27/05/2020 - 15:44
No descentralizado sistema americano, a pandemia de Covid-19 seca as finanças públicas de cidades e estados e, sem a ajuda do governo federal, os prejuízos serão duradouros e a recuperação econômica, mais lenta.
“Os estados estão sofrendo com uma combinação tóxica de receita menor e gastos maiores”, diz Robert Maxim, do centro de estudos Brookings Institution.
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Muitos estados e cidades americanos ainda não haviam se recuperado totalmente da recessão de 2009 e, agora, a paralisação imposta para conter o avanço da Covid-19 os priva de impostos sobre as vendas pagos por lojas, bares, restaurantes e hotéis, que representam 30% de sua receita.
No momento em que os gastos com saúde e a demanda de auxílios-desemprego dispararam para 40 bilhões de dólares desde meados de março, o prazo para o pagamento do imposto de renda foi prorrogado até 15 de julho, o que significa que os estados irão demorar mais para arrecadar dinheiro.
Ao contrário do governo federal, que pode funcionar com déficit, muitos estados são obrigados a ter um orçamento equilibrado e, geralmente, só podem se endividar para projetos específicos, como escolas e parques, mas não para resolver situações de emergência.
– ‘Não há plano B’ –
Sem ajuda federal, as opções dos estados são aumentar os impostos – algo difícil durante uma recessão – ou cortar os gastos com professores, policiais e serviços, como aconteceu durante a crise financeira mundial.
“Se o estado decidir reduzir os gastos com educação, isto deverá ter um efeito maior nos distritos com renda mais baixa”, indica o acadêmico Nathan Favero, da American University.
Governadores como o republicano Larry Hogan, de Maryland, disseram em abril ao governo federal que os estados não seriam capazes de absorver o choque causado pela paralisação econômica uma vez esgotada a reserva para situações de emergência.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, indicou no começo do mês que, sem auxílio federal, será obrigado a reduzir a quantidade de policiais, bombeiros e funcionários da área de saúde.
O governador democrata da Califórnia, Gavin Newson, disse que irá interromper os programas para pobres e imigrantes e cortar os subsídios à educação pública.
Dan White, pesquisador da consultoria Moody’s Analytics, calculou que, sem ajuda federal, serão perdidos mais de 3 milhões de empregos públicos, o que cortaria dois pontos percentuais do PIB nacional. “Não existe plano B. Eles não podem apenas emitir dívida a longo prazo e seguir para o próximo ano”, alertou.
O tempo corre. Muitos estados e governos locais têm o prazo de 30 de junho para aprovar seus orçamentos para 2021.
– Questão política –
A Associação Nacional de Governadores pede ao Congresso que aprove 500 bilhões de dólares em ajuda. Mas com as eleições presidenciais de novembro à vista, o assunto se tornou uma questão política.
“Por que o povo americano e os contribuintes deveriam socorrer estados mal administrados liderados e governados por democratas quando muitos dos outros estados não pedem ajuda?”, tuitou Trump, que busca a reeleição.
Robert Maxim adverte que os ataques de Trump podem “atingir horrivelmente” a campanha. Michigan, Pensilvânia e Wisconsin são estados eleitorais-chave e estão entre os mais afetados pela perda de empregos durante a pandemia. “Estes estados todos têm governadores democratas, mas com Assembleias estaduais republicanas”, observa.
Muitos estados governados por democratas proporcionam ao governo federal mais do que recebem, o que contrasta com vários estados governados por republicanos.
Em comunicado conjunto, governadores pediram um amplo acordo entre ambos os partidos. “O coronavírus é apolítico. Não ataca democratas ou republicanos. Ataca americanos”, assinalaram.