09/02/2021 - 6:23
Prisões em massa de uigures, protestos pró-democracia em Hong Kong ou a independência de Taiwan: nenhum assunto era tabu para os usuários chineses do aplicativo de áudio americano para smartphones Clubhouse, mas Pequim se apressou em silenciá-lo.
A festa durou apenas cerca de uma semana para este aplicativo que permite que seus usuários, habilitados por convites, escutem e participem de debates ao vivo, livremente moderados, em “salas” virtuais.
Criado em maio de 2020, o Clubhouse conseguiu por pouco tempo se esquivar dos censores e atraiu multidões de internautas chineses, principalmente após a participação do bilionário americano Elon Musk em uma conversa sobre o aplicativo no início do mês.
Nesses últimos dias, os usuários chineses lotaram suas “salas” para discutir sobre assuntos geralmente censurados, como a detenção por parte de Pequim das comunidades uigures, predominantemente muçulmanas que habitam na região de Xinjiang (noroeste).
No entanto, nesta segunda-feira à noite o aplicativo apresentou uma mensagem de erro para aqueles usuários da China que não possuem VPN para fornecer uma conexão segura, um claro sinal de que os censores haviam chegado.
“Na era (do presidente) Xi, a proibição é só questão de tempo”, diz Lokman Tsui, professor de Comunicação da Universidade Chinesa em Hong Kong.
Os usuários do Clubhouse aproveitaram uma rara brecha de liberdade de expressão em um país em que as redes sociais internacionais, como Twitter ou Facebook, são proibidas.
Apesar do surgimento de versões chinesas dessas plataformas, que agora integram a vida cotidiana dos chineses, todos sabem que seus conteúdos online são controlados e censurados de perto.
Para as empresas do setor, apagar conteúdos politicamente sensíveis, incluindo as críticas ou protestos contra o governo, é algo comum. Enquanto isso, os usuários da Internet competem para descobrir como escapar da vigilância dos censores.
No sábado passado, mais de 1.000 usuários se aproximaram do aplicativo Clubhouse para se juntar a um debate sobre a internação dos uigures.
As organizações dos direitos humanos afirmam que mais de um milhão de uigures estiveram ou estão detidos em campos de reeducação política na região de Xinjiang.
Pequim rejeita o termo “campos” e afirma que se trata de centros de formação profissional, cujo objetivo é fornecer trabalho à população e, com isso, afastá-la do extremismo religioso.
Durante o debate de sábado no aplicativo, ao menos três pessoas que se identificaram como uigures relataram suas experiências pessoais, assim como também outros usuários da etnia Han (predominante na China) que afirmaram residir em Xinjiang.
“Vivi em uma grande mentira”, afirmou uma mulher que mudou suas opiniões após uma estadia no exterior, que lhe permitiu se informar mais sobre Xinjiang.
Já outros saíram em defesa de Pequim. Por exemplo, um homem afirmou os “campos de reeducação” são necessários.