Uma foca leopardo é vista de vez em quando perambulando solitária entre um e outro iceberg na paisagem majestosa da Laguna San Rafael, no norte da Patagônia chilena. A tripulação do Catamaranes del Sur, sob a batuta do comandante Marcelo Vargas, batizou-a de Rafaela e garante que bem aventurados são aqueles que conseguem enxergar o animal perto do inabitado paredão de gelo de 700 metros de extensão e 35 metros de altura. O lugar, cujo degelo acelerado pelo aquecimento global consome oito centímetros diários do paredão, encanta turistas como o espanhol Edoardo Navarro. Aos 79 anos, ele armou-se de ânimo para voar de Madri rumo a Puerto Chacabuco.?Que aventura!?, vibrava, ao acomodar-se no bote inflável ao lado da mulher Maria Carmem, de 78 anos. Num cenário onde sempre se avista de algum ponto a Cordilheira dos Andes, eles não viram Rafaela. Mas admiraram a 500 metros de distância a geleira azulada de 18 mil anos que avança pelo Campo de Gelo do Norte, território congelado em meio a montanhas de mata nativa.

Por trás do encanto glacial da lagoa de 130 km quadrados, cujo acesso turístico até cinco anos atrás só se dava por meio de cruzeiros de três a sete dias, há um esforço do Chile para torná-lo um destino mais freqüente dos compatriotas de continente. E não só ali. O Chile quer mais brasileños tanto na sua Patagônia quanto nos Lagos Andinos. O país aproveita a onda de crescimento de turistas brasileiros ? em 2001, foram 72 mil e em 2004, 122 mil. A Corporação de Promoção Turística do Chile (CPT) fechou 2005 com um aumento ao redor de 12% da presença de brasileiros no sul.

Um dos alvos são os icebergs flutantes em San Rafael. A Detroit Chile, forte em construção naval, investiu US$ 11 milhões nos últimos cinco anos no vilarejo de Puerto Chacabuco, na região de Coihaique, para ser a base de saída mais rápida rumo a Laguna San Rafael. Cerca de 20 cruzeiros europeus serão recebidos em Puerto Chacabuco durante as férias. Em pacotes de seis dias oferecidos por agências brasileiras, a viagem custa US$ 1.758. Dali, saem dois confortáveis catamarãs com capacidade para 100 pessoas num passeio que dura em média 12 horas. Milhas distantes dali, uma outra região ao sul de Santiago merece a atenção da Corporação Turística do Chile (CPT) e da holding chilena Transoceanica, de origem alemã, que fatura anualmente cerca de US$ 900 milhões. O resort Termas de Puyehue, é uma das atrações do parque nacional de Puyehue, quase na fronteira argentina, a 130 quilômetros de Bariloche. Na 10 a região dos Lagos Andinos, a 80 quilômetros da cidade de Osorno, Puyehue é vulcânica, e aos pés da cordilheira dos Andes, possui águas termais e belíssimos lagos, além de um trunfo, o prestígio gastronômico. São as delícias de um pedaço austral do mundo que, pouco a pouco, transforma-se em centro de peregrinação privilegiada de brasileiros.