27/04/2023 - 9:06
Da Ucrânia ao Oriente Médio, a China se posiciona como um dos principais mediadores na resolução de crises globais.
A conversa telefônica de quarta-feira (26) entre o presidente chinês Xi Jinping e o presidente ucraniano Volodimir Zelensky foi seu primeiro contato desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022.
A AFP responde a algumas perguntas importantes sobre as ambições diplomáticas da China e seus planos para a Ucrânia:
– Qual é a proposta? –
Xi disse a Zelensky que sua “posição central é promover negociações de paz” e prometeu enviar uma delegação à Ucrânia para ajudar a buscar “entendimento político”.
A delegação será chefiada por Li Hui, embaixador da China na Rússia de 2009 a 2019.
Mas a nomeação de Li levantou dúvidas: pouco depois de deixar Moscou, o presidente Vladimir Putin concedeu-lhe a medalha da Ordem da Amizade, algo que a mídia estatal chinesa esclareceu que “representa a amizade entre os povos russo e chinês”.
Pequim publicou um documento sobre a Ucrânia em fevereiro, no qual pedia diálogo e respeito à soberania territorial de todos os países. Esse documento foi criticado pelos países ocidentais por sua linguagem fraca, embora tenha levado Zelensky a dizer que estaria aberto a conversar com Xi.
Ja Ian Chong, professor de ciência política na Universidade Nacional de Singapura (NUS), disse que a conversa de quarta-feira foi um “passo positivo porque restaurou o contato no mais alto nível, mas é apenas um primeiro passo”.
“Qualquer progresso substancial requer alguma habilidade para fazer a Rússia concordar em se conter”, disse ele à AFP.
– Por que agora? –
A China lançou também uma ofensiva diplomática para reatar seus laços com a Europa após três anos de isolamento devido à covid-19, recebendo visitas em Pequim do presidente francês, Emmanuel Macron, e da chefe da Comissão Europeia, Urusula von der Leyen.
Pequim poderia estar sinalizando sua disposição de entrar em contato com a Ucrânia para “abrandar algumas das vozes mais duras sobre a China” na União Europeia (UE), escreveu o analista Bill Bishop em seu boletim Sinocism. Também poderia buscar “promover a autonomia estratégica europeia e distanciar a UE dos Estados Unidos”, acrescentou.
A China se posicionou como mediadora em outras crises internacionais e atuou como intermediária na reaproximação entre os rivais Arábia Saudita e Irã.
Pequim também indicou sua disposição de facilitar as negociações entre Israel e os palestinos.
– Quais as relações da China com a Rússia? –
A China se posicionou como neutra na guerra da Ucrânia.
No entanto, China e Rússia intensificaram sua cooperação econômica e contatos diplomáticos nos últimos anos, e sua aliança está mais próxima desde o início da invasão.
Pequim se recusou a condenar Moscou pela invasão e chama o conflito de “crise”.
Analistas disseram que a China tem controle de seu relacionamento com a Rússia e que sua influência cresce à medida que o isolamento internacional da Rússia se aprofunda.
– Como o mundo reage? –
Zelensky garantiu que o telefonema, juntamente com a nomeação de um embaixador de Kiev na China, dará “um poderoso impulso” às relações entre os dois países.
Mas as potências ocidentais responderam ao telefonema com um otimismo cauteloso. A UE considerou “um primeiro passo importante” e pediu à China que exerça sua influência sobre a Rússia.
Autoridades dos Estados Unidos e da França também comentaram positivamente sobre o contato entre os dois países.
Moscou, por sua vez, acusou Zelensky de minar os esforços de paz, embora tenha destacado “a disposição do lado chinês de buscar estabelecer um processo de negociação”.
– A China pode ser um mediador? –
A “amizade ilimitada” de Xi com Putin levanta questões sobre a imparcialidade do governante chinês.
A Casa Branca afirmou que não estava claro se o envolvimento chinês levaria a “um movimento de paz significativo, a um plano ou a uma proposta”.
Han Yang, um ex-diplomata chinês e analista baseado em Sydney, escreveu no Twitter que a declaração de Xi de que “não há vencedores na guerra nuclear” é “essencialmente Xi pressionando Zelensky a ceder suas reivindicações territoriais a Putin. Se não começar a negociar, é possível que a Rússia jogue a bomba”.
Se os esforços chineses conseguirem resultar em um acordo, disse Chong da NUS, “isso demonstrará a capacidade de Pequim de desempenhar um papel global construtivo e talvez destacar o papel de Xi como líder global”.