O presidente americano, Donald Trump, anunciará nesta quinta-feira se vai manter os Estados Unidos dentro do Acordo de Paris sobre o clima, considerado “essencial” pela chanceler alemã, Angela Merkel, e cuja aplicação se complicará se “atores essenciais” se retirarem, de acordo com Moscou.

Durante a campanha à presidência, Trump prometeu abandonar o pacto em nome da defesa do emprego nos Estados Unidos.

Mas várias vozes no mundo todo, inclusive nos setores empresariais ou na própria administração americana, pediram ao presidente que reveja sua posição, recordando a urgência de agir ante o aquecimento global.

O anúncio, fonte de intensas especulações, será feito nesta quinta-feira às 15H00 locais (16H00 de Brasília) no jardim da Casa Branca.

A imprensa americana avalia que o mais provável é que o presidente Trump retire o país do acordo, assinado por 195 países em 2015. A Casa Branca alertou, porém, sobre qualquer conclusão apressada.

“Estou ouvindo muita gente, de ambos lados”, assegurou Trump na quarta-feira à tarde.

O alcance desta decisão irá além da questão climática: dará uma indicação sobre o lugar que os Estados Unidos governado por Donald Trump aspira a ocupar na arena internacional nos próximos anos.

Em um artigo de opinião publicado na quarta-feira pelo Wall Street Journal, dois dos principais assessores do presidente, o general H.R. McMaster e Gary Cohn, asseguraram, em referência ao slogam de campanha, que “Estados Unidos primeiro” não quer dizer “Estados Unidos sozinho”.

Sair do pacto de Paris colocaria por muito tempo os Estados Unidos em uma posição desconfortável em nível internacional.

Para Mitt Romney, candidato republicano à Casa Branca em 2012, a decisão que Trump anunciará terá consequências a longo prazo: “Trata-se também do lugar dos Estados Unidos como líder mundial”.

– Pequim defende o Acordo –

A algumas horas do anúncio, a China e a União Europeia defenderam com vigor o Acordo de Paris, que pretende limitar o aumento da temperatura global “abaixo de 2ºC” em relação à era pré-industrial.

“A China seguirá implementando as promessas que fez durante o Acordo de Paris”, disse o primeiro-ministro chinês Li Keqiang em Berlim, após um encontro com a chanceler alemã Angela Merkel.

“Mas, certamente, esperamos contar com a cooperação dos demais”, completou.

Pequim foi, ao lado da administração americana presidida na época por Barack Obama, um dos principais artífices do acordo histórico de dezembro de 2015.

Merkel considerou, em declarações à imprensa, que o acordo é “essencial”.

A Rússia, um dos maiores emissores de gases poluentes e signatária do pacto, afirmou que a ausência de “atores essenciais” poderia complicar sua aplicação.

“A aplicação desta convenção na ausência de atores essenciais será mais complicada, mas por enquanto não há alternativa”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Os representantes da União Europeia adotaram um tom menos diplomático.

Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, considerou inaceitável uma possível retirada de Washington.

“Sou partidário da relação transatlântica, mas se o presidente americano anunciar nas próximas horas que quer sair do Acordo de Paris, o dever da Europa será dizer: isto não é correto”, declarou na quarta-feira.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediu a Trump que permaneça no Acordo de Paris. “Por favor, não mude o clima (político) para pior”, escreveu no twitter.

– Longo procedimento para sair –

O tema dividiu profundamente a cúpula do G7 da semana passada na Itália. Todos os seus participantes, com exceção de Trump, reafirmaram seu compromisso com o texto de Paris.

Trump poderia recorrer ao artigo 28 do Acordo de Paris. O dispositivo permite que os signatários se retirem do pacto, mas apenas três anos após sua entrada em vigor, que se tornou efetiva em 4 de novembro de 2016.

Outra solução, ainda mais radical, seria uma saída da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CNUCC).

Trump também poderia optar por permanecer no acordo e reduzir as metas americanas sobre emissões de gases do efeito estufa.

O objetivo dos Estados Unidos definido pela administração Obama é uma redução de 26% a 28% das suas emissões de gases de efeito estufa até 2025 em relação a 2005.

O ex-presidente democrata, que fez do clima uma das prioridades dos seus dois mandatos, aludia regularmente à “corrida contra o tempo” na que a comunidade internacional se lançou para tentar limitar os efeitos mais devastadores das mudanças climáticas.