Com mais de 7 mil casos confirmados, país adota ações de contenção, utiliza drones para identificar focos de mosquitos e aplica multas por acúmulo de água parada. OMS alerta para risco de epidemia.Um surto de vírus chikungunya na China levou as autoridades a adotar medidas preventivas, como o uso de mosquiteiros, nuvens de desinfetante, multas para quem não eliminar água parada e até o uso de drones para localizar criadouros de insetos.

Mais de 7 mil casos da doença foram registrados até esta quarta-feira (06/08), em sua maioria concentrados no polo industrial de Foshan, próximo a Hong Kong. Autoridades acreditam que o número de novos casos está diminuindo lentamente.

A chikungunya é transmitida por mosquitos e causa febre e dores nas articulações, sintomas semelhantes aos da dengue. Crianças, idosos e pessoas com doenças pré-existentes estão entre os mais vulneráveis.

A televisão estatal chinesa mostrou trabalhadores borrifando desinfetante pelas ruas, áreas residenciais, canteiros de obras e outros locais onde pessoas possam entrar em contato com mosquitos infectados, que se reproduzem em focos de água parada.

Em alguns locais, núvens de desinfetante eram aplicadas na entrada de prédios comerciais, relembrando as táticas rigorosas usadas pela China durante a pandemia de covid-19.

Pessoas que não esvaziarem garrafas, vasos de flores ou outros recipientes ao ar livre podem ser multadas em até 10 mil yuans (R$ 7,6 mil) e ter a eletricidade cortada.

EUA emitem alerta de viagem diante do aumento de surtos

Os Estados Unidos emitiram um alerta de viagem, recomendando que seus cidadãos não visitem a província de Guangdong, na China – onde ficam os centros industriais –, além de países como Bolívia e ilhas no Oceano Índico.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA ainda lista o Brasil ao lado da Colômbia, Índia, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Tailândia como países com risco elevado da doença.

Segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses, mantido pelo Ministério da Saúde, o Brasil registrou 117,3 mil casos prováveis de chikungunya neste ano, 106 óbitos confirmados e 76 mortes em investigação. Em 2024, a incidência foi maior, com 248 mil pacientes confirmados até o final de julho.

O número de surtos aumentou desde o ano 2000, assim como também houve mais casos de outras doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue e a zika. As informações constam em um comunicado assinado por Robert Jones, professor assistente da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Segundo Jones, os riscos de epidemias de chikungunya aumentaram devido às mudanças climáticas e à expansão urbana. Ele alerta que a doença pode se espalhar para outras regiões do sul da China, que apresentam clima úmido e alta densidade populacional.

OMS vê repetição de padrão do surto de 2004

As chuvas intensas e altas temperaturas agravaram a crise na China, onde a doença não é comum. Em julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o risco de o mundo enfrentar uma nova epidemia do vírus.

A organização observa atualmente os mesmos sinais de alerta precoce que antecederam um grande surto de chikungunya entre 2004 e 2005. Na ocasião, a epidemia se espalhou pelo Oceano Índico, atingindo territórios insulares antes de se expandir globalmente e infectar quase meio milhão de pessoas.

“Hoje, a OMS está vendo o mesmo padrão se repetir: desde o início de 2025, [os arquipélagos de] Reunião, Mayotte e Maurício registraram grandes surtos de chikungunya. Estima-se que um terço da população de Reunião já tenha sido infectada”, disse Diana Rojas Alvarez, da OMS, em uma coletiva de imprensa em Genebra realizada em 22 de julho. No dia seguinte, a China já reportava 2,6 mil casos confirmados da doença.

Na Europa, casos ligados ao surto nas ilhas do Oceano Índico também foram reportados. A transmissão local foi relatada na França, e casos suspeitos foram detectados na Itália.

Alvarez observou que a taxa de letalidade da chikungunya é inferior a 1%. “Mas quando começamos a contar milhões de casos, esse 1% pode significar milhares de mortes”, disse. Além disso, a OMS aponta que até 40% dos pacientes infectados apresentam sequelas que duram meses ou anos após a infecção.

Desde o surto mortal de SARS em 2003, a China se tornou conhecida por medidas coercitivas que muitos países consideram excessivas. Desta vez, pacientes estão sendo obrigados a ficar internados por pelo menos uma semana. Também foi imposta uma quarentena domiciliar de duas semanas, mas a medida foi suspensa, já que a doença não é transmitida de pessoa para pessoa.

Também surgiram relatos de tentativas de conter o surto com peixes que comem larvas de mosquito e até com mosquitos maiores que se alimentam dos transmissores do vírus.

gq (AP, AFP, OTS)