A China restringiu a mobilidade de 18 milhões de pessoas, nesta sexta-feira (8), para conter o mais grave surto de coronavírus em seis meses no país, em um momento em que a pandemia deixa números preocupantes no Brasil, México e Estados Unidos e se arraigou novamente na Europa.

Nas cidades chinesas de Shijiazhuang e Xingtai, na província de Hebei, na fronteira com Pequim, onde vivem cinco milhões de pessoas, os habitantes foram confinados.

+ Vacina BioNTech/Pfizer ‘neutraliza’ mutação de variantes britânica e sul-africana

E, nas vastas áreas rurais que as rodeiam, onde residem mais 13 milhões de pessoas, foram ordenadas a limitar seus movimentos ao máximo, embora não devam respeitar um confinamento total por enquanto.

Em toda região, são realizados exames em massa, e mais de 6,7 milhões de pessoas já foram testadas.

Na última semana, 310 casos de covid-19 foram registrados em Hebei. São números que podem parecer ridículos em outros países, mas não na China.

Desde que o vírus apareceu na cidade de Wuhan no final de 2019, o país registrou 4.634 mortes, a última delas em maio. Enquanto isso, em todo mundo, a pandemia ceifou quase 1,9 milhão de vidas e infectou mais de 88 milhões de pessoas.

“Sobreviver a janeiro”

Nas últimas horas, os números que chegam da América Latina e do Caribe também são preocupantes. No total, a região supera 523.000 mortes e 16 milhões de infecções.

No Brasil, o segundo país mais atingido pela pandemia, o coronavírus já matou mais de 200 mil pessoas e continua avançando. Na quinta-feira, 1.524 pessoas morreram, o segundo pior balanço desde o início da crise. Mais de 87.000 infecções também foram registradas, um recorde absoluto.

Os especialistas preveem um agravamento da situação nos próximos dias, por conta das reuniões durante as festas de final de ano.

Hospitais de grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte relataram recentemente taxas de ocupação acima de 90%.

Em Manaus, uma das cidades mais atingidas durante os primeiros meses da pandemia, repetem-se as imagens de hospitais lotados e de caminhões frigoríficos habilitados para guardar os corpos esperando para serem enterrados.

“Não sei como vamos sobreviver a esse mês de janeiro”, disse Paulo Lotufo, professor de epidemiologia da Universidade de São Paulo (USP).

No momento, não há data prevista para o início da vacinação da população, e o governo é questionado sobre sua falta de direção diante da pandemia.

“A gente lamenta, hoje estamos batendo 200 mil mortes […] mas a vida continua. A gente lamenta profundamente”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro em sua “live” semanal no Facebook, reiterando as críticas ao confinamento social.

“Não adianta apenas continuar aquela velha história de ‘fica em casa que a economia a gente vê depois’. Isso não vai dar certo”, continuou o presidente. “Não podemos nos transformar num país de pobres, um país de desempregados”.

O México também registrou um recorde diário de infecções por covid-19 na quinta-feira: 13.734 casos confirmados nas últimas 24 horas, um aumento sem precedentes.

O México soma quase 1,5 milhão de infecções e mais de 131.000 mortes desde fevereiro. É o quarto país do mundo mais atingido pelo vírus, atrás apenas de Estados Unidos, Brasil e Índia.

O México começou a vacinar sua população em 24 de dezembro com a vacina da Pfizer/BioNTech e também autorizou a vacina desenvolvida pela alianças entre o laboratório AstraZeneca e a Universidade de Oxford.

Na Colômbia, um dos países mais afetados da América Latina, com mais de 45 mil mortes e 1,73 milhão de infecções, mais de 30 milhões de pessoas entraram em um confinamento mais rígido na quinta-feira e por cinco dias, devido ao aumento da casos após as festas de final de ano.

“Podia ser um deles”

Nos Estados Unidos, 3.998 mortes por covid-19 foram registradas na quinta-feira, um número recorde, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.

Além disso, mais de 265.000 novos casos no dia foram reportados.

O número de pessoas hospitalizadas também é o maior desde o início da pandemia, com mais de 132.000 pacientes.

O país, o mais atingido pelo vírus, com mais de 365 mil mortes e 21,5 milhões de infecções, registra uma situação preocupante nas regiões sul e oeste.

Os números em Los Angeles são especialmente assustadores: um em cada 12 cidadãos já foi infectado, e um em cada cinco que faz um teste de diagnóstico é positivo.

“É difícil (…) A gente vê famílias inteiras adoecerem de repente, todas ao mesmo tempo”, lamenta Vanessa Arias, enfermeira do Hospital Martin Luther King Jr. “Eu podia ser um deles. É muito triste quando as pessoas morrem”, desabafa.

Na Europa, onde já existem 28 milhões de casos de coronavírus e mais de 607 mil mortes, a situação é “alarmante”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), principalmente devido à nova cepa do vírus, detectada primeiro no Reino Unido, e que é muito mais contagiosa.

Por esse motivo, as restrições são mantidas e aumentadas em vários países, e as campanhas de vacinação se aceleram.

A União Europeia (UE) anunciou nesta sexta-feira que dobrou o número de doses da vacina da Pfizer/BioNTech encomendadas e que terá um total de 600 milhões.

Dados fornecidos nesta sexta pelo laboratório alemão BioNTech apontam que sua vacina contra a covid-19 parece eficaz contra uma “mutação-chave” das variantes britânica e sul-africana do coronavírus, de acordo com estudos provisórios realizados até agora.

burs-bl/mar/mr/tt