Por Roberto Samora e Marta Nogueira

SÃO PAULO (Reuters) -Chuvas intensas que atingem Minas Gerais paralisaram operações da Vale, CSN, Usiminas e Samarco , além de interditarem a mina de minério de ferro Pau Branco, da francesa Vallourec, deixando em alerta companhias e comunidades no importante Estado para o setor de mineração no país.

A interdição da mina Pau Branco, em Nova Lima (MG), após o transbordamento de um dique, levantou ainda preocupações sobre um endurecimento de regras para o setor de mineração, que foi atingido por dois grandes desastres mortais devido a quedas de barragens de rejeitos de minério de ferro, nos últimos anos.

“Vemos a notícia como potencialmente negativa para todo o setor, já que pode resultar em novas regulamentações que derivem suspensões de operações existentes ou atrasos em novos projetos”, disse a XP Investimentos em nota.

Vale, CSN e Usiminas reportaram paralisações nesta segunda-feira, o que impactava negativamente as ações das companhias.

No caso da Vale, a mineradora disse que paralisou parcialmente a produção dos Sistemas Sudeste e Sul “visando garantir a segurança dos seus empregados e comunidades”, em razão do nível elevado de chuvas que atingem Minas Gerais.

Segundo comunicado, a circulação de trens na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) foi afetada.

Apesar da paralisação, a Vale manteve sua meta de produção de 320 milhões a 335 milhões de toneladas de minério de ferro para 2022, com a companhia citando que o Sistema Norte segue operando conforme os planos, que consideram o impacto sazonal do período chuvoso em todas as operações.

Segundo a Vale, no Sistema Sudeste, a EFVM foi paralisada no trecho Rio Piracicaba-João Monlevade, impedindo o escoamento do material da mina de Brucutu e no complexo de Mariana, “que estão com a produção suspensa”.

O trecho Desembargador Drummond-Nova Era também está paralisado, mas em fase de liberação e não afetou a produção do Complexo de Itabira.

No Sistema Sul, a produção de todos os complexos está temporariamente paralisada, em função da interdição de trechos das rodovias BR-040 e MG-030 e da segurança de circulação de empregados e terceiros.

Parte da BR-040 foi interditada no final de semana após o transbordamento de um dique de contenção de água da mina Pau Branco, da Vallourec, o que levou a Agência Nacional de Mineração (ANM) a interditar as operações.

Nesta segunda-feira, a Vallourec informou que o tráfego de veículos havia sido liberado nos dois sentidos da BR-040.

A companhia francesa disse ainda que a ANM autorizou a reclassificação do nível de emergência do dique de 3 para 2, um patamar de menor risco.

A Vale, por sua vez, disse que “não houve alteração do nível de emergência em nenhuma de suas estruturas, que são acompanhadas permanentemente por inspeções, manutenções, radares, estações robóticas, câmeras de vídeo e instrumentos, como piezômetros manuais e automáticos”.

A preocupação com barragens no Estado ocorre após o desastre de Brumadinho, da Vale, quando cerca de 270 pessoas morreram em 2019; e em Mariana, da Samarco, em 2015, que provocou a morte de 19 pessoas e também um desastre socioambiental de grandes proporções.

As chuvas devem seguir intensas nesta semana na maior parte de Minas Gerais, de acordo com informações meteorológicas da Refinitiv. Até o dia 15, as precipitações devem ficar acima da média nas regiões centrais, oeste, noroeste e do Triângulo Mineiro, entre outras. (https://amers2.apps.cp.thomsonreuters.com/cms/?pageid=awd-br-forecast-analysis-maps-gfsop-degc&hour=6&date=20220110)

CAUTELA

O Instituto Brasileiro de Mineração, que representa as mineradoras no Brasil, disse em nota que suas associadas “têm sempre agido com cautela quando ocorrem fenômenos naturais”, como é o caso do excesso de chuvas observado em Minas Gerais. Segundo o instituto, as paradas foram “uma precaução das companhias para minimizar riscos”.

A Agência Nacional de Mineração (ANM) informou em nota que está com todas as equipes de barragens em campo, realizando vistorias, devido à situação no Estado, e que até o final do mês serão vistoriadas mais de 20 estruturas.

Já o Ministério Público estadual disse que expediu ofícios para toda as empresas de auditoria externa independente que prestam serviços para mineradoras e órgãos de Estado e que essas empresas devem apresentar relatório atualizado acerca da segurança e integridade de barragens auditadas, bem como informar sobre eventuais recomendações formuladas aos empreendedores, além de outras medidas de prevenção.

CSN, USIMINAS E SAMARCO

A CSN anunciou nesta segunda-feira a suspensão das operações da mina de minério de ferro Casa de Pedra, em Congonhas (MG), em virtude das fortes chuvas, e também afirmou que suspendeu operações de exportação de minério de ferro no terminal de carvão de seu porto em Itaguaí (RJ) “em virtude do alto grau de umidade verificado no local”.

Já a Mineração Usiminas (Musa), controlada da companhia siderúrgica, também teve suas operações temporariamente paralisadas em função de chuvas intensas na região de Itatiaiuçu (MG).

Além disso, a companhia informou que foi acionado no sábado o nível 1 do Plano de Ação de Emergência de Barragens da Mineração (PAEBM) para sua Barragem Central, desativada desde 2014. Essa condição significa um estado inicial de alerta e não representa comprometimento dos fatores de segurança.

No caso da Samarco, uma joint venture da Vale com o grupo angloaustraliano BHP , a empresa paralisou parcialmente suas operações no Complexo de Germano, em Mariana.

Segundo a mineradora, em função da umidade elevada, a produção de concentrado de minério de ferro opera a 50% neste momento, mas com a expectativa de que retome os 100% assim que as condições climáticas permitirem.

A empresa frisou ainda que suas estruturas estão estáveis e permanentemente monitoradas e que segue atenta aos eventos climáticos a fim de preservar a segurança dos seus empregados e das suas operações.

A Anglo American , por sua vez, informou que a produção de minério do sistema Minas-Rio, em Minas Gerais, segue conforme o previsto para o período de chuvas. Ela destacou que as estruturas de contenção da barragem e dos diques permanecem seguras e rigorosamente monitoradas.

A região da barragem do Carioca, da usina hidrelétrica de propriedade da Companhia de Tecidos Santanense, localizada no município de Pará de Minas, também está em alerta, segundo autoridades.

“Essa barragem passou por evento de cheia, diante das fortes chuvas que atingem o Estado de Minas Gerais”, disse a reguladora Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Preventivamente, a Defesa Civil retirou do local dezenas de pessoas que estavam em áreas de risco, segundo nota do governo de Minas Gerais.

Em meio a fortes chuvas no Estado, pelo menos 10 pessoas morreram após pedras se soltarem de um cânion no lago de Furnas em Capitólio (MG), no final de semana.

(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Gabriel Araujo, Alberto Alerigi Jr.Edição de Eduardo Simões, Letícia Fucuchima e Maria Pia Palermo)

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