04/08/2022 - 7:05
A China iniciou nesta quinta-feira (4) os maiores exercícios militares do país em décadas ao redor de Taiwan, em uma demonstração de força após a visita à ilha da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.
As manobras com munição real começaram às 12H00 (1H00 de Brasília) e devem prosseguir por três dias, até o mesmo horário no domingo 7 de agosto, informou o canal estatal CCTV.
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“Seis grandes áreas ao redor da ilha foram selecionadas para o exercício de combate e, durante este período, navios e aeronaves não poderão entrar nos espaços aéreo e marítimo envolvidos”, acrescentou a CCTV.
Pelosi deixou Taiwan na quarta-feira, após uma visita de menos de 24 horas que irritou Pequim, que considera a ilha parte de seu território.
A legisladora, segunda na linha de sucessão presidencial, é a principal autoridade americana a visitar Taiwan em 25 anos.
Pelosi declarou que sua presença teve o objetivo de “deixar claro, de forma inequívoca”, que os Estados Unidos “não abandonarão” Taiwan.
Em resposta, a China prometeu punir os que a ofenderam e anunciou manobras militares nas águas próximas de Taiwan, que incluem algumas das toras marítimas mais movimentadas do mundo.
O ministério da Defesa de Taiwan afirmou que a China disparou “múltiplos” mísseis balísticos em águas próximas à ilha. A pasta condenou o que chamou de “ações irracionais que minam a paz regional”.
O Partido Comunista da China disparou múltiplos mísseis balísticos Dongfeng nas águas próximas do nordeste e sudoeste de Taiwan a partir de 13H56″ (2H56 de Brasília), afirmou o ministério da Defesa em um comunicado.
As autoridades militares taiwanesas não mencionaram local exato onde os mísseis caíram ou se sobrevoaram a ilha.
O Exército Popular de Libertação (EPL), nome oficial das Forças Armadas da China, também confirmou o lançamento dos mísseis.
O coronel Shi Yi, porta-voz do Comando Oriental, disse que as forças chinesas lançaram “um ataque de poder de fogo de mísseis convencionais multirregional e multimodal em águas predeterminadas na parte leste da ilha de Taiwan”.
“Todos os mísseis atingiram o alvo com precisão”, acrescentou o coronel Shi.
Em Pingtan, uma ilha chinesa próxima da área de manobras, correspondentes da AFP observaram vários projéteis, seguidos de uma coluna de fumaça branca.
Os turistas que estavam na praia desta ilha também observaram os disparos.
Pouco antes, helicópteros militares sobrevoaram a zona em direção ao Estreito de Taiwan.
– “Preparação para guerra sem buscar a guerra” –
Taipé afirmou que monitora os exercícios e que suas forças se preparam para um conflito, mas que não buscam o combate.
“O ministério da Defesa Nacional afirma que manterá o princípio de preparação para a guerra sem buscar a guerra, com a atitude de não agravar o conflito nem provocar disputas”, afirmou a administração taiwanesa.
Os ministros das Relações Exteriores da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) alertaram nesta quinta-feira que a situação “pode desestabilizar a região e provocar (…) conflitos abertos e consequências imprevisíveis entre grandes potências”.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, condenou os exercícios militares e considerou que a visita de Pelosi “não era uma justificativa”.
A Agência Marítima e Portuária de Taiwan emitiu alertas aos navios no norte, leste e sul do território antes das manobras.
Pequim defendeu os exercícios, assim como outras manobras executadas nos últimos dias, como “justos e necessários”, ao mesmo tempo que culpou Washington e seus aliados pela escalada.
Em relação à “visita de Pelosi a Taiwan, os Estados Unidos são o provocador, a China é a vítima”, declarou a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying.
Uma fonte militar chinesa disse à AFP que os exercícios acontecem “em preparação para um combate real”.
“Se as forças taiwanesas entrarem em contato com o EPL e acidentalmente dispararem uma arma, o EPL adotará medidas severas e todas as consequências acontecerão do lado taiwanês”, acrescentou a fonte.
– Detonante –
Os 23 milhões de habitantes de Taiwan vivem com receio da possibilidade de uma invasão. A ameaça aumentou durante o governo do presidente chinês Xi Jinping.
O Estreito de Taiwan, com 130 km de largura em seu ponto mais estreito, é uma importante rota marítima internacional.
Mas agora é um ponto de conflito entre Estados Unidos, Taiwan e as autoridades chinesas, que desejam projetar uma imagem de força antes do próximo congresso do Partido Comunista da China, que deve conceder a Xi um terceiro mandato como chefe de Estado.
“O anúncio dos exercícios militares chineses representa uma clara escalada da atual base de atividades militares chinesas ao redor de Taiwan e da última crise no Estreito de Taiwan de 1995-1996”, comentou Amanda Hsiao, especialista em China do International Crisis Group.
Vários analistas, no entanto, afirmaram à AFP que a China não pretende agravar a situação além de seu controle, ao menos no momento.
“A última coisa que Xi deseja é a explosão de uma guerra acidental”, afirmou Titus Chen, professor associado de Ciências Políticas na Universidade Nacional Sun Yat-Sen de Taiwan.