16/02/2001 - 8:00
Cinco anos atrás, uma comissão de altos executivos da indústria de microprocessadores Intel teve um encontro quase secreto com o presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília. A líder mundial de chips tinha planos para a América Latina e queria incentivos governamentais para construir uma fábrica no Brasil. FHC, como sempre, foi muito simpático, mas negou estímulos. A unidade acabou construída na Costa Rica, e o governo parece que aprendeu a lição. Na quarta-feira 14, o presidente mundial da AMD, Hector Ruiz, arqui-rival da Intel, adentrou o Ministério do Desenvolvimento para sondar as possibilidades de fincar os alicerces de uma fábrica aqui. A reação foi esfuziante. O ministro Alcides Tápias deu todo seu apoio, lembrou que a Lei de Informática garante isenções fiscais e, feliz da vida, faturou o fato como uma das façanhas da sua gestão. Tem motivos para isso. Se tudo der certo, a partir de 2006 o Brasil passará a sediar ao menos parte de um novo complexo industrial da AMD, em parceria com a Itautec. São investimentos gigantescos, da ordem de US$ 4 bilhões, quatro vezes o valor da fábrica da Renault no Paraná. E o Brasil passaria a fazer parte da rede de indústrias de chips ultrapotentes espalhadas pelos EUA, Europa e Ásia.
O projeto é uma das prioridades da AMD. ?O Brasil é um país faminto de produtos de consumo?, declara Ruiz. A expansão de 38% nas vendas de PCs registrada entre 1999 e 2000, quando os brasileiros adquiriram 2,8 milhões de computadores, é algo que pesa muito na decisão final da empresa. A nova unidade atenderia também países vizinhos da América Latina e mesmo de outros continentes. Os planos ambiciosos de Ruiz, que assumiu o cargo há menos de cinco meses, demonstram a força que a AMD começa a ganhar no mundo inteiro. A Intel continua líder do setor, com 78% do mercado, mas a AMD comemorou no ano passado um faturamento recorde de US$ 33,7 bilhões e lucro de US$ 983 milhões. Sua participação nas vendas de chips saltou de 14% para 17%. ?Até dezembro, nossa fatia será de 20%?, garante Ruiz. Entre os segredos do sucesso estão preços baratos e produtos de primeira linha.
O Brasil deve entrar no megaprojeto de 2006 em duas das quatro divisões industriais da AMD: testes e distribuição. Parece pouca coisa, mas hoje as unidades da Malásia e Cingapura respondem por toda a complexa estrutura de checar cada um dos chips fabricados pela AMD e efetuar a logística de remessa para o mundo inteiro. A Itautec há cinco anos é um dos grandes clientes da AMD no Brasil. Daí a parceria. Pelo visto, o mercado mundial de chips, de cerca de US$ 40 bilhões anuais, garante grandes emoções em breve. Por enquanto, a Intel assiste às investidas da rival aparentemente impassível. Mas tem munição de sobra para uma guerra de preços.