O Vale do Maipo, distante 45 quilômetros de Santiago, no Chile, parece que parou no tempo. Apesar da proximidade geográfica com a capital do país, ele conserva o ar bucólico. 

As pessoas caminham devagar. Na estreita estrada que margeia sítios e condomínios frequentados nos finais de semana por integrantes da elite chilena, os motoristas reduzem a velocidade para contemplar os contornos sinuosos da Cordilheira do Andes que se divisa no horizonte. 

 

É exatamente nessa região que está localizada a Viña Pérez Cruz, uma das joias do portfólio da Abflug, importadora baseada em São Paulo. Desde novembro de 2010, parte das 60 mil caixas de vinhos produzidas anualmente pelo clã Pérez Cruz já pode ser encontrada em empórios brasileiros. 

 

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Rapoport, sócio: sua ambição é ampliar o consumo da bebida no Brasil

 

Outro chileno no qual a Abflug aposta são os rótulos da linha El Descanso, controlada pela tradicional família Chadwick, que atua nesse ramo desde 1870, famosa por vinhos como o Seña. Tanto as bebidas da Pérez Cruz quanto da El Descanso serão comercializadas aqui por um valor de até R$ 300 no varejo, como o Quellén. 

 

Elas integram o portfólio com o qual a Abflug espera cavar seu espaço no concorrido segmento brasileiro de vinhos. Apesar de movimentar R$ 10 bilhões por ano, esse setor ainda é bastante incipiente. 

 

O consumo não passa dos 40 milhões de litros anuais, excluindo os vinhos vendidos em garrafão. Para aumentar suas chances, a Abflug também negocia acordos de distribuição com outras vinícolas. “Teremos cerca de 16 marcas em nosso catálogo”, diz Salo Rapoport à DINHEIRO, sócio e diretor de marketing da Abflug.  “Todas oriundas de áreas consagradas.” 

 

Mais que fazer parcerias com vinícolas como Cascina Adelaide, da Itália, Casa Santos Lima, de Portugal, e a Casella Wines, da Austrália (que produz o Yellow Tail), além das chilenas já citadas, o grande desafio de Rapoport e seus quatro sócios – todos com passagem por empresas do setor como Diageo, Miolo e Casa Flora – será conseguir se destacar em um mercado onde atuam cerca de 800 importadores. 

 

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“A abertura da economia e a valorização do real atraíram muitos empreendedores para esse setor”, afirma Maurice Bibas, consultor de vinhos e professor do curso de gastronomia do Senac-SP. 

 

“Por isso, fica difícil imaginar que ainda haja espaço para mais gente.” Rapoport discorda. “Nosso modelo de negócio é diferente de tudo que existe no mercado”, diz. “A começar pelo comprometimento com a divulgação das marcas e a contratação de uma equipe própria de vendas.” 

 

As dificuldades enfrentadas recentemente pela Expand, controlada pelo empresário Otávio Piva de Albuquerque e que já foi líder do setor, indicam que, para se dar bem no ramo, não basta gostar da bebida e dispor de capital. 

 

Para ganhar espaço, a Abflug aposta em canais de comercialização novos (como os serviços de delivery de pizzarias), embalagens menores (meia garrafa), além de supermercados, empórios, hortifrútis e lojas de conveniência de postos de combustível. 

 

A meta é distribuir o produto em oito mil revendas de todos os Estados. Com isso,  Rapoport pretende cumprir o objetivo de atingir um faturamento de R$ 100 milhões no acumulado 2010-2015. “Queremos desmistificar o consumo do vinho, mostrando que não é preciso ser um sommelier para apreciar a bebida”, afirma o diretor da Abflug. 

 

Para isso, ele dispõe de uma verba anual de R$ 3 milhões, que será gasta em ações de marketing, treinamento de vendedores e promoções nos pontos de venda. “O brasileiro, de uma forma geral, conhece pouco sobre vinho e está ávido para ser informado sobre o setor”, diz Christian Bernardi, presidente da Associação Brasileira de Enologia. É nisso que Rapoport e seus sócios colocam suas fichas.

 

Enviado especial a Santiago do Chile