Um empreendimento com 14 edifícios empresariais, dois shopping centers, salas de cinema multiplex, restaurantes, hotel e um pequeno parque florestal, a um custo de US$ 200 milhões. E tocado pelo grupo industrial de pneus Pirelli. Surpreso? Pois esse é o ambicioso projeto que está sendo feito em Santo André, no ABC paulista, dentro de uma nova filosofia do conglomerado italiano. O grupo decidiu diminuir o peso dos pneus nos seus negócios e investir em produtos de alta tecnologia, ligados à telecomunicação e informática, e em atividades imobiliárias. De acordo com o presidente mundial do grupo, Marco Provera, a ordem é aceitar qualquer tipo de investimento com bom potencial de retorno. A Cidade Pirelli faz parte justamente dessa perspectiva. Ocupará uma área de 270 mil metros quadrados e deve abrigar as sedes de grandes grupos empresariais. A idéia tem sido desenvolvida com bastante sigilo. ?Nós não estamos falando sobre esse assunto?, declara por telefone, de Milão, o executivo Guerrino Savio, diretor da Pirelli & C. Real Estate, empresa que cuida das atividades não-industriais do grupo. DINHEIRO, no entanto, teve acesso ao megaprojeto. Ele se inspira no centro empresarial, universitário e de entretenimento La Bicocca, de 900 mil metros quadrados, que ocupa hoje o que era uma das principais áreas industriais da Pirelli em Milão. Para se ter uma idéia da importância dessa investida na Itália, o espaço abriga, por exemplo, o teatro que temporariamente apresenta as produções da famosa ópera Dalla Scala, em fase de restauração.

A Pirelli Real Estate atua em várias áreas e chegou a participar de forma ativa na ida do atacante Ronaldinho para a Inter de Milão, time patrocinado pelo grupo italiano. Sua principal área de atuação, no entanto, é mesmo a de empreendimentos imobiliários. Nos últimos dois anos fez um esforço extraordinário na aquisição de imóveis na Europa. Foram gastos cerca de US$ 3 bilhões, em parceria com o banco Morgan Stanley. A Cidade Pirelli é seu maior empreendimento na América Latina e visa revalorizar um terreno ? a antiga fábrica de cabos elétricos e telefônicos da Pirelli. As linhas de produção foram transferidas para Sorocaba, no interior de São Paulo, e, com galpões vazios, os italianos tiveram de ir em busca de apoio da Prefeitura de Santo André para evitar a depreciação do local, já que indústrias não mostram mais interesse em se instalar ao ABC. A Pirelli Real Estate bancou inclusive R$ 2 milhões para mudar o zoneamento da região da antiga unidade, que passou a ser de serviços, e em troca o município reduziu as taxas do Imposto Sobre Serviços (ISS) para uma faixa entre 0,25% e 0,5%, contra os 5% cobrados em São Paulo. ?O novo empreendimento interessa a Santo André porque revitalizará uma área em deterioração e estimulará a vinda de empresas não ligadas à indústria?, afirma Irineu Bagnariolli Júnior, secretário de desenvolvimento urbano do município.

Enquanto vai atrás dos futuros ocupantes da Cidade Pirelli, a companhia está terminando as obras de terraplenagem e a duplicação de uma avenida. O La Bicocca, de Milão, por exemplo, conseguiu atrair grupos como Siemens e Deutsche Bank, que têm suas sedes regionais ali, além da universidade da cidade. No Brasil, a tarefa deve ser mais difícil, já que o local fica longe de centros empresariais tradicionais de São Paulo. A prioridade é a conquista de empresas de telemarketing e de tecnologia da informação, sendo que a expectativa é que em 2003 os primeiros prédios estejam em atividade. Nos próximo dias deve ser fechado o acordo com uma incorporadora que tocará as construções. Já o design está garantido. Ficou a cargo do escritório de arquitetura Edo Rocha, o mesmo que traçou o novo prédio da TV Globo em São Paulo. A ofensiva no ramo imobiliário não se resume à Cidade Pirelli. A companhia iniciou também uma série de aquisições de prédios comerciais na capital paulista. Pirelli Pneus? Que pneus?