasil, duas delas Chana e Effa, já atuam desde 2007. Agora é a vez de a Chery, a maior das marcas 100% chinesas, anunciar seu desembarque por aqui. A montadora fechou uma sociedade com o JLJ, grupo de empresas de alimentos com sede em Itu, capital paulista, cujo principal negócio é fornecer refeições para escolas.

Juntas, as companhias investirão US$ 35 milhões nas operações da montadora no Brasil. A maior parte desse dinheiro irá para a abertura de 55 concessionárias em 13 Estados até dezembro deste ano. O carro escolhido para iniciar as vendas foi o Tiggo, que será oficialmente lançado no próximo dia 20. O utilitário irá concorrer com a EcoSport, da Ford, e com os demais da categoria. Ainda este ano, outros três modelos serão comercializados.

Na fabricação dos veículos, a Chery seguirá a mesma cartilha das outras empresas chinesas presentes no Brasil. O carro será montado no Uruguai com peças importadas da China e custará R$ 49,9 mil. Vale lembrar que Chana e Effa não atingiram seus objetivos comerciais no País. As duas registraram vendas bem abaixo do que estimavam.

Mas a Chery acredita que seu destino será diferente. As cartas guardadas na manga da montadora são peças de reposição baratas, extensão de garantia de três anos e a oferta de uma assistência gratuita 24 horas para o caso de pane motora e elétrica do veículo. Tudo para assegurar a comercialização de quatro mil unidades ainda este ano e faturamento de R$ 170 milhões. “Sabemos que há um estigma de que produtos chineses não têm qualidade. Vamos mostrar que melhoramos a produção a ponto de concorrer em igualdade de condições com as marcas ocidentais”, diz Luís Curi, CEO da Chery no Brasil.

Apesar do otimismo, Curi sabe que terá de enfrentar muitas barreiras para atingir esse objetivo. Uma das principais está relacionada à maturação da marca, que deve demorar cerca de cinco anos, segundo Olivier Girard, diretor da Trevisan Consultoria. “A Chery deveria ter feito parcerias com grandes lojas multimarcas, como a Itavema.

O produto só se torna conhecido quando está exposto na vitrine”, afirma Girard. Apostar em públicos específicos de consumidores também ajudaria nas vendas. “Os chineses acreditam que podem competir de igual para igual com os ocidentais.

Falta os consumidores ocidentais concordarem, a ponto de pagar mais pelos produtos deles”, comenta o consultor de mercado Paulo Sérgio Rosa. Mas nada parece abalar a tranquilidade oriental da Chery. Tanto que a montadora já definiu quais outros modelos trará ao Brasil. São eles: Face (chamado de A1 na China), com preço de R$ 30 mil, para competir com o Fox, da Volkswagen; QQ3, que lembra o Fiat 500 e custará entre R$ 23 mil e R$ 24 mil; e o A3, recém-lançado no Salão de Xangai.

Nas versões hatch e sedã, o modelo terá no Brasil um nome escolhido pelos clientes brasileiros. “Essa será a primeira de muitas campanhas de marketing que faremos para disseminar a marca”, comenta Curi. De olho no promissor setor automotivo nacional, e nos benefícios dos acordos comerciais que o País possui, a intenção é inaugurar no Brasil sua primeira fábrica fora da China.

Com a produção local, a montadora baratearia a importação para países emergentes e aumentaria sua capacidade de produção para abastecer as regiões da América Latina e África. “Prosperar os negócios no Brasil é hoje uma das principais missões da Chery. Esperamos abrir a fábrica aqui até 2012”, afirma Curi. Ou seja, os planos da Chery de conquistar o setor automotivo no mundo começam pelo Brasil.