“Estou chocado, aborrecido, e profundamente triste”: em entrevista à AFP neste domingo, o novo presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Sebastian Coe, reconheceu falhas que levaram o predecessor Lamine Diack a ser indiciado por corrupção.

Para o britânico, lenda do meio-fundo na década de 1980, as revelações foram uma surpresa total.

“Essas acusações de extorsão e chantagem surpreenderam a todos, e a grande maioria do mundo do esporte deve sentir exatamente a mesma coisa que eu: choque, raiva e tristeza”, lamentou o bicampeão olímpico dos 1.500 m.

Coe foi eleito à frente da IAAF em agosto, depois de vários anos na vice-presidência, na sombra de Diack, que ocupava o cargo desde 1999.

Na quarta-feira, a justiça francesa indiciou o senegalês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Seu conselheiro jurídico, Habib Cissé, e o médico Gabriel Dollé, responsável pela luta antidoping na entidade até o fim do ano passado, também foram indiciados.

Desde agosto, os investigadores tentam determinar se casos de doping, principalmente de atletas russos, foram encobertos por dirigentes do mais alto escalão do atletismo mundial, mediante pagamento.

De acordo com fontes próximas ao caso, o esquema de corrupção pode ter movimentado um milhão de euros.

Além da ação da justiça francesa, a Agência Mundial Antidoping (WADA, pela sigla em inglês) vai divulgar na segunda-feira, em Genebra, as conclusões de uma investigação independente que iniciou em dezembro.

No último sábado, um dos co-autores do relatório afirmou à BBC que o documento pode “abalar as estruturas do esporte”, levando a corrupção a “um patamar jamais visto”.

Coe, porém, faz questão de ressaltar que “todos os casos estudados pela WADA foram identificados em primeiro lugar pela IAAF, por meio do passaporte biológico”.

“Todos os atletas flagrados foram denunciados e punidos”, garantiu o dirigente.

“O nosso esporte foi pioneiro na criação do passaporte sanguíneo, implementado em 2009, com as primeiras punições aplicadas em 2011. Desde então, foram 85 atletas sancionados, em todos os esportes, 69 oriundos do atletismo”, defendeu Coe.

“É mais do que qualquer outro esporte, do que todos os outros esporte reunidos, e, mais interessante ainda, este número é maior do que qualquer agência nacional antidoping”.

Perguntado pela AFP sobre o tamanho da repercussão do escândalo, o britânico recusou-se a fazer comparações com outros esportes, como o futebol, abalado com as acusações que pesam sobre dirigentes da Fifa.

“Não vou fazer comparações. Minha responsabilidade é muito clara: preciso restabelecer a confiança no nosso esporte, e será um processo demorado. Não podemos fugir dos problemas. É preciso criar uma organização que saiba prestar contas, ser responsável e reativa”, analisou o britânico, que foi presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres-2012.

Coe deixou claro que não entrou em contado com Diack desde que o senegalês foi indiciado, e cobrou mais transparência na entidade.

“Estou mais determinado do que nunca para levar a cabo a reformulação da nossa organização, que começou no dia seguinte da minha eleição”, avisou o presidente da IAAF.

“Vamos criar um tribunal para que as audiências de atletas suspeitos de doping escapem do controle das federações nacionais”, completou.