19/12/2007 - 8:00
DESDE SUA conversão ao capitalismo, a China tem ampliado sua presença comercial no mundo. Para isso, transformou-se no maior dínamo importador da economia global, puxando os preços das commodities agrícolas e minerais. No entanto, muito do que se importa é retrabalhado e vendido em outros mercados com maior valor agregado. Inclusive o Brasil. Até outubro, os chineses acumulam um saldo de US$ 888 milhões no comércio bilateral com o País. Enquanto as exportações brasileiras cresceram 7%, as vendas chinesas dispararam em 58%, fazendo com que uma em cada quatro empresas brasileiras seja afetada pela concorrência com a China. A disputa é ainda mais acirrada no mercado internacional, onde cerca de 60% dos empresários nacionais enfrentam produtos fabricados com mão-de-obra barata e, portanto, mais competitivos. A questão que aflige grande parte do empresariado brasileiro, é como conter o avanço chinês. ?É preciso tomar cuidado com a mística de que todo produto chinês é de má qualidade?, afirma Flávio Castelo Branco, da Confederação Nacional da Indústria. ?Temos é de nos espelhar em como ser competitivos, seja investindo em produtividade, seja buscando nichos ainda não abertos por eles.?
Essa é uma questão delicada. Esses nichos estão cada vez menores. Na América Latina, principal mercado para os produtos manufaturados brasileiros, a China já ultrapassou o Brasil como fornecedor. Em 1995, exportávamos US$ 5,7 bilhões em produtos industriais e a China, US$ 1,4 bilhão. Em 2007, a China já forneceu US$ 26,9 bilhões e o Brasil, US$ 22,6 bilhões. Com os Estados Unidos a situação não é devastadora, mas preocupa. No ano passado, o Brasil perdeu para os chineses mais de US$ 1 bilhão em exportação para o mercado americano, o que gera apreensão na Fiesp. ?A China tem mantido nos últimos 20 anos uma atitude agressiva em termos da expansão das exportações, enquanto aqui o exportador só recebe pedrada e é chamado de chorão por reclamar de fatores como o câmbio e a carga tributária?, diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da entidade. É algo que a empresa catarinense Gabriella Revestimentos Cerâmicos sente na pele. Em novembro, Robson Caciatori, gerente de vendas da empresa, fez contato com um grande importador do Kuwait, mas descobriu que não poderia vender para esse cliente um produto que é seu carro- chefe. Segundo o comprador, o mesmo item chega da China por 60% do preço do brasileiro. Além disso, o frete de um contêiner da China para o Kuwait sai por US$ 700, enquanto vindo do Brasil chega a US$ 2.150. ?Mesmo com a qualidade do produto, a marca, o prazo para pagamento, não somos competitivos?, diz Caciatori.
Como se não bastasse, a China centrou seu poder de fogo também na África. A atuação da estatal China National Offshore Oil Corporation no Sudão elevou o país da condição de importador de petróleo a exportador, com uma receita de quase US$ 2 bilhões por ano. O avanço se estende aos países de língua portuguesa, tradicionais parceiros do Brasil. Angola, que recebeu investimentos de US$ 2 bilhões, é atualmente o maior fornecedor de óleo para a China, estando à frente inclusive da Arábia Saudita. Com propostas ousadas e dinheiro abundante, o governo de Pequim oferece ajuda sem exigir condições, como respeito aos direitos humanos ou combate à corrupção. Além disso, o Banco de Desenvolvimento da China fez uma sociedade com o United Bank of Africa, da Nigéria, e o Banco Industrial e Comercial da China comprou uma participação de 20% no Standard Bank, da África do Sul, por US$ 5,5 bilhões. ?Existe uma estratégia de parceria?, admite Tsegab Kebebew, secretário da embaixada da Namíbia no Brasil. ?Não há uma história de colonização entre China e África, portanto eles são muito bem recebidos.? Está aí um recado para o Brasil.