30/07/2014 - 16:27
A última linha do balanço trimestral da Cielo é um resumo dos desafios que a maior empresa de captação de pagamentos do País enfrenta atualmente. O lucro líquido consolidado de R$ 796,941 milhões, entre abril e junho, representa um crescimento de 25,7% sobre o mesmo período do ano passado. O problema é a metade vazia desse copo. O mesmo número é 1,1% inferior aos R$ 805,879 milhões que lucrou no primeiro trimestre deste ano. Os analistas interpretaram essa ambiguidade como um possível sinal de desaceleração da Cielo.
O reflexo mais claro dessa preocupação é a forte queda das ações ordinárias da companhia (CIEL3), nesta quarta-feira 30. Como os números trimestrais foram divulgados na noite de ontem, o mercado já abriu o dia castigando os papéis da Cielo, que passaram o dia entre as maiores quedas do Ibovespa, o principal indicador da bolsa brasileira. Por volta das 15h26, era a ação que mais caía no índice, com desvalorização de 3,80% e cotada a R$ 42,57.
Alguns pontos chamaram a atenção dos analistas. O primeiro é o menor ritmo de crescimento do volume financeiro movimentado pela companhia. Na comparação com o segundo trimestre de 2013, o aumento foi de 17,9%, para R$ 125,3 bilhões. Embora seja um número de dois dígitos, ficou aquém do desempenho dos dois últimos trimestres, quando a expansão ficou acima de 20%. “Trata-se de um desafio estatístico”, afirmou o CEO da Cielo, Rômulo Dias, na teleconferência com analistas, na manhã de hoje. “Teremos a mesma curva de crescimento de 2012, mas menor”, afirmou, referindo-se a um ano em que o ritmo foi desacelerando trimestre a trimestre, começando com 26,7% e terminando em 12,4%. O “desafio estatístico” também se refere à influência da base de comparação com o ano passado, quando a curva foi justamente a contrária: começou com uma expansão de 11,8% no primeiro trimestre, e subiu quartil a quartil, até registrar 23,3% no último período.
Espaços a explorar
Os números de instalação e ativação de novas máquinas de pagamento (as famosas maquininhas dos lojistas) também não agradaram os analistas. “Houve uma desaceleração visível”, afirmou um dos participantes da teleconferência. Do último trimestre de 2013 para o primeiro quartil de 2014, a quantidade de máquinas instaladas cresceu 2%. Já neste trimestre, a taxa foi de 1,7%. Dias reconheceu que a concorrência está “um pouquinho” mais agressiva, mas negou que o mercado de captação de pagamentos tenha chegado à sua maturidade no Brasil. “Há um potencial de crescimento a ser explorado”, disse.
Segundo o executivo, o objetivo da Cielo é “manter a liderança, com foco na rentabilidade” do negócio. E a rentabilidade é outro ponto que foi questionado pelos analistas. Dois pontos chamaram a atenção dos participantes da teleconferência. O primeiro é uma eventual mudança no mix de serviços ofertados pela companhia, que poderia comprometer as margens. O principal indício seria o crescimento mais acentuado das operações de débito, em detrimento das operações de crédito. “O débito tem uma rentabilidade menor que o crédito”, afirmou Dias. “Além disso, ele tirou um pouco de espaço do pagamento parcelado, que também tem mais margem”.
O efeito mais claro do aumento de custos e da menor margem foi a queda do ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), entre o primeiro e o segundo trimestres. Esse indicador de geração de caixa baixou 4,6%, de R$ 1 bilhão para R$ 955 milhões. A margem de ebitda também recuou de 55,1% para 51,9% na comparação. Os números da Cielo não trouxeram nenhuma tragédia, mas foram o suficiente para acender o sinal amarelo nas mesas de operação. O mercado, como se sabe, é voraz.