05/11/2021 - 9:15
Ciência vence profundezas Chega a ser emblemático — e trágico — que a véspera do Dia de Finados trouxesse as melhores notícias sobre o número de vítimas de Covid-19 do Brasil. A média móvel semanal de mortes após os dois primeiros dias de novembro ficou em 296 (dia 1) e 261 (dia 2). O número não estava abaixo de 300 desde abril de 2020. Uma curva que imbicou para baixo por causa de dois fatores: máscaras e vacinas. E que levou exatos 600 dias para ocorrer, desde a primeira vítima fatal no País, a diarista Rosana Urbano, 57 anos.
Moradora do extremo da Zona Leste paulistana, ela havia sido internada dia 11 de março. Morreu dia 12. No dia 16, morreu a mãe de Rosana. Morreriam ainda o pai, uma irmã e um irmão. A doença, perversamente, escancarou que em termos de desigualdade somos uma nação insuperável. Estudo feito pela Rede Nossa São Paulo mostra que na capital paulista a taxa de mortalidade para internados com Covid-19 (enfermaria ou UTI) é de 15,8% em Moema (bairro nobre) e de 35,2% em Cidade Tiradentes, onde morava a diarista.
O fenômeno se repete por todo o País. Mesmo entre estados pobres e ricos a distorção é evidente. Em números relativos, São Paulo é o que mais vacinou com pelo menos uma dose (83,1%) e o segundo que aplicou pelo menos duas doses (67,7%), atrás do Paraná (69,7%), nos dados consolidados até quarta-feira (3). Entre os três no fim da fila estão Pará, Amapá e Roraima. No mundo, igual. O dinheiro e a riqueza distorcem a equidade no combate à pandemia. Os países do G20 receberam 15 vezes mais doses per capita do que nações da África Subsaariana. Num embate Canadá versus Sudão a diferença foi de 34 vezes.
Hoje, no Brasil, 75% da população tem ao menos uma dose, 55% já completou o ciclo e 4% recebeu reforço. Resultado a se comemorar, mas que jamais esconderá os quase
22 milhões de contaminados e as 608 mil mortes. Conta que poderia ser totalmente diferente e foi inflada pela ignorância e pelo negacionismo de JB e sua turma de militares no comando da saúde. Esse é o papel reservado à história para Jair Bolsonaro.
ELEIÇÕES 2022
Inferno astral
JB e seu vice, Hamilton Mourão, escaparam da cassação da chapa que hoje ocupa a Presidência. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu por 7 votos a 0 a favor de Bolsonaro. O ministro Luis Felipe Salomão, relator da ação, afirmou que houve uso de disparos em massa pelo WhatsApp para atacar adversários, mas não havia provas de que isso tivesse mudado o resultado eleitoral. Os demais acompanharam o relator. Apesar de votar com Salomão, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que presidirá o TSE em 2022, afirmou que estratégias digitais como as de Bolsonaro não serão toleradas no ano que vem. “Se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro será cassado e as pessoas que assim fizerem irão para a cadeia”, disse. Moraes está perto de entrar em seu inferno astral. Ele nasceu dia 13 de dezembro de 1968. Para quem gosta de coincidências, exatamente o mesmo dia em que foi baixado o Ato Institucional número 5.
“As diferenças de renda entre o mundo pobre e o mundo rico são tão grandes que as pessoas precisam se interessar” Esther Duflo (1972) Prêmio Nobel de Economia 2019.
MINISTÉRIO DO TRABALHO
Negacionismo funcional
Onyx Lorenzoni, que por ora ocupa o cargo de ministro do Trabalho, assinou portaria que proíbe a demissão de funcionários que se recusam a tomar a vacina contra a Covid-19. A norma foi publicada na segunda-feira (1o) no Diário Oficial da União. “Considera-se prática discriminatória a obrigatoriedade de certificado de vacinação em processos seletivos de admissão de trabalhadores, assim como a demissão por justa causa.” Já na quarta-feira (3), o senador Humberto Costa (PT-PE) apresentou no Senado projeto para derrubar a decisão de Onyx, mas ainda não há data para sua apreciação pelo plenário. O Ministério Público do Trabalho (MPT) é favorável à demissão por justa causa de trabalhadores que se recusem a tomar vacina. Para o MPT, a recusa individual e injustificada não pode colocar em risco a saúde dos demais empregados.
CHINA
Medo de desabastecimento
Na segunda-feira (1o), o Ministério do Comércio da China pediu às famílias do país que mantenham em estoque itens para suas necessidades diárias, o que inclui armazenar alimentos. Novos surtos de Covid e chuvas excepcionalmente fortes elevaram as preocupações sobre a escassez de suprimentos. A imprensa local publicou listas de produtos recomendados para armazenar em casa, como macarrão instantâneo, vitaminas, rádios e lanternas. O medo público forçou a mídia estatal a tentar acalmar os temores na terça-feira (2). Segundo a Agência Reuters, o Economic Daily, jornal apoiado pelo Partido Comunista, disse aos internautas que o objetivo da diretiva era garantir que os cidadãos não fossem pegos desprevenidos. A China mantém a política de Covid Zero, para eliminar do território todos os casos da doença, o que leva o país a implementar restrições extremas, levando a desequilíbrios econômicos e aumento de preços.
PAGANDO PELA CRISE
A criança e o risco ambiental
No próximo dia 20, sábado, a Unicef comemora o Dia Mundial da Criança. Levantamento feito pela organização, por meio do Índice de Risco Climático das Crianças (CCRI), mostra quantos jovens no mundo estão expostos a riscos, choques e estresses climáticos e ambientais. Para a Unicef, criança é todo ser humano com menos de 18 anos. Há 2,4 bilhões de pessoas nesta faixa.