16/11/2001 - 8:00
O Brasil está diante da maior oportunidade comercial da sua história. O alvo é um mercado de 1,3 bilhão de habitantes, que vem crescendo quase 10% ao ano há mais de uma década. Trata-se da China, que, depois de 15 anos de negociações e resistência, finalmente aderiu às regras da Organização Mundial do Comércio, juntando-se aos demais 142 países-membros. O fato promete mudar o jogo de forças no comércio internacional. Até 2005, estima-se que 10% das exportações e importações em todo o mundo sejam dominadas pelos chineses ? o volume hoje é inferior a 5% do total. E, em 2010, o consumo per capita na China terá aumentado 390%. Para um país como o Brasil, que exporta bilhões em produtos agrícolas, a perspectiva de expansão é evidente. Até porque a China não dispõe de áreas agricultáveis. ?Para alimentar sua gente, a China precisa importar cerca de 300 milhões de toneladas de alimentos todos os anos?, diz o empresário Antônio Ermírio de Moraes.
Tido como um visionário da indústria nacional, Ermírio acredita que o Brasil está diante de uma chance única para fortalecer as relações bilaterais entre os dois países. Essa aproximação já está naturalmente ocorrendo. Em 2000, o intercâmbio entre os dois países foi de US$ 2,4 bilhões. Só esse ano as exportações brasileiras devem totalizar US$ 2 bilhões e em dois anos deverão dobrar, alcançando US$ 4 bilhões. Se tudo der certo, estima-se que em 2010 a China se tornará o terceiro maior mercado para os produtos brasileiros. ?Se perdermos essa oportunidade será por muita incompetência?, diz o advogado Durval Noronha Goyos. Para entrar na OMC, a China teve que abrir a guarda e reduzir as tarifas de importação. No caso da soja, a taxa passará de 85% para 9%; na carne, de 45% para 15%, e no açúcar, de 30% para 15%. ?O Brasil precisará multiplicar a produção de açúcar para abastecer o mercado chinês?, diz João Carlos Ferraz, presidente da Crystalsev.
Cooperação. As oportunidades não estão apenas na agricultura. Um consórcio brasileiro acaba de entregar a maior turbina de Três Gargantas, uma hidrelétrica comparável a Itaipu. ?O mercado chinês é uma de nossas prioridades?, diz o ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, que já programa missões comerciais ao país. Mas nem tudo são flores. Depois da adesão à OMC, exportadores chineses terão acesso facilitado a muitos mercados. ?A China passará a ser um concorrente de peso até maior para os brasileiros?, disse a DINHEIRO o embaixador José Alfredo Graça Lima, subsecretário de Assuntos Econômicos, Comércio e Integração. Tecidos e calçados serão os principais alvos da concorrência entre Brasil e China nos mercados dos EUA e da Europa. A briga promete ser dura, mas há espaço para cooperação. Mal entrou na OMC, o governo chinês enviou sua primeira missão oficial ao Brasil. Em novembro, vieram 27 empresários para identificar quais os produtos brasileiros poderão ser negociados com os chineses. ?China e Brasil são as duas maiores economias em desenvolvimento. Como explicar um comércio de apenas US$ 2,4 bilhões em 2000??, indaga Wei Jiango, ministro-adjunto de Comércio Exterior.