A China proibiu nesta terça-feira, 3, exportações para os Estados Unidos de minerais essenciais como gálio, germânio e antimônio, que têm ampla aplicação militar. A decisão eleva as tensões comerciais entre os países um dia após nova repressão de Washington ao setor de chips chinês.

+EUA adota novas medidas para restringir exportação de semicondutores para China

As restrições reforçam a aplicação dos limites existentes sobre exportações de minerais essenciais que Pequim começou a implementar no ano passado, mas se aplicam apenas ao mercado dos EUA.

Uma diretiva do Ministério do Comércio Chinês sobre itens de uso duplo, com aplicações militares e civis, citou preocupações de segurança nacional. A ordem, que entra em vigor imediatamente, também exige uma revisão mais rigorosa do uso final de itens de grafite enviados aos EUA.

“Em princípio, a exportação de gálio, germânio, antimônio e materiais superduros para os Estados Unidos não será permitida”, disse o ministério.

Gálio e germânio são usados em semicondutores, sendo que o germânio também é usado em tecnologia infravermelha, cabos de fibra óptica e células solares. O antimônio é utilizado em balas e outras armas, Já o grafite é o maior componente em volume de baterias de veículos elétricos.

A medida gerou novas preocupações de que Pequim poderia ter como alvo outros minerais essenciais, incluindo aqueles com uso ainda mais amplo, como níquel e cobalto.

Reação dos EUA

“A China vem sinalizando há algum tempo que está disposta a tomar essas medidas, então quando os EUA aprenderão a lição?”, disse Todd Malan, da Talon Metals, que está tentando desenvolver uma mina de níquel em Minnesota e explora o metal em Michigan. A única mina de níquel dos EUA estará esgotada até 2028.

Os Estados Unidos estavam avaliando as novas restrições, mas tomarão “as medidas necessárias” em resposta, disse um porta-voz da Casa Branca, sem dar detalhes. “Esses novos controles apenas ressaltam a importância de fortalecer nossos esforços com outros países para reduzir riscos e diversificar cadeias de suprimentos críticas para longe da RPC (China).”

Representantes de Trump não responderam imediatamente a um pedido de comentário.

Dados da alfândega chinesa mostram que não houve remessas de germânio ou gálio, trabalhados ou não, para os EUA neste ano até outubro, embora o país tenha sido o quarto e o quinto maiores mercados para os minerais, respectivamente, um ano antes.

Da mesma forma, as remessas totais de produtos de antimônio da China em outubro caíram 97% em relação a setembro, depois que a decisão de Pequim de limitar suas exportações entrou em vigor.

“Todos vão cavar em seus quintais para encontrar antimônio. Muitos países tentarão encontrar depósitos de antimônio”, disse um pequeno comerciante de metais na Europa, que não quis ser identificado.

A Perpetua Resources, que está desenvolvendo uma mina de antimônio em Idaho com apoio financeiro do governo dos EUA, disse que a China está “transformando o acesso” a minerais essenciais para as empresas militares e de tecnologia dos EUA.

“Devemos levar a sério as fontes minerais norte-americanas”, disse o CEO da Perpetua, Jon Cherry. “É hora de acabar com nossa dependência da China e garantir nosso futuro.”

A United States Antimony, que refina antimônio em Montana, disse acreditar que a medida da China aumentará os preços do metal e, assim, elevará os suprimentos para sua fundição, embora a empresa tenha reconhecido que levará tempo para que as minas sejam desenvolvidas.

Produção chinesa é destaque mundial

No ano passado, a China foi responsável por 48% do antimônio extraído globalmente. O metal é usado em munições, mísseis infravermelhos, armas nucleares e óculos de visão noturna, bem como em baterias e equipamentos fotovoltaicos.

Este ano, a China foi responsável por 59,2% da produção de germânio refinado e 98,8% da produção de gálio refinado, de acordo com a consultoria Project Blue.

Os preços do trióxido de antimônio em Roterdã subiram 228% desde o início do ano, para 39.000 dólares a tonelada métrica em 28 de novembro, mostraram dados do provedor de informações Argus.

Cenário de tensões

O anúncio da China ocorre depois que Washington lançou na segunda-feira sua terceira repressão em três anos à indústria de semicondutores da China, restringindo as exportações para 140 empresas, incluindo o fabricante de equipamentos de chips Naura Technology Group.

Trump, cujo primeiro mandato de quatro anos na Casa Branca foi marcado por uma amarga guerra comercial com a China, disse que implementará tarifas sobre os produtos chineses.

“Não é nenhuma surpresa que a China tenha respondido às crescentes restrições das autoridades norte-americanas, atuais e iminentes, com suas próprias restrições ao fornecimento desses minerais estratégicos”, disse Peter Arkell, presidente da Associação Global de Mineração da China. “É uma guerra comercial que não tem vencedores”, acrescentou.

Separadamente, vários grupos da indústria chinesa pediram na terça-feira que seus membros comprassem semicondutores fabricados no país, com um deles dizendo que os chips dos EUA não eram mais seguros e confiáveis.